Guadalupe Carniel: Fútbol Para Todos?

Agora é oficial. O programa Futbol para Todos não existirá a partir do dia 1º de janeiro de 2017. Tudo confirmado pelo secretário geral da presidência, Fernando De Andreis, nesta quinta-feira (27) em pronunciamento em TV aberta ao meio-dia. Todos imaginávamos, já que Macri havia se reunido na última semana com o presidente da Comissão Normalizadora e do Racing, Fernando Marín.

Por Guadalupe Carniel*

Vinheta do Futbol para Todos

Andreis afirmou que "todos poderem ver futebol não quer dizer que é grátis".Ou seja, a partir de agora os clubes podem negociar a transmissão das partidas com emissoras nacionais ou internacionais. Não só não veremos mais os jogos como víamos antes aqui no Brasil com facilidade, como também não serão mais exibidos em emissoras abertas por terras porteñas. Ok. Todos sabemos que há um custo. Mas o futebol é algo cultural, faz parte do povo e tirá-lo é absurdo.

Mas e o que acontecerá com o futebol argentino, já que a coisa vai além da exibição dos jogos? Segundo Fernando De Andreis "se os clubes deixassem de financiar as dívidas através da AFA, tudo se solucionaria em 80%". Ele foi além e disse que há sérios problemas de corrupção e que o dinheiro deveria ser devolvido e tudo feito de forma transparente. A tensão entre dirigentes e AFA está cada dia maior, já que os clubes têm dívidas que passam os 1,3 bilhão de pesos e irregularidades com a associação. E pra piorar, agora sem financiamento do Estado, um programa kirchnerista, que foi uma das principais promessas da campanha de Macri, seguir com as transmissões e o financiamento até 2019. Só que nem o governo, nem a AFA ou dirigentes passam confiança e transparência. E essa história é antiga.

Há cerca de dois meses, liderados por Daniel Angelici, presidente do Boca, os principais clubes da Primeira Divisão e da Nacional B (Segunda Divisão) criaram a Superliga que deve ter seus estatutos prontos em no máximo dois meses e deve começar a funcionar em 2017. Um detalhe: Boca e River terão cadeira cativa na comissão desta liga. A Superliga solicitou o final do contrato do Fútbol Para Todos (FPT), programa criado no governo Cristina Kirchner para televisionar a primeira divisão de maneira gratuita. A alegação é que recebem pouco dinheiro do Estado e que assim, os milhões de pesos gastos pelo governo poderiam ser gastos em saúde, educação. O governo acatou de imediato a solicitação.

Com esse pedido formal dos clubes, a AFA pode negociar os direitos televisivos com empresas privadas, principalmente estrangeiras, através de licitações para conseguirem mais verba. E parece que já tem um candidato a comprar os direitos: Ted Turner, criador da CNN e que possui negócios na Patagônia, ofereceu cerca de 3,2 milhões de pesos anuais. O interesse de Turner foi reforçado na visita de Barack Obama nesse ano à Argentina.

Atualmente o futebol custa cerca de U$ 200 milhões ao ano. Calcula-se que sua venda geraria no máximo U$ 20 milhões, além da publicidade que gira em torno de U$ 20 milhões, fechando em U$160 milhões de prejuízos anuais.

Só que nem todos estão de acordo. Principalmente os clubes de menor expressão e os do interior, que alegam que o abismo entre eles e os ditos grandes pode aumentar. Tanto que nesse final de semana antes da partida entre Atlético Tucuman e Boca, torcedores entraram com duas bandeiras contra a Comissão Normalizadora que agora regula a AFA e contra Macri. Claro que, assim como aqui no Brasil, as faixas não foram exibidas na TV, mas fotos rodaram pelas redes sociais.

O futebol pode não ser a principal preocupação do Estado e nem deve. Mas por ele passa uma série de questões culturais, e isso transcende o esporte. Cortar o programa do nada é absurdo. Os únicos clubes que concordam com isso, são os grandes afinal, eles tem como se manter, tem nome, são uma marca vendável. Mas e como ficam os pequenos que viam no Fútbol para Todos uma pequena chance de conseguir visibilidade, patrocínios? A questão é: como fica o futebol argentino? E ele realmente é para todos?