Centrais defendem frente ampla após resultado negativo nas urnas

O resultado das eleições deste domingo (2) fortaleceu o debate em favor das reformas trabalhista e previdenciária de Michel Temer e de iniciativas legislativas que violam o cumprimento de direitos assegurados pela Constituição de 1988. A avaliação é de dirigentes da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Força Sindical que também vêem na formação de um frente ampla em defesa dos direitos o caminho para barrar o retrocesso.

Por Railídia Carvalho  

Assembleia dos trabalhadores pela garantia dos direitos

Adilson Araújo, presidente da CTB, observou que o resultado das urnas beneficiou os ricos. “O poder econômico loteou a política e se apropriou dos espaços de decisão. Evidentemente que isso faz coro com o intento golpista que deseja suplantar direitos assegurados pela lei e acabar com as conquistas do último período”.

A eleição do empresário João Dória (PSDB) em São Paulo no primeiro turno revelou a força do poder econômico na eleição majoritária. Pesquisa divulgada pelo portal G1 mostrou que entre os 37 prefeitos eleitos no primeiro turno no país, 23 declararam possuir patrimônio de um milhão de reais ou mais.

O resultado aumenta o desequilíbrio – em favor dos empresários – na queda de braço entre governo e trabalhadores. João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical confirmou que as forças conservadores que querem as reformas se fortaleceram. “Nós já somos minoria no Congresso, nestas eleições houve mais perda de capacidade eleitoral. Isso fragiliza a ação dos trabalhadores”, afirmou.

Para Adilson, o “conluio entre mídia e judiciário” serviu para desequilibrar a disputa municipal. Na opinião dele, as ações da operação Lava Jato durante a campanha foram decisivas contra o Partido dos Trabalhadores (PT), por exemplo.

“O desemprego crescente, o uso seletivo da Lava Jato, criminalizando, prendendo e condenando pessoas que, até que se prove o contrário, teriam direito à presunção da inocência. Isso foi temperando a eleição municipal”, disse Adilson.

Atuação programática desfavorável

O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) avaliou que o resultado das eleições é preocupante mesmo sem ter efeito imediato sobre as bancadas federais ou nos governos municipais.

“Há uma sinalização muito clara de restrição a um campo, digamos, mais de centro esquerda enquanto há um fortalecimento de outros partidos de visão que ainda não se conhece bem, com exceção do PSDB, que tem posição definida”, ressaltou o diretor do Dieese.

“Saem fortalecidos nos âmbitos municipais o PSDB e Temer e as políticas de Estado mínimo, aumento da participação privada no setor público, um forte esforço de mudar o padrão regulatório com mudanças que atingem a constituição, as áreas trabalhista e previdenciária. Observa-se nestas forças que saíram vitoriosas um esforço muito grande de restringir o curso do estado brasileiro”, completou Clemente.

Balanço e resistência

Fazer um balanço e extrair lições para apontar novos caminhos. É a conclusão do presidente da CTB sobre o atual quadro político. Para ele, o país encerrou um ciclo e está diante de um período de retrocessos, que busca se consolidar.

“O ciclo que se inicia é extremamente conservador que carrega más intenções no sentido de precarizar, de flexibilizar direitos sociais e trabalhistas e conduzir uma agenda privatista e que atenda o interesse do capital estrangeiro”, comparou. Segundo Adilson é hora de repensar a esquerda e construir uma frente ampla que dialogue com a sociedade.

Juruna compartilha da mesma opinião de Adilson. Para ele o isolamento corporativo na defesa dos trabalhadores não amplia o debate. “Eu creio que as centrais tem que fortalecer a unidade de ação mas é preciso também buscar aliados no Congresso, nas universidades, artistas, intelectuais. Não podemos ficar isolados”, defendeu.

“Quando a gente se vê em uma situação de perigo faz com que a gente se movimente, mas tem que ter uma presença nos locais de trabalho, distribuindo os jornais do sindicato, incentivando os trabalhadores junto com os delegados, com os que participam das cipas, fazer esse trabalho na base para que tenhamos o trabalhador do nosso lado para que acabemos falando sozinhos”, sugeriu Juruna.

Imprensa sindical

Na opinião dos dois dirigentes a imprensa do movimento sindical tem papel fundamental na mobilização da sociedade em torno da defesa dos direitos. Adilson defendeu a criação de uma publicação de alcance nacional com as pautas dos trabalhadores para fazer o contraponto à ofensiva dos meios de comunicação.

“Vamos ter que voltar a aprofundar o diálogo sobre que tipo de comunicação precisaremos para fortalecer a mídia alternativa. O movimento sindical precisa repensar de que forma vai usar os seus recursos já que detêm uma certa estrutura”, ressaltou Adilson.

Clemente Ganz enfatizou a necessidade de o movimento sindical liderar o debate sobre a retirada de direitos nas bases de trabalhadores e também nos diversos segmentos da sociedade.

“Não há outra alternativa senão resistir apresentando o debate público, sobre os motivos, as divergências em relação a essas iniciativas que sinalizam retirada de direitos. É necessário fazer um esforço para que o debate ganhe presença pública para que a sociedade possa entender o que está acontecendo”.