BC promove corte "tímido" e taxa de juros fica em 14% ao ano

Como era esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual. Assim, a Selic – que estava desde julho de 2015 em 14,25% – recua para 14% ao ano, patamar ainda muito elevado, que mantém o Brasil como recordista de juros no mundo. A decisão, que aconteceu nesta quarta-feira (19), foi unânime. A última queda na taxa de juros havia sido há quatro anos. Trabalhadores, empresários e economistas cobram corte maior.

Copom

Em um cenário no qual a produção industrial teve queda de 3,8% e a taxa de desemprego chegou a 11,8% da População Economicamente Ativa (PEA) em agosto, o Banco Central confirmou a expectativa do mercado financeiro e optou pela tímida diminuição da Selic. Juros altos significam crédito mais caro, o que desestimula o consumo e a produção, prejudicando a atividade econômica em um momento de profunda recessão.

O Banco Central argumenta que toma as decisões sobre a taxa de juros tendo como objetivo cumprir as metas de inflação previstas pelo sistema em vigor no país. Mas diversos economistas têm ressaltado que a inflação verificada no Brasil não era motivada por uma demanda e, portanto, não seria resolveria com juros altos, que, na atual situação, só beneficiam bancos e rentistas.

Em comunicado, o Banco Central informou entender que a convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018, de 4,5%, é compatível com uma política de corte de juros "moderada e gradual".
"O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5%", acrescentou.

De acordo com a autoridade monetária, o ritmo do processo de redução dos juros, nos próximos meses, e uma "possível intensificação", dependerão de evolução favorável de fatores que permitam maior confiança no alcance das metas em 2017 e 2018.

Mais uma vez, o Copom condicionou uma redução mais forte na Selic à aprovação de medidas de austeridade fiscal. A pressão explicita que a autoridade monetária atua, sim, de forma política.

"O Comitê destaca os seguintes fatores domésticos: que os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada; e que o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a convergência da inflação para a meta", informou.

Mesmo com a redução da Selic, o país se mantém como campeão isolado no ranking mundial de juros reais (descontada a inflação). Com os juros básicos em 14% ao ano, a taxa real soma 8,49% ao ano. A Rússia, que possui o segundo lugar na lista dos juros mais elevados, tem uma taxa de 4,27% ao ano.

Além de dificultar uma retomada do crescimento da economia, os juros altos ainda têm impacto sobre as contas públicas, ampliando as despesas com juros da dívida pública. Segundo o G1, atualmente, mais de R$ 600 bilhões em dívida em mercado estão atrelados à taxa básica de juros da economia. “A estimativa é de que um corte de 0,25 ponto percentual na Selic reduza essa despesa em R$ 1,5 bilhão em 12 meses”, diz o portal. 

Repercussão

O vice-presdiente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nivaldo Santana, classificou a redução da taxa de juros como "tímida" e destacou a atuação "conservadora" do Banco Central. "A redução da taxa de juros é premissa essencial para reverter o quadro recessivo e abrir novas perspectivas para os trabalhadores do país. Para isso, é preciso redução profunda da Selic. A timidez da decisão do Copom mostra que a marca conservadora do BC continua firme e forte", afirmou.

A Força Sindical também se pronunciou no mesmo sentido, avaliando que o Banco Central "acertou no remádio, mas errou na dose". Para a central, a redução de 0,25% é insuficiente. 

Em uma nota dura, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, avaliou que "faltou coragem ao BC para um corte maior".  Segundo a entidade, a autoridade monetária "não se preocupa com os 12 milhões de desempregados". "Isso é lamentável!”, concluiu Skaf.

Ele lembrou que, em janeiro, a inflação acumulada em 12 meses era de quase 11%, e a Selic era de 14,25% ao ano, ou seja, a taxa de juros real era de 3,85% ao ano. Com a expectativa para os próximos 12 meses de uma inflação de 5%, isso eleva a taxa de juros real para 9% ao ano, o que afasta o consumo e investimentos.

De acordo com o economista Paulo Kliass, em artigo publicado no Vermelho esta tarde, é necessário analisar com certa cautela e reserva a notícia da nova Selic.

"O BC nada tem feito para reduzir os spreads e os custos financeiros embutidos nas operações de crédito. Muito pelo contrário, estudos têm demonstrado que os bancos públicos estão praticando taxas até mais elevadas que os seus pares do setor privado. Mais ainda, se a inflação está mesmo com tendência de queda, estaria aí outro argumento forte para acelerar ainda mais a queda da Selic, pois a taxa real de juros estaria sendo elevada. O governo nada faz nessa direção. Apenas martela o discurso monotônico do corte de despesas", escreveu.