Lu Castro: O chutão como padrão

Nesta sexta-feira (21), o Mundial Feminino Sub17 chega ao fim. As seleções do Japão e Coreia Popular farão a final no Estádio Internacional de Amman a partir das 15 horas com transmissão do Sportv 2 e Band.

Por Lu Castro*

Símbolo do Mundial Sub-17 da Jordânia

Ambas as finalistas desta edição são campeãs: Coreia Popular em 2008, no Mundial da Nova Zelândia e Japão em 2014, no Mundial da Costa Rica.

Esta foi a 4ª participação brasileira na competição, repetindo a campanha de 2008, quando não passou da primeira fase. Em 2010 e 2012, nossa seleção feminina caiu nas quartas-de-final e em 2014 não esteve presente.

Faço este resumo histórico para pontuar a participação brasileira na competição.

Desde 2014, a CBF mantém as seleções femininas coordenadas tática e tecnicamente pelo ex-auxiliar técnico da Ferroviária de Araraquara, Fabrício Maia. A ideia do trabalho de um coordenador é dar um padrão para as equipes de base e principal e o desempenho da seleção feminina sub17 no Mundial da Jordânia, evidenciou este “padrão”.

Com apenas uma vitória na fase de grupos, as meninas sob o comando do técnico Luizão, se despediram do Mundial deixando dúvidas quanto ao que esperar da formação da nova geração de futebolistas brasileiras.

Batendo na tecla da base – a minha já meio desgastada de tanto sofrer bruscos toques na tentativa de chamar a atenção para sua importância – é imprescindível que o profissional destacado para esta função tenha mais que apego ao cargo.

Ele precisa estar imbuído de uma responsabilidade que nas seleções femininas não se cobra com tanto rigor quanto se cobra de um formador das seleções de base masculinas.

Convém reforçar que este não é o caso do Luizão e falo especificamente do padrão vinculado ao trabalho da coordenação.

Com uma atacante isolada e um meio de campo sem liga, dependendo de talentos individuais e sem a aproximação necessária para o toque de bola, apelou-se para o famigerado “passe longo”. Trocando em miúdos: chutão. O mais preguiçoso dos expedientes. O mais irritante e a mais contundente prova de mediocridade.

E nem dá pra dizer que não tivemos tempo de preparação. A competição já estava no calendário, acontece desde 2008 e o Brasil teve participação na edição de estreia, ou seja, já sabe que deve ter um trabalho de base focado para chegar e disputar o Mundial.

O lado bom foi observar o trabalho da goleira Kemelli e sua boa participação na competição. Com 3 gols sofridos e 2 marcados, o Brasil teve um saldo razoável se observado seu grupo: Coreia Popular, Inglaterra e Nigéria.

Ainda assim questiono o trabalho da coordenação técnica, muito em razão do que tivemos o desprazer de ver na disputa pela medalha de bronze diante do Canadá na Arena Corinthians. Uma atuação pra lá de horrorosa, com o coordenador desesperado na beira do campo. Sintomas óbvios de quem quer mostrar um talento que não domina: a tática.

Para isso, recomendo o livro do meu amigo Dárcio Ricca e sua análise profunda sobre a evolução tática em “De Charles Muller à Gorduchinha – A evolução tática do futebol em 150 anos de história”.

Some-se a isso, a queda no ranking da Fifa a que submeteram a seleção brasileira por suas atuações indignas da história das nossas mulheres do futebol. Um verdadeiro crime, além do “padrão chutão”.

Não somos o futebol europeu. Não podemos retroceder e tomar como base de trabalho, esquemas que nos desqualifiquem tão gravemente. E chutão, meus caros, é um dos expedientes que mais repudio.

O Mundial Sub20 está chegando e será uma oportunidade excelente para verificar se o técnico Doriva segue sua linha ou se o padrão Fabricio Maia será mantido.