Documentário “Meninas” mostra casos de gravidez precoce

Evelin tem 13 anos e está grávida de um ex-traficante. Aos 15 anos, Luana diz que planejou sua gravidez. Edilene, 14 anos, espera um filho de Alex, que também engravidou Joice. O documentário Meninas, de Sandra Werneck, que tem pré-estr

Após a exibição do documentário, haverá debate sobre gravidez precoce reunindo a ministra Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; a diretora do filme e Guilherme Canela, da Agência de Noticia dos Direitos da Infância (ANDI).
 

Segundos dados estatísticos, uma em cada cinco gestantes no Brasil é adolescente. Por trás desses dados, existem muitas perguntas que o documentário procura responder como a relação entre gravidez precoce e estratificação social, convicções religiosas e erotização da infância, entre outros pontos, avalia Sandra Werneck.

O documentário acompanha a gravidez de Evelin (13 anos), Edilene (14), Luana e Joice (15), moradoras de áreas populares do Rio de Janeiro. Uma câmera capta os momentos de descoberta, dilemas e conflitos das garotas, seus namorados e familiares, assim como o silêncio e a inação que caracterizam esse momento de expectativa em suas vidas.

"Eu espero que este filme, além de um documentário interessante do ponto de vista cinematográfico, seja um instrumento de reflexão para a sociedade", afirma a diretora, que retorna à direção de documentários depois de sucessos de ficção como Pequeno Dicionário Amoroso e Cazuza – o Tempo não Pára.

Histórias entrelaçadas

No dia em que completa 13 anos, Evelin descobre que está grávida de seu namorado, um rapaz de 22 anos que acaba de se desligar do tráfico de drogas para o qual trabalhava na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde vivem. A gravidez não a impede de continuar sendo a garota de sempre.

A possibilidade de um aborto nem passou pela cabeça de Luana, 15 anos, quando ela descobriu que estava grávida. Órfã de pai, Luana vive com quatro irmãs e a mãe em uma casa onde só há mulheres. Desde cedo ajuda a mãe a criar as irmãs mais novas, e há meses vinha alimentando a idéia de ter um filho "só para ela".

Edilene não planejou nem evitou sua gravidez. Tampouco o fez sua mãe. Agora, mãe e filha estão grávidas. Edilene espera um filho de Alex, por quem é apaixonada. Alex engravidou ao mesmo tempo sua vizinha, Joice, de 15 anos. Edilene, aos 14 anos e grávida, já vai viver o drama de um triângulo amoroso.

Meninas-mães

A diretora descreve "o solo desse filme é delicado – são meninas esperando filhos, enquanto brincam de bonecas, acrescentando que "o subsolo é trágico: o quadro habitual no Brasil é o da menina que engravida, geralmente despreparada, abandona a escola e reduz suas perspectivas de vida. O novo pai, por sua vez, segue em frente, engravida outra menina, que vai ficar sozinha também. A primeira acaba se juntando a outro rapaz, que a engravida de novo e também a deixa sozinha… O resultado são todas essas casas cheias de mulheres e seus filhos, sem a presença da figura paterna".

Para Sandra Werneck, "contra isso não basta distribuir camisinhas. O Brasil precisa pensar na questão do planejamento familiar. É uma loucura botar cinco ou dez filhos no mundo sem ter condições de criá-los e educá-los de verdade. Para além de qualquer plano assistencialista, é preciso cuidar seriamente da educação, a começar pelas futuras mães. É preciso mostrar-lhes o que significa ser mãe. Para muitas, ter filhos é simples questão de status ou a realização de um sonho vago que não sabem exatamente o que é", avalia.

Dados preocupantes

As estatísticas apontam uma incidência crescente da gravidez na adolescência em todo o mundo. No Brasil, a proporção de partos entre adolescentes tem sido cada vez maior. Segundo o IBGE, a taxa de mulheres grávidas entre 10 e 19 anos cresceu 27% entre os anos de 1991 e 2000. Em 1991, de cada 1.000 mulheres nessa faixa de idade, 29,47 ficaram grávidas. Em 2000, a incidência foi de 37,59 mulheres em cada 1.000.

Esses números autorizaram um demógrafo do IBGE a estimar, a pedido da produção de Meninas, a ocorrência de mais de 628.000 adolescentes grávidas em 2005 (mantendo-se a mesma taxa de fertilidade de 2000). Supondo-se um crescimento de 15% na taxa, chegaríamos a um total superior a 723.000 partos entre adolescentes.

Está comprovado que a maioria das adolescentes grávidas pertence às classes populares. O parto é a primeira causa de internação de adolescentes no SUS. Segundo estudos, as adolescentes que engravidam são geralmente filhas de mães que também iniciaram sua vida sexual ou engravidaram precocemente.

De Brasília

Márcia Xavier