Brasil teve maior taxa de desemprego da América Latina, aponta Cepal

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) prevê retração de 0,9% no Produto Interno Bruto da região em 2016. Segundo a entidade, diante da recessão, a taxa de desemprego chegou a 9,2% no 1º semestre, ante 7,6% em igual período de 2015. Paralisado pelo boicote à gestão de Dilma Rousseff e agora sob o comando de Michel Temer, o Brasil teve a pior taxa da região para o período – 12,4% de desempregados, um aumento de 3,5 pontos percentuais em relação ao 1º semestre de 2015.

emprego - Arisson Marinho/AGECOM

Relatório divulgado pela Cepal nesta quarta (19), em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), projeta que a taxa de desemprego na América Latina deverá atingir 8,6% este ano, ante 7,4% no ano passado, tornando-se a maior desde 2009 (9,2%).

"Ainda que esse desempenho negativo esteja fortemente influenciado pelo Brasil, todos os outros países da América do Sul com informação disponível, exceto o Peru, também tiveram aumentos em sua taxa de desemprego", afirmam a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, e o diretor regional da OIT, José Manuel Salazar.

A segunda maior taxa de desemprego na região, no último semestre, é a da Colômbia, com 10,9% – um avanço de 0,5 ponto na comparação anual. O terceiro lugar ficou com a Costa Rica, com uma taxa de 9,5%, uma queda de 0,5 ponto percentual.

"Por trás dos dados regionais, escondem-se importantes heterogeneidades. Na primeira metade de 2016 foram marcantes as diferenças a respeito da evolução da taxa de desemprego urbano entre as sub-regiões de América Latina e Caribe", diz o relatório. "Cabe assinar que o maior aumento do desemprego se verificou no Brasil (mais de 3 pontos percentuais). Tendo em conta o peso desse país na medição regional, é óbvio que houve grande impacto na taxa correspondente à América Latina e ao Caribe em seu conjunto."

Os dados negativos sobre o Brasil se chocam com o discurso do governo Michel Temer. Durante o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, as forças que sustentaram o golpe apostaram no caos econômico para fragilizar a gestão da petista. Também ignoravam a crise global e atribuíam à presidenta toda a culpa da turbulência, como se as dificuldades fossem apenas do Brasil.

Os números da Cepal comprovam que a situação é complicada para todos, embora pior para o Brasil, que se viu paralisado pela crise política e que no pós-impeachment aprofunda a recessão com medidas de ajuste. Mas, sob Temer, o governo se esforça para vender a ideia de que o país começou a “entrar nos trilhos”, embora os números digam o contrário.

Segundo a Cepal, o emprego assalariado recuou 0,4% na primeira metade do ano, com influência, mais uma vez, do Brasil, além da Venezuela. "Apesar disso, entre os dez países com informação disponível a respeito, ainda que prevalecessem situações de fraca demanda trabalhista, essa contração não foi generalizada", apontam Cepal e OIT. "Por outro lado, a expansão do trabalho por conta própria foi um fenômeno mais generalizado", acrescentam as entidades, citando alta de 3,6%.

De acordo com o informe, houve fraco crescimento do emprego concentrado no setor terciário (comércio e serviços), enquanto a manufatura (indústria) teve forte contração. Na agropecuária também houve redução, com menos intensidade. "Na maioria dos países também se contraiu o emprego na construção, como reflexo do enfraquecimento da demanda interna", dizem as entidades, ressalvando, nesse último item, "importante aumento" registrado no México.

O relatório destaca ainda a influência negativa da economia sobre a renda. Em alguns países, como Chile, México, Nicarágua e Uruguai, houve altas em torno de 1% na comparação anual. "Por outro lado, no Brasil e na Colômbia (indústria manufatureira) os salários caíram em termos reais, com magnitude entre 1,5% e 4%, respectivamente, em um contexto de aumento da inflação em ambos os países, acompanhado de marcante contração da demanda trabalhista no caso do Brasil."