Edil Pacheco mandou dizer que a Bahia tá viva ainda lá 

Pense você nos principais nomes da música brasileira e, sem medo de errar, afirmo que a música do baiano Edil Pacheco tocou a todos. Clara Nunes, Chico Buarque e João Nogueira gravaram obras dele, que continua comovendo gerações. O percussionista e compositor paulista Paulinho Timor produziu em outubro uma temporada do baiano em São Paulo. A figura de Edil se agigantou em shows e rodas de samba, recuperando parte da memória da música da Bahia…que tá viva ainda lá.  

Por Railídia Carvalho  

Edil Pacheco no espaço cachuera outubro 2016 - Reprodução facebook

O Portal Vermelho conversou com Edil no dia seguinte à última apresentação dele em São Paulo na roda de samba do grupo Inimigos do Batente, do qual Paulinho Timor é fundador. Acessível e com aquele sotaque comovente, Edil está com os cabelos branquinhos nos seus 71 anos. 

Explicou que o Timor fez uma coisa inédita: um show só com músicas de Edil e parceiros. “Paulinho confiou no meu taco e me trouxe pra são Paulo. Eu gostei muito porque o show montado foi uma coisa específica relacionada ao meu trabalho de compositor. A iniciativa dele me deixou muito contente”, contou Edil. 
Timor tem 34 anos e desde os 14 anos frequenta rodas de samba, ambiente responsável pela formação dele de batuqueiro e compositor. Passa algumas temporadas na Bahia, onde se tornou amigo do lendário músico Riachão. E foi ano passado em uma homenagem a Riachão na democrática Cantina da Lua que conheceu Edil. Um parêntese para a Cantina da Lua, bar e espaço cultural antológico do não menos popular e carismático Clarindo Silva. Edil foi visitar Clarindo e conheceu Timor. Foi um pulo pra São Paulo.
O show “Edil Pacheco: Afro, Afoxés e Outros sambas” aconteceu no Espaço Cachuera no dia 7. Ele foi acompanhado pelo grupo Os Bambas de Sampa, que reúne uma geração de jovens músicos que preservam a tradição das rodas de samba e da canção brasileira. São eles e elas: Paula Sanches, Flora Popovicc, Mariana Furquim, Paulinho Timor, Trio Gato com Fome, Marcelo Homero, Caê Rolfsen, Alann Abaddia, Cacá Sorriso, André Piruka, Miró Parma, Fabricio Alves e Koka Pereira.
Time armado, Edil tocou e cantou em São Paulo um repertório de rara beleza, entre elas Ara-keto (c/Paulo César Pinheiro), Ijexá, Coração Valente (c/Roque Ferreira), Siriê (c/Paulo Diniz), Terreiro de Jesus (c/ João Bosco e Francisco Bosco) e Na Paz do Congá (c/Canário). É descomunal a força de Edil interpretando as próprias canções.
Edil é cria de uma escola que gerou na Bahia Batatinha, Riachão e Ederaldo Gentil. Conheceu todos eles e se emociona, sobretudo, quando fala do sambista baiano Ederaldo Gentil, falecido em 2012 após um longo período afastado da carreira artística.  
“Ninguém escreveu melhor que Ederaldo: O Ouro e a Madeira, De menor, Impressão digital, Identidade: são obras-primas. Ederaldo era genial, era um compositor fantástico, um amigo maravilhoso. Ele tem uma música chamado cimento fraco, que é uma maravilha”, se derramou Edil. “Teve um ano que Ederaldo fez nove sambas enredos pra todas as escolas”.
A música da Bahia, Edil (na foto à esquerda) sabe de cor e salteado. E não só. Quem esteve no Ó do Borogodó no dia 11 de outubro presenciou o jogo de cintura de Edil (foto) na roda de samba. Quando se fala do repertório de Paulinho da Viola, o baiano se derrete. 
O sambista carioca e Edil se conhecem desde o final dos anos 60 e mantém amizade até hoje. Edil lembrou que naquele tempo quando Paulinho ia a Salvador ficava na casa dele. “Tinha terminado de comprar o apartamento e não tinha box. Eu saí cedo para trabalhar e um dia quando voltei o Paulinho tinha comprado uma cortina de plástico”, divertiu-se Edil.

A recepção paulista deixou Edil tão feliz e querendo retribuir. Disse que vai levar "uma enxurrada de paulistas" para as comemorações que ele organiza em torno do dia 2 de dezembro, dia nacional do samba.  

Ano passado, quando completou 70 anos, Edil lançou o sétimo disco da carreira com o título de Mel da Bahia, a música é parceria com João Nogueira. Em São Paulo mostrou estar em grande forma, no canto e no violão. Quem esteve no Espaço Cachuera ou nas rodas do Samba do Sol e dos Inimigos do Batente pôde se assombrar com o carisma do homem. Edil é a música brasileira que vive na Bahia. Axé!

Assista a Música Ara-Keto, interpretada por Edil Pacheco e Os Bambas de Sampa no Espaço Cachuera em São Paulo no dia 7 de outubro