Guadalupe Carniel: Palestino e seu feito épico

Uma equipe que tem um bom elenco, participando de uma competição internacional vence fora de casa por 1 a 0 um time considerado pequeno e tem o returno em casa. Uma situação confortável e fácil, certo? Essa era a realidade do Flamengo. Mas futebol nunca foi uma ciência exata. E foi assim que o Palestino conseguiu reverter o resultado, vencendo por 2 a 1 o rubro-negro e avançando para a próxima fase da Sudamericana.

Por Guadalupe Carniel*

Palestino

Todos acreditavam que o Flamengo passaria sem dificuldades pelo Palestino já que era um dos favoritos ao título. A única equipe chilena que se classificou para as quartas-de-final, contra todos os prognósticos, conseguiu um resultado épico.

O time carioca decidiu jogar com equipe mista e alegou que a competição era tão importante quanto o brasileiro, já que sua última conquista internacional foi a Mercosul em 1999. Mas não foi o que demonstrou em campo, não parecia o mesmo time dos últimos tempos, em que venceu seis das últimas sete partidas que disputou. Jogou no contra-ataque dando espaços para os chilenos. Sendo assim, o Palestino manteve boa posse de bola.

Aos 32 minutos, o time do Chile abriu o placar com Cereceda. A equipe se manteve firme, jogando muito bem (nem parecia a mesma equipe que disputa os torneios nacionais). No final do primeiro tempo, Valencia que também foi destaque do jogo, chutou de uma distância de 35 metros do gol e fez um golaço.

No segundo tempo o Flamengo acordou e foi para cima, descontou com Alan Patrick, de penal, aos 20 do segundo tempo. O Palestino teve que se segurar como pode, jogou de forma inteligente e conseguiu parar o rubro-negro, principalmente com Farias, que cobriu muito bem a defesa.

Uma equipe chilena de origem palestina fundada em 1920 (sim, o Chile é o país latino americano que abriga a maior comunidade palestina do mundo, fora do Oriente Médio, com cerca de 350 mil pessoas), conseguiu realizar um feito épico de derrotar o Flamengo no Brasil.

Para quem não se lembra do clube, ele já esteve envolvido numa polêmica em 2014, com um conflito Israel-Palestina no futebol. Aconteceu no jogo entre Nublense e Palestino válido pelo campeonato chileno.

O time de origem palestina colocou na sua camisa, ao invés do número tradicional, o algarismo "1" desenhado a partir do mapa antigo da Palestina, de 1948, quando ainda não havia Estado de Israel. Segundo o presidente, a estampa foi adotada para estreitar os laços com as origens do clube, não somente com os chilenos.

Ainda completou “Estamos em um país onde temos a liberdade de expressar nossa opinião, assim como os clubes judeus no Chile, e no mundo também, se manifestam em favor do Estado de Israel, e isso não causa polêmica”.

Porém a comunidade judaica não deixou este fato passar em branco. Gabriel Zaliasnik, ex-presidente da Fraternidade Chileno-Israelense entrou com recurso para a desclassificação do Palestino e rebaixamento para a Segunda Divisão. E completou dizendo que se não fosse atendido, levaria a solicitação até a FIFA. Segundo a comunidade judaica, "estão fomentando o ódio".

A federação de Futebol Chileno disse que só poderia punir o time se fosse solicitado por algum clube da Primeira Divisão. E foi feito. Pelo Nublense. O maior acionista do clube, Patrick Kiblisky, de origem judaica, denunciou e alegou que a equipe estava fazendo uma "ligação perigosa" entre política e futebol e que nada tem a ver com a sua ascendência. A equipe de origem árabe foi multada em cerca de 3 mil reais e, proibida de usar o número estilizado naquela camisa, voltando a usar o número "1" tradicional.

Agora o Palestino aguarda o vencedor do confronto entre San Lorenzo e Deportivo La Guaira para seguir lutando pela taça continental.