Estudantes que ocupam o Estadual Central sofrem ameaças de agressões

Estudantes de Belo Horizonte que ocupam o Colégio Milton Campos, mais conhecido como Estadual Central, denunciam ameaças de agressões por outros alunos da escola pelas redes sociais. As suspeitas são de que os alunos teriam sido insuflados a usar de violência contra os membros da ocupação por dois homens não identificados que estiveram no colégio na tarde da última segunda-feira (24).

Por Mariana Viel, da redação do Vermelho-Minas

Ocupação estadual Central 1 - Mídia Ninja

Um evento criado através do Facebook e marcado para as 7 horas da manhã desta quarta-feira (26) incita abertamente a violência “Vai rolar cadeirada, convide seus coleguinhas”, diz a página “O Grêmio Não Me Representa”. Alguns dos comentários da página afirmam “é pra chegar geral chutando a porra das barracas”, “vamos com uns rojões, tomate e faca”.

De acordo com a tesoureira do Grêmio Abre Alas, Bruna Helena, o evento de desocupação é claramente uma ameaça de agressão contra os estudantes. Diante da ameaça de violência o grêmio organiza também para amanhã um ato público contra a tentativa de criminalização dos movimentos sociais e estudantis.

Já estão mobilizados para participar da atividade representantes das Comissões de Direitos Humanos da ALMG e da OAB. “Vamos realizar um ato de solidariedade pelo estudante do Colégio Santa Felicidade, de Curitiba, no Paraná, encontrado morto dentro da ocupação na segunda-feira”, explica Bruna. “Nosso objetivo é fazer um contraponto pacífico diante dessa onda de ódio.”

Ocupa Central

Cerca de 30 jovens ocupam o Colégio Estadual Central desde o último dia 6 outubro contra a reforma no ensino médio promovida pelo governo ilegítimo do presidente Michel Temer através da Medida Provisória 746. Os estudantes também protestam contra a PEC 241 que propõe o congelamento por 20 anos dos investimentos federais em saúde e educação.

Ao longo dos quase 20 dias de ocupação os estudantes realizaram uma série de debates para esclarecer a comunidade acadêmica sobre os impactos das recentes propostas do governo federal. Também realizaram diariamente programações culturais e de lazer com o objetivo de integrar o espaço acadêmico à vida e realidade dos alunos. Os estudantes também se organizam e dividem-se em grupos de trabalho para manter a ordem e a limpeza dentro da instituição.

Em todo o país mais de 1070 escolas e 80 universidades federais foram ocupadas contra o desmonte da educação pública. Ao mesmo tempo em que o movimento em defesa da educação pública brasileira cresce, também aumentam as denúncias de que grupos alheios à comunidade acadêmica estão patrocinando a violência nas escolas ocupadas.

Garantia Constitucional

Segundo o advogado do Grêmio Abre Alas e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, Daniel Deslandes deToledo, as ocupações estudantis são pacíficas e garantidas pela Constituição da República. “Recebemos com muita preocupação denúncias sobre um evento organizado pelas redes sociais, por pessoas ainda não identificadas, com o objetivo de promover a remoção violenta dos manifestantes do colégio.”

“Sabemos de outros acontecimentos parecidos, como o caso do Paraná, em que organizações criminosas incentivaram o ódio contra os estudantes. Não toleraremos esse tipo de ameaça, e já estamos tomando as providências policiais e judiciais cabíveis”, enfatiza o advogado.