Ni una Menos:Mulheres ocupam ruas contra violência e perda de direitos

Os protestos contra o assassinato brutal da argentina Lúcia Peres continuam no Brasil. Foram realizados atos em São Paulo (dia 24), no Rio de Janeiro, ocorrido nesta terça-feira (25), e está previsto mais um em Belo Horizonte nesta quinta-feira (27). A presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Lúcia Rincón, vê as manifestações como “o firme posicionamento das mulheres contra a violência e em defesa de políticas públicas que garantam os direitos conquistados”.

Por Railídia Carvalho    

Ni una Menos Rio de Janeiro - Mídia Ninja

De acordo com pesquisas, a igualdade de gênero levará décadas para ser alcançada, o que significa que durante muito tempo as mulheres serão submetidas à condições desiguais em relação aos direitos e oportunidades que usufruem os homens.

A violência de gênero é uma marca deste cenário e o assassinato de Lúcia Peres, que foi estuprada e empalada em Mar Del Plata, na Argentina, no dia 15 de outubro, mostra que o feminicídio é uma questão central. 

Mar del Plata, Rio de Janeiro, Castelo do Piauí e Bom Jesus, no Piauí, são alguns dos recentes e chocantes casos de violência contra a mulher, os três últimos registrados no Brasil. De acordo com o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registra um estupro a cada 11 minutos.  A expressão “Ni una menos” (Nenhuma a menos em português) foi adotada nos atos no Brasil. O nome se refere  ao coletivo que organizou a paralisação nacional na Argentina, que reuniu milhares de mulheres denunciando o caso de Lúcia e a violência de gênero naquele país.  
Luto é luta
Em São Paulo e no Rio de Janeiro um movimento de mulheres latino-americanas denunciou a violência histórica e cotidiana.

"Vamos para a rua, com nossos balões e com nossas roupas pretas, porque estamos de luto sim. O luto das mulheres não é o luto que se cala. Não é um luto que vai chorar sozinha em casa. É um luto que chora, mas chora junto, chora lutando. O nosso luto é luta”, afirmou manifestante em relato ao Mídia Ninja durante o ato no Rio.
 

“É um momento de posicionamento firme das mulheres em defesa de uma vida em condições de igualdade, em defesa de uma vida sem violência e em defesa de políticas públicas que preservem e garantam condições das mulheres buscarem a sua própria defesa”, declarou Lúcia ao Portal Vermelho. A UBM é uma das entidades participantes da organização dos atos. 
Para ela, ao lado da solidariedade e da repulsa à violência, as mulheres se mostram ativas, atuantes em um cenário de ataque aos direitos sociais.  “As mulheres afirmam que não aceitam mais essa violência, não ficamos mais passivas. É um posicionamento que fortalece o combate ao retrocesso das políticas públicas que vivemos atualmente”, completou Lúcia.
Retrocesso
Segundo a dirigente da UBM, a primeira reunião do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) coordenada pela secretária de políticas para mulheres, Fátima Pelaes, indicada por Michel Temer, demonstrou que as conquistas das mulheres da última década estão sob risco. “O controle social neste governo está correndo risco assim como as nossas políticas”, emendou Lúcia.
 
O encontro foi realizado há duas semanas após cobrança de entidades do movimento social. Lúcia, que é conselheira do órgão, informou que o governo Temer, até aquele momento, não havia dado parecer ao CNDM sobre as resoluções da 4ª Conferência Nacional de Elaboração de Políticas para as Mulheres, realizada em maio deste ano.
 
“Nesta reunião conseguimos nos apropriar da primeira elaboração dos resultados da conferência, o que permite ao conselho, enquanto controle social, atuar de forma fundamentada e firme em favor da execução das políticas discutidas”, ressaltou Lúcia. De outro lado, segundo ela, a reunião demonstrou que do lado do governo não havia uma apropriação do tema.
A reorganização institucional foi outra pauta do debate no CNDM. “É necessário que o Conselho se reúna para apontar uma regularidade no trabalho do controle social, particularmente neste momento em que a característica desse governo é de encaminhar projetos de lei e medidas que retiram verbas e subsídios das políticas e de setores que vinha ganhando espaço nos últimos 12 anos”, defendeu.
PEC da Morte

Nesta terça-feira (25), a Câmara dos Deputados aprovou em segundo turno por 359 a 116 votos a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, apelidada de PEC da Morte. Na prática, os deputados aprovaram a redução dos recursos orçamentários que viabilizam direitos sociais, como saúde, educação e assistência social. A proposta congela as despesas nessas áreas por 20 anos e será encaminhada ao Senado para votação em dois turnos. 

SERVIÇO

O Ato Ni Una Menos acontece em Belo Horizonte nesta quinta-feira (27) a partir das 18h, na prça Afonso Arinos. Clique aqui para acessar o evento