Pesquisador encontra registro de ataque a moinho de vento em 1594

O pesquisador Javier Escudero localizou, em meio aos Arquivos Diocesanos da cidade espanhola de Cuenca, registros de um homem que atacou um moinho de vento no município de El Toboso, entre 1594 e 1595 – assim como o fez o personagem fictício Dom Quixote de la Mancha no livro “O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha”, escrito por Miguel de Cervantes e publicado entre 1605 e 1615.

Estátua Dom Quixote - M.Peinares/FlickrCC

O documento mostra que Agustín Ortiz, filho de um cavaleiro da Ordem de São João e considerado a “ovelha negra” de sua família, atacou o edifício destruindo com sua espada uma cruz de madeira que se encontrava pendurada na parede.

Segundo as testemunhas do incidente, Pablo López e Pedro de Morales, que denunciaram Ortiz à Inquisição pelo episódio quatro ou cinco anos depois, o ataque teria sido cometido após o filho do cavaleiro ter um desentendimento com ambos.

Eles também disseram aos inquisidores terem tentado avisar Ortiz de que estava cometendo um erro — da mesma forma que Sancho Pança, escudeiro de Quixote, tenta avisar o cavaleiro de que ele cometia um erro atacando moinhos, pensando serem gigantes.

Ortiz acabou sendo julgado e preso, mas foi solto após pagar a fiança de três mil maravedis, moeda da época.

Escudero pesquisa há mais de dois anos documentos que contenham rastros de pessoas e histórias reais usadas por Cervantes para criar Dom Quixote e suas aventuras. Até o momento, ele encontrou pelo menos 30 desses personagens, que viveram no final do século 16.

“Praticamente todas as histórias que aparecem nos 20 primeiros capítulos do Quixote são feitos reais”, disse Escudero. Segundo ele, os a maioria das histórias reais utilizadas por Cervantes para criar as aventuras de seu cavaleiro dizem respeito às famílias Ortiz, Villaseñor — cujo um dos membros interferiu a favor de Agustín no episódio do moinho — e Acuña.

“Hoje podemos dizer que [Cervantes] é um autor que se baseou em fatos reais para sua história. Isso é o que eu acho, é uma hipótese”, afirmou Escudero. Nesse sentido, para ele, Cervantes teria sido “fiel à realidade e fiel à [região da] Mancha”.

“O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha” é o mais importante romance espanhol. Dividido em duas partes, publicadas pela primeira vez em 1605 e 1615, conta as aventuras de Dom Quixote (Alonso Quixano), um homem que decide se tornar cavaleiro andante após ler novelas de cavalaria em excesso; de seu cavalo desnutrido, Rocinante; e de Sancho Pança, um lavrador que, mesmo sabendo dos delírios de Quixote, aceita ser seu escudeiro ao ser prometido uma ilha para governar.