Cláudio Mota: Brasil à direita, hora de reposicionar a esquerda

O baque foi grande, revelado após os resultados do primeiro turno das eleições municipais de 2 de outubro. O simbolismo mais significativo ficou no maior partido da esquerda da América Latina: O PT, que liderou mudanças importantes no Brasil, a partir de 2003, e influenciou transformações no Continente.

Por Cláudio Mota*

Manifestação na Avenida Paulista - Mídia Ninja

Pelos números do TSE, o Partido dos Trabalhadores reduziu 60,9% em relação a 2012, com derrotas em cidades tidas como “redutos petistas”. Caiu de 17,4 milhões para 6,8 milhões de votos, nas vagas ocupadas pelo partido de votos, entre prefeitos e vereadores.

Há uma necessidade de fazermos uma reflexão marxista (e não pragmática) dos fenômenos e fatos que levaram o País a virar à direita. Ela ainda é a nossa principal ferramenta teórica para analisar as contradições que a luta política entre as classes produz na sociedade. Como tudo se relaciona, observamos recentemente a onda conservadora flertar em alguns países da América Latina, refletindo aqui também. Outro aspecto decorrente dessa tese é que os partidos aliados do PT também não escaparam de serem atingidos por esses respingos, colocando toda a esquerda em sinal de alerta.

Fazer autocrítica

A dialética marxista também nos mostra como é essencial o exercício permanente da crítica e da autocrítica. Essa deve ser feita inicialmente sobre a condução da política que melhorou a vida de milhões de brasileiros em 13 anos, mas que se fragilizou no período mais recente.

Houve uma subestimação do papel e do jogo das forças políticas ligadas às elites. Teve-se a ilusão de que contemplar todas classes sociais seria suficiente para evitar uma reação dos conservadores ao movimento de ascensão social no País. Eles até toleram, por certo tempo, conviver com determinada situação. Mas, reagem quando veem muito perto a redução das desigualdades e, por sequência, da diferença entre as pessoas.

A política do PT com os aliados pecou por conta de sua postura hegemonista. Quem é do movimento sindical sabe da falta de habilidade em vários momentos para dividir espaços importantes de poder e os bônus pelos acertos. Isso ficou claro em diversas votações durante o segundo mandado do governo Dilma Rousseff. Muito mais ainda na votação do impeachment. Faltaram votos, dos aliados.

Também não houve a politização e a propaganda necessárias sobre as políticas aplicadas e seus resultados importantes para vida das pessoas. Tanto que programas importantes como Minha Casa, Minha Vida, ProUni, Pronatec, Fies, Mais Médicos, entre outros, não foram suficientes para fazer milhões de pessoas engrossarem os atos contra o golpe que se consumou.

Se reposicionar

Nesse novo quadro de ofensiva conservadora, é essencial que o PT, a esquerda e os movimentos sociais progressistas se reposicionem perante a população. Se reposicionar é construir uma imagem positiva (como quero ser visto?) e se diferenciar novamente das outras forças políticas.

Reposicionamento é o que você faz com a mente de seu público potencial. Mas, na política não pode ser algo artificial. Precisamos recuperar duas características do nosso DNA: 1) análise científica da realidade, observando os movimentos de quem está como aliado pontual, mas que não perdeu suas veias elitistas e; 2) ligação mais forte e sempre reflexiva com os coletivos sociais que representam os que mais precisam.

Temos que nos perguntar como anda essa vinculação com o conjunto da população? É frágil ou consistente? Com está a ação política individual dos militantes e dirigentes? E a ação coletiva das organizações onde atuamos? Será que não houve uma burocratização de quadros experientes nas máquinas e uma renovação frágil de lideranças? O nosso discurso (nas mídias, nas redes, nos jornais, no carro de som) está sendo capaz de politizar e mover nossas bases de atuação? Nos espaços de poder (governos, ministérios, secretarias, sindicatos, entidades de massa) estamos atuando para consolidar políticas avançadas e uma consciência crítica da população?

Novos desafios 

Após isso, é fundamental, nessa necessária reorganização da ação política da esquerda, identificar quais são as novas oportunidades para atuar melhor e reverter a situação. A nossa atuação em um quadro adverso já tem novos desafios: a luta contra as perversidades do governo golpista de Michel Temer, que aprovou a PEC 241 para congelar gastos com educação e saúde por 20 anos; a reformas da Previdência, estipulando a mesma idade para todo mundo se aposentar, prejudicando especialmente mulheres e professores, além da reforma trabalhista.

*Cláudio Mota é jornalista, publicitário e responsável pelo blog Axé Com Dendê

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