Farc e governo da Colômbia assinarão acordo de paz nesta segunda-feira

Os dirigentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) e o governo da Colômbia vão assinar o Acordo de Paz elaborado em Cuba nos últimos 4 anos nesta segunda-feira (26). A cerimônia vai acontecer em Cartagena das Índias, a quinta cidade mais populosa do país, e contará com a presença de chefes de Estado e autoridades do mundo, entre elas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Por Mariana Serafini

Acordo de paz na Colômbia - AFP

O documento será assinado pelo presidente Juan Manuel Santos e pelo comandante em chefe das Farc, Timoleón Jiménez, conhecido como Timochenko. A cerimônia que tem previsão de durar 70 minutos começará às 17 horas locais (19 horas no horário de Brasília), será transmitida em cadeia nacional e contará com a presença de mais de 2.500 pessoas.

A caneta usada para firmar o acordo é muito simbólica. Trata-se de um “balígrafo”, uma caneta produzida a partir do material de munições. “Nós criamos o que chamamos de balígrafo, que é uma bala convertida em uma caneta para dizer que esta é a transição das balas para a educação e ao futuro. E quero dar um ‘balígrafo’ de presente a cada um e com este ‘balígrafo’ vamos firmar o acordo de paz”, explicou o presidente em entrevista divulgada pelo gabinete.

Entre as autoridades presentes estarão o secretário geral da Unasul, Ernesto Samper, que é ex-presidente da Colômbia; além do secretário-geral da OEA, Luis Almagro.


O presidente do Equador, Rafael Correa, foi um dos primeiros a chegar na Colômbia 
 

Cerca de 15 chefes de Estado vão comparecer à cerimônia. O presidente do Equador, Rafael Correa, já anunciou sua chegada ao país hoje pela manhã e concedeu entrevista coletiva ainda no aeroporto. Os mandatários de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén e d o Panamá, Juan Carlos Varela também já chegaram para participar do evento histórico. Além deles, os presidentes do Peru e da Argentina, Pedro Pablo Kuczynski e Mauricio Macri, respectivamente, anunciaram que estão a caminho. 

A França enviou o secretário de Estado de Desenvolvimento e da Francofonia, André Vallini, como um “testemunho de apoio da França ao processo e ao acordo de paz”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.

O Brasil, por sua vez, enviará o ministro das Relações Exteriores, José Serra. O presidente Michel Temer alegou não ter espaço disponível na agenda para participar deste acontecimento histórico.

Depois de muitas tentativas de acabar com o conflito que dura cinco décadas, esta é a primeira vez que a Colômbia chega tão perto da paz. Os Diálogos de Paz, realizados em Havana, contemplaram a reparação às vítimas, a anistia aos crimes de guerra de ambas as partes e a transição da guerrilha à vida civil, sem armas.

Depois de assinado o acordo pelas duas partes, ele será submetido à votação popular. O Plebiscito pela Paz será realizado neste domingo (2) se o “sim” vencer, que significa o fim do conflito, as Farc terão 180 dias para fazer a transição completa à vida civil e ocuparão três cadeiras no Congresso Federal até as próximas eleições, quando terão o direito de concorrer como força política.

Há mais de cinco décadas o povo colombiano convive com este conflito que já deixou milhares de pessoas mortas, feridas e desalojadas. Atualmente a Colômbia tem 9 mil presos políticos. O custo da guerra é imensurável para o país, mas o povo está disposto a recomeçar e escrever uma nova história, livre da guerra.

Há porém quem tenha interesses efetivos nestes conflito. É o caso do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2002 – 2010) que faz campanha pelo “não” no Plebiscito pela Paz. Ele alega que acabar com o conflito é “perdoar o terrorismo”.

Durante a administração de Uribe, seis bases militares norte-americanas foram instaladas no país, fora as que já existiam e aumentaram seus contingentes militares. A alegação do então presidente era de “combater o terrorismo”. Com esta medida, milhares de pessoas inocentes foram assassinadas e despejadas de suas terras, simplesmente por terem o azar de estar na mesma região onde havia conflito entre a guerrilha e o governo.

Repercussão do acordo

Quando o acordo de paz foi anunciado, em agosto deste ano, teve grande repercussão em todo o mundo. Chefes de Estado parabenizaram os líderes das Farc e o presidente Juan Manuel Santos pela determinação e tolerância empenhadas neste processo.

Em declaração à 71ª Assembleia Geral da ONU na semana passada o presidente foi incisivo ao afirmar que a guerra em seu país terminou.


Em conferência, guerrilheiros aprovam acordo de paz anunciado por Timochenko 


As Farc, por sua vez, realizaram sua 10ª Conferência, a primeira aberta ao público em décadas. No mega-evento que contou com a participação de mais de 400 jornalistas do mundo todo os guerrilheiros aprovaram o acordo de paz elaborado ao longo destes últimos quatro anos em Havana.
Nesta segunda-feira (26) centenas de artistas colombianos celebram a assinatura do acordo nas redes sociais. Eles usam a hashtag #Peace4Colombia para manifestar apoio ao acordo.

Pelo Twitter Ernesto Samper; Luis Almagro; Kofi Atta Annan, ex-secretário geral da ONU; Christiane Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional; Michelle Bachelet, presidenta do Chile; Maurício Macri, presidente da Argentina; Pedro Pablo Kuczynski, presidente do Peru e outras autoridades celebraram o dia histórico.