Jamil foi o primeiro deputado a chegar no massacre do Carandiru

A decisão do desembargador Ivan Sartori em absolver os Policiais Militares envolvidos na morte de 111 detentos no Massacre do Carandiru, alegando "legítima defesa", causou espanto na sociedade. O vereador Jamil Murad (PCdoB-SP), na época deputado estadual, foi o primeiro parlamentar a chegar no local e relembra os momentos de tensão.

Jamil foi o primeiro deputado a chegar no massacre do Carandiru

Confira abaixo o depoimento:

"Fui o primeiro deputado estadual a chegar na Casa de Detenção naquele fatídico dia 02 de outubro de 1992. Na porta falavam que havia tido uma rebelião num dos pavilhões, especificamente no 9. Não sabiam quantas pessoas tinham morrido até então, uns falavam 8 outros 12, mas depois quando conseguimos falar com os presos os relatos eram de barbárie absoluta, um verdadeiro massacre que assassinou 111 pessoas.

Falei com os presos e fiz um relato para a Assembleia Legislativa buscar e punir os responsáveis. Fui o proponente da CPI, mas o governador Fleury articulou para me deixar fora e mesmo assim continuei as investigações de maneira independente.

Continuamos querendo justiça!"

O massacre 

Conhecido como um dos episodios mais sangrentos da história da penitenciária mundial, o presidio do Carandiru, localizado na capital paulista, foi palco no dia 2 de outubro de 1992 de uma briga envolvendo dois grupos rivais, culminando em uma rebelião. 230 policiais da Rota, Gate, 30 Choque e Cavalaria, além de bombeiros, posicionaram-se em frente ao Pavilhão 9 e decidiram invadir o local.

Durante a tomada do Pavilhão 9, os presos optaram pela rendição e dirigiram-se para dentro das celas, desarmados. Com grande arsenal, os policiais -a maioria sem crachás de identificação- promoveram uma carnificina no local.

A perícia concluiu que 70% dos tiros foram dirigidos à cabeça e ao tórax, o que reforça a idéia de extermínio. Para escapar com vida, presos se misturaram aos colegas mortos.

Também não foi encontrado indícios de confronto no 3º e 4º andares, o que reforça a teoria de que o enfrentamento entre polícia e presos se deu principalmente nos pisos inferiores.