Sem divulgação de áudios ou espetáculo, Moro prende Eduardo Cunha

Na decisão do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, apresenta como uma das justificativas para decretar a prisão preventiva do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) o fato de que a perda do mandato não foi suficiente para prevenir a atuação do ex-parlamentar em obstruir a investigação.

LM_Eduardo-Cunha-levado-para-sede-da-Policia-Federal-Curitiba - Lula Marques/AGPT

"Embora a perda do mandato represente provavelmente alguma perda do poder de obstrução, esse não foi totalmente esvaziado, desconhecendo-se até o momento a total extensão das atividades criminais do ex-parlamentar e a sua rede de influência", explicou Moro.

Mas os fatos revelam uma conduta muito diferente, comparando com as ações anteriores da Lava Jato. Às vésperas da votação do pedido de admissibilidade do impeachment contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, o mesmo juiz Sérgio Moro divulgou ilegalmente o conteúdo de grampos de conversas privadas entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente

Para justificar a divulgação do conteúdo da gravação de Lula, Moro disse que Lula estaria obstruindo as investigações. Mas depois admitiu a violação em ofício encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), em março, em que pede “escusas” à Corte e disse que a divulgação de áudios não teve intuito “político-partidário”.

“O levantamento do sigilo não teve por objetivo gerar fato político partidário, polêmicas ou conflitos, algo estranho à função jurisdicional, mas, atendendo ao requerimento do MPF, dar publicidade ao processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista jurídico e criminal do investigado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem eventualmente caracterizar obstrução à Justiça ou tentativas de obstrução à Justiça”, disse Moro, que decretou a prisão coercitiva de Lula em um verdadeiro show midiático com direito a busca e apreensão em sua residência.

Agora, ao decretar a prisão preventiva de Cunha, a conduta é bem diferente. Ele foi preso no apartamento funcional da Câmara, que ainda está desocupando apesar de ter perdido o mandato em maio. Vale ressaltar que coincidentemente seu advogado estava com ele antes da chegada da polícia para prendê-lo.

Preso, Cunha foi gentilmente conduzido a uma base área, sem algemas e longe da exposição das câmeras de TV. só faltou um tapete vermelho. Viajou para Curitiba onde continuou cercado de proteção. Cunha chegou e os jornalistas só puderam filmar a passagem do carro. Durante transmisão ao vivo, a jornalista da Globonews se assustou com a passagem do comboio que trazia Eduardo Cunha.

Na condução coercitiva de Lula, os cinegrafistas estavam devidamente posicionados para assegurar a transmissão das images da chegada e saída do ex-presidente. Além de ter a sua casa ocupada por policiais para busca e apreensão.

Moro negou negou o pedido para o cumprimento de mandado de busca e apreensão de provas no endereço de Cunha. A tradicional coletiva de imprensa feita pela PF após a operação também não aconteceu.


E nota, Cunha classificou a prisão como "uma decisão absurda, sem nenhuma motivação e utilizando-se dos argumentos de uma ação cautelar extinta pelo Supremo Tribunal Federal".

Segundo ele, a referida ação cautelar do Supremo, que pedia a sua prisão "foi extinta e o juiz, nos fundamentos da decretação de prisão, utiliza os fundamentos dessa ação cautelar, bem como de fatos atinentes à outros inquéritos que não estão sob sua jurisdição, não sendo ele juiz competente para deliberar". Ele informa que vai recorrer para derrubar a decisão de Moro.

Enquanto isso, a imprensa insiste na tese de que a prisão de Cunha é uma desmonstração de que "foi preso um peixe graúdo" e, portanto, a tese de seletividade da Lava Jato não tem fundamento. Ao mesmo tempo, especulam sobre uma possível delação de Eduardo Cunha, que geraria uma preocupação ao governo de seu aliado Michel Temer.