Penélope Toledo: Futebol e política se misturam sim

Um ex-goleiro e um ex-presidente do Clube Atlético Mineiro vão disputar segundo turno em Belo Horizonte. Um jornalista esportivo foi o vereador mais votado em Goiânia. Em Porto Alegre, um ex-jogador foi para o seu terceiro mandato consecutivo. Como se vê, futebol e política se misturam sim.

Por Penélope Toledo

Futebolistas que se candidataram a vereador em SP e não se elegeram

A relação entre futebol e política se dá em diversos os âmbitos: na participação de representantes do futebol na política geral, nas pautas relativas ao esporte que são encaminhadas, discutidas e decididas pelos Poderes Executivo e Legislativo, na própria política dos clubes etc.

“Bancada da bola” e Ministério

Além dos casos citados – João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS) em BH, Jorge Kajuru (PRP) e seus 37.796 votos em Goiânia e Tarcíso Flecha Negra em Porto Alegre – há inúmeros outros ex-jogadores, ex-dirigentes, jornalistas esportivos e integrantes de torcidas organizadas na política geral.

Um exemplo é a “tabelinha” entre os dois heróis do tetra de 94, Bebeto (Solidariedade) e Romário (PSB), que foram deputados estadual e federal do RJ, respectivamente. O último, entretanto, não demonstrou o mesmo talento dos gramados e deu bola fora ao votar a favor do golpe contra a ex-presidenta Dilma Roussef, agora senador.

Também já teve ídolo de futebol no Ministério e na Secretaria dos Esportes. Arthur Antunes Coimbra, o Zico, foi secretário de Desportos da Presidência da República de março a abril de 1991, enquanto Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, foi ministro de Estado do recém-criado Ministério Extraordinário do Esporte, entre 1995 e 1998.

E não é só no Brasil. O presidente argentino Mauricio Macri (PRO), por exemplo, presidiu o Boca Juniors, clube mais popular do país, em 1995. Também popular, o Milan é presidido e foi propriedade do ex-primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi.

Pautas do futebol fora e dentro dos clubes

A relação entre futebol e política também se dá na medida em que os assuntos futebolísticos se desenrolam nos Poderes Executivo e Legislativo. A CPI da Máfia do Futebol, instaurada em 2016 na Câmara dos Deputados para investigar os cartolas brasileiros indiciados no escândalo de corrupção da Fifa, é um exemplo.

Também são exemplos o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003.), sancionado pelo ex-presidente Lula e a Lei Pelé (Lei 9.615/1998), também conhecida como Lei do Passe Livre, que em 1998 revogou a Lei Zico (Lei nº 8.672/ 1993). Questões como a concessão a consórcios administrativos e privatização dos estádios são igualmente temas de interseção entre futebol e política.

Há, ainda, a política interna dos clubes, que inclui todas as decisões referentes a ele, desde a participação na escolha dos dirigentes (leia o artigo A necessária democracia no futebol e na sociedade), até o preço dos ingressos e produtos, contratação de jogadores, patrocínio e contratos com emissoras de TV, dentre outros.

Limite tênue

A mistura entre futebol e política deve ser feita com cautela. Um clube não pode ser beneficiado em detrimento dos demais, assim como o torcedor não pode ter os seus interesses esquecidos, porque a maioria da “bancada da bola” é composta por dirigentes e ex-jogadores.

Também é importante que amor ao clube não seja usado para conquistar votos. Enquanto a escolha por um clube ou um ídolo no futebol é passional, as decisões políticas, por afetarem a vida de milhares de pessoas, precisam ser racionais e conscientes.

E apesar deste limite tênue, têm sido. No maior colégio eleitoral, ex-ídolos como os corintianos Marcelinho Carioca (PRB) e Tupãzinho (PSB), o são-paulino Waldir Peres (PRP) e os palmeirenses Ademir da Guia (PHS) e Tonhão (PCdoB), não foram eleitos. A mesma situação aconteceu com ex-ídolos de muitos clubes pelo país.

Nada contra serem eleitos, desde que seja por seus projetos e propostas.