“MPF vai comprovar o que já sabemos”, diz filho de Carlos Marighella

O filho do dirigente comunista baiano Carlos Marighella, que tem o mesmo nome do pai, considerou positiva a decisão do Ministério Público Federal (MPF), anunciada recentemente, de investigar as condições da morte do guerrilheiro, 47 anos depois. Carlos Marighella Filho pondera, no entanto, que o MPF só vai comprovar o que a família já sabe: Marighella foi assassinado pela ditadura militar brasileira.

Carlos Marighella Filho - Foto: PCdoB/BA

“Não resta dúvida que meu pai foi assassinado brutalmente e de que as ordens partiram das altas ordens militares”, garante. O filho lembra que o caso já foi analisado pela Comissão de Mortes e Desaparecidos da Ditadura, que reconheceu o assassinato, e que a família já chegou até a ser indenizada pelo Estado brasileiro, por conta das violações.

O efeito da investigação do Ministério Público será, pelo que acredita Marighella Filho, no sentido de aumentar na sociedade a repulsa pelo autoritarismo. “A sociedade entende isso como uma necessidade. Essa apuração deve seguir e vai levantar o véu do silêncio. Conhecendo os responsáveis, que a gente possa aumentar a repulsa por esses regimes”.

Marighella Filho espera, também, que a iniciativa possa desencadear em investigações sobre outras vítimas da ditadura, principalmente as que ainda não tiveram os corpos encontrados. Ele

 lembra da Guerrilha do Araguaia e da luta das famílias dos jovens desaparecidos, que ainda buscam informações que levem aos restos mortais dos entes.

“No caso do Araguaia, sequer a gente se tem notícias dos agentes que praticaram as mortes edos corpos. As famílias querem enterrar seus parentes porque essa é a nossa cultura e esse é um direito que as pessoas têm”, explica. O corpo de Marighella foi enterrado em Salvador, no Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, e a lápide é uma obra do arquiteto Oscar Niemeyer.

Marighella Vive

A lembrança de Carlos Marighella que o filho guarda é de “um homem muito corajoso e muito lúcido politicamente”. “Ele foi morto porque ficou no Brasil e resolveu enfrentar a ditadura. Uns diziam que seria algo provisório, mas ele sabia que era um golpe fascista e buscou enfrentar. Aquilo foi um ato de coragem”.

A família busca viabilizar o tombamento da casa onde morou Marighella, em Salvador, e transformar o espaço em um memorial sobre a vida e a luta do dirigente comunista, mantendo, assim, viva a sua memória. “Marighella é uma síntese da luta pela ditadura”, finaliza o filho.

De Salvador,
Erikson Walla