PCdoB e PSB em Pernambuco: Perseverança para ampliar a unidade 

O jogo político no Brasil tem forte componente estadual e o PCdoB deve explorar isso, desenvolvendo alianças locais que se projetem diretamente no principal palco politico da luta de classes hoje, o Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, a partir da política nacional que nos orienta, não engessando a atuação nos estados, para tirar proveito de todas as contradições desse próprio jogo político. Nesse sentido, no atual momento, a PEC 241 é um divisor de águas.

Por Marcelino Granja

Bandeira do PCdoB em caminhada com Lula - Mariana Serafini

É uma das peças fundamentais do programa econômico do golpe de estado e a reação das diversas forças políticas e sociais à mesma embaralha o jogo político nos estados, em plena batalha do segundo turno das eleições de prefeito. É o caso aqui em PE.

O PSB pernambucano votou contra a PEC 241. O Governo Temer jogou pesado e, confrontando o Governador Paulo Câmara e o Prefeito do Recife Geraldo Júlio, exonerou dois ministros (das Cidades e das Minas e Energia) para substituir os suplentes ligados ao Governador e diminuir os votos contra a PEC.

Já o grupo do Senador Armando Monteiro, aliado do PT na eleição do Recife (indicou o Vice de João Paulo, Sílvio Costa Filho, filho do Deputado Sílvio Costa) votou com o Governo Temer, a favor da PEC 241.

O PSB, marcado recentemente por dois erros políticos graves, o apoio a Aécio no segundo turno presidencial e o voto da maioria de sua bancada federal no impeachment, confronta-se agora com o governo Temer em uma batalha estratégica.

O golpe de estado entra agora na sua fase de tentar, e vem conseguindo, concretizar o seu programa regressivo, de reimplantação do neoliberalismo e da ordem política e social anterior à Constituição de 1988.

A grande questão que se coloca é como arregimentarmos forças capazes de barrar esse intento e fazer o País retomar o seu caminho de desenvolvimento. Não tenhamos dúvida da extrema necessidade de construirmos uma ampla frente política em defesa do Brasil: da sua soberania, da Petrobras, da Enga. Nacional, da C&T, da democracia e da inclusão social e regional. E nessa frente cabem muitos aliados, dos mais firmes aos mais vacilantes e temporários.

Também está claro que o PT e PCdoB, sozinhos, não conseguiremos resistir. O Psol não conta muito, não conseguiu apoiar os governos de Lula e Dilma! Nem os governos progressistas do PCdoB e PT nos estados e municípios, nem com o voto nas eleições, como agora no segundo turno.

Nossas alianças levam em conta o histórico das relações construídas com as forças envolvidas. O presente e seus desdobramentos futuros. É o que acontece agora.

O PSB Pernambucano é um partido progressista e democrático. Seus principais líderes, o Governador Paulo Câmara e o Prefeito do Recife Geraldo Júlio, da mesma forma que o Ex-Governador Eduardo Campos, não são liberais, são desenvolvimentistas, defendem o estado forte e voltado para combater as desigualdades sociais e regionais.

Por outro lado, a resultante política do impeachment foi contra o PSB. Dos quatro ministros de PE, um é do PPS, aliado incondicional do PSDB e do DEM, dois são dos próprios DEM e PSDB, o outro é o filho do Senador Fernando Bezerra. O Senador e os ministros do DEM e PSDB estão em campanha para o governo em 2018. A dinâmica politica amplia objetivamente as contradições entre o Governo Temer e o PSB de Pernambuco e exige de nós nos afastarmos de raciocínios esquemáticos.

Por isso, nesse momento de extrema dificuldade para o campo progressista, de avanço das forças conservadoras, são muito importantes essas pontes que o PSB tem com as forças de centro. Daí a importância de o PCdoB e a esquerda valorizarem o papel que o PSB, e também o PDT, podem jogar daqui pra frente, em meio às contradições decorrentes da ação do Governo Temer e dos realinhamentos políticos que assistiremos até 2018. Claro, não sabemos se teremos sucesso. Mas, se ficarmos isolados, nós e o PT, já sabemos que perderemos.

É uma questão de concepção politica, que tem a ver com o objetivo estratégico da conquista do Socialismo. Aprendemos com a dureza da luta de classes que alcançar esse estágio civilizatório é muitíssimo difícil, ainda mais na atual correlação de forças em plano mundial e no Brasil, que é uma longa luta de muitas fases e aproximações, o que exige uma tática política de acumulação de forças ampla e flexível.

As alianças não são concessões, são necessidades da nossa luta, do seu estagio momentâneo, dos objetivos intermediários ao objetivo maior. Temos 94 anos nessa senda. Já sofremos muitos revezes. Vencemos outras tantas batalhas. Perdemos quando nos isolaram (ou nos isolamos). E ganhamos quando fizemos frentes amplas. Liderando algumas, liderados noutras.

O PCdoB não se pautará pela impaciência do PSB em ocupar açodadamente os espaços perdidos pelo PT, desconsiderando-o como força destacada do campo progressista e, às vezes, até negando o legado de conquistas em comum alcançadas pelo Brasil e Pernambuco.

Também não se pautará pelo exclusivismo e hegemonismo petista, causa endógena maior que nos custou o Governo da Presidente Dilma. Em Pernambuco, envolto em suas intermináveis disenções, o PT perdeu a condição de liderar as forças progressistas já em 2006, culminando com uma luta fraticida entre 2009 e 2012. Não fosse a liderança agregadora do Ex-Governador Eduardo Campos e a ajuda do PCdoB, as forças conservadoras já teriam chegado ao Governo do Estado e à Prefeitura do Recife. Sem ver seus próprios erros, acusa histericamente o PSB de “golpista” e não apresenta uma saída aos impasses que nos são postos.

Durante o processo do impeachment, quando ficou claro, no início deste ano, que não estávamos reunindo forças para barrá-lo, o PT não apresentou uma saída nem deixou prosperar nossa proposta de plebiscito para novas eleições, o que seria capaz, em tempo hábil, de aglutinar forças, que, de alguma forma, poderiam se descolar da aventura do impeachment. Em nenhum momento valorizou a posição do Governador Paulo Câmara de se posicionar contra o impeachment em reunião dos Governadores do NE e na recepção à Presidente Dilma no estado, em ato explícito de defesa do seu governo. Continuou combatendo o PSB pela sua posição na eleição presidencial, sem ver a evolução do quadro, numa posição de ressentimento, que não procura estabelecer nenhuma ponte de diálogo capaz de ajudar a enfrentar a luta posta.

Agora, o PT é pressionado internamente a "voltar às origens", a ser Psol e PSTU, que já estão no presente, o que não ajuda a ampliar as alianças da esquerda com o centro político, sem o que não conseguiremos derrotar o intento principal do golpe: restabelecer o neoliberalismo e a ordem politica e social anterior à CF de 1988.

A aliança do PCdoB com o PSB em Pernambuco é uma aposta contra o isolamento da esquerda e um caminho para reaglutinarmos as forças políticas de centro, com as quais o PSB tem bom trânsito e capacidade de aglutinação muito maior que nós e o PT.

É preciso termos paciência para capitalizar politicamente para nosso próprio crescimento. Especialmente quando há forte divisão no campo progressista, como nos últimos quatro anos, aqui em PE, e também, em alguns momentos, pouco reconhecimento dispensado pelos aliados ao papel do PCdoB. No entanto, não devemos adotar uma tática oportunista. Nossa referência é o interesse do povo e da Nação. E “a unidade é a bandeira da esperança!”.