Governo sem voto tenta comprar popularidade com o dinheiro do povo

Esta semana, o governo ilegítimo de Michel Temer começa uma campanha publicitária que, no lugar de dar visibilidade aos atos governamentais, como prevê a lei, serve tão somente ao propósito de tentar exterminar as forças políticas que lhes são contrárias.

Por Jandira Feghali, no Blog do Noblat

Michel Temer, presidente - Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Como principal slogan essa campanha traz a ideia de retirar o país do vermelho, que gera dupla interpretação, pois faz referência direta às correntes de esquerda que se identificam com essa cor. A eliminação do pensamento divergente é um raciocínio típico do fascismo, só digno daqueles que não conseguem conviver com a alteridade.

Se não bastasse ser uma peça ilegal, porque utiliza recursos e a máquina pública para fazer propaganda contra adversários políticos e beneficiar aliados em meio a uma campanha eleitoral, esse anúncio é mentiroso. Uma rápida análise dos números apresentados desmonta a farsa apresentada por esse governo sem voto, que tenta a qualquer preço conseguir uma legitimidade que sabe não ter.

Somente um governo voltado aos interesses do mercado e, não do povo, pode considerar fato gravíssimo aumentar a destinação de recursos à educação. Em seu anúncio farsesco, a peça publicitária aponta como um dos erros graves dos governos de Lula e Dilma “inflacionar” o orçamento da Educação em 285% entre 2004 e 2014. Para eles, educação é problema, não investimento no futuro do país.

Em outra falácia, o anúncio afirma que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestou, a juros subsidiados, 8,3 bilhões de dólares para a realização de obras no estrangeiro. Omitem que esses empréstimos foram para empresas brasileiras que decidiram investir no exterior, e com a condição de contratar mão de obra e insumos no Brasil.

Em mais um ataque ao banco, que nos últimos governos serviu para financiar o desenvolvimento nacional, afirmam que a instituição endividou o Tesouro Nacional em R$ 323 bilhões para realizar empréstimos a empresas de grande porte. Realmente, a partir da crise internacional de 2008, o governo fez aportes ao BNDES, mas os financiamentos foram para empresas de todos os tamanhos, inclusive as grandes, para garantir o dinamismo da economia brasileira e a geração de empregos.

Agora o governo golpista quer que o banco pague antecipadamente R$ 100 bilhões desses empréstimos, com o único objetivo de descapitalizar a instituição. Ao que parece, Temer deseja que o BNDES volte a exercer o papel que desempenhava nos governos de Fernando Henrique Cardoso – apenas financiar as privatizações.

Em outros pontos, a publicidade ilegal do governo Temer acusa a presidente anterior de deixar grandes dívidas. Entre elas, R$ 54,3 bilhões em obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Não poderia ser maior a discrepância com a realidade. Os restos a pagar do PAC, na verdade, eram de R$ 5,6 bilhões em obras realizadas. Outros R$ 43,4 bilhões referiam-se a serviços contratados, mas não executados. Ainda assim, a soma daria R$ 49 bilhões e, não, R$ 54,3, como afirmam.

Repetem também a cantilena de que o governo do PT quebrou a Petrobras e foi responsável pelos prejuízos que a empresa sofreu nos dois últimos anos. Ignoram, de propósito, que essas perdas deveram-se à queda brutal do preço do petróleo no mercado internacional. Em junho de 2014 o barril do produto era vendido a 115 dólares, já em janeiro de 2015 custava apenas 37 dólares. Não precisa saber matemática para entender que uma petrolífera, nesse cenário, dificilmente teria ótimos resultados.

Acusam ainda os governos anteriores de não concluírem obras de infraestrutura, como a transposição do São Francisco, pavimentação de rodovias e construção de ferrovias. Quanto ao São Francisco, destaca-se que de 2005 a 2015 o Governo Federal investiu R$ 9,5 bilhões e deixou o trabalho inacabado. Esquecem apenas de mencionar que a obra está 90,5% concluída e havia recursos para sua finalização esse ano, mas esse governo reduziu à metade os trabalhos.

Para qualquer governo de direita falar em ferrovias no Brasil parece piada. Até o início dos governos de Lula e de Dilma, o assunto não era sequer discutido, e o país perdeu 28 mil quilômetros de vias férreas. Ao ser alijado da presidência, o governo deixou prontos mais de 1,9 mil quilômetros de ferrovias.

Enfim, com a reprovação de 70% da população brasileira, esse governo golpista tenta comprar com o dinheiro público uma popularidade que nunca vai ter. Vai continuar sendo um governo sem votos e com cada vez menos legitimidade, porque, além de resultar de um golpe, tenta se manter por meio de mentiras.