Construção fecha 31 mil vagas em julho. Cadê a confiança?

A volta da confiança na economia só existe mesmo nos discursos da equipe econômica de Michel Temer. A realidade é muito distinta daquilo que diz o governo sem votos. Levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), mostra que o setor de construção civil cortou 31,1 mil postos de trabalho em julho, o que representou uma queda de 1,13% no nível de emprego em relação a junho.

Programa MCMV pode ter cota para trabalhadores da construção civil - campograndenews

De acordo com matéria da Agência Brasil, as maiores quedas ocorreram no Nordeste (-1,55%), seguido pela Região Sudeste (-1,42%). Apenas o Centro-Oeste apresentou alta (0,13%).

Trata-se da 22ª baixa consecutiva no saldo entre contratações e demissões no setor que tem atualmente 2,73 milhões de trabalhadores. No acumulado de janeiro a julho, foram fechadas 170,3 mil vagas. Em 12 meses, o número de empregos suprimidos soma 468,8 mil.

Contrariando o que o governo Temer tenta pregar, o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, foi taxativo ao apontar que o aumento do desemprego está relacionado à recessão, que permanece. Ele também destacou as barreiras à retomada do crescimento.

“Embora os empresários do setor estejam menos pessimistas em relação ao futuro desempenho das construtoras, a persistência dos juros altos, o desemprego, o declínio da renda das famílias e as restrições à concessão de financiamentos determinam a atual escassez de novos investimentos no setor”, afirma.


No que depender das medidas anunciadas até então pela gestão atual, o horizonte é de dificuldades. Grande parte das propostas apresentadas vão no sentido do corte de gastos públicos, inclusive em áreas como saúde e educação, e de retirada de garantias de direitos sociais – o que deve ter impacto negativo especialmente sobre a renda das famílias. 

Nesse sentido, é difícil imaginar de onde virá o crescimento alardeado pelo atual presidente, já que, ao que tudo indica, não será do gasto das famílias nem dos investimentos governamentais, tampouco há sinais de que se dará pelo setor externo – inclusive pela valorização e instabilidade do real. Ou seja, todas as fichas foram apostadas no setor privado, que, diante de um quadro recessivo, dificilmente correrá riscos.

Além do mais, com uma base frágil e fisiológica, o governo tem tido dificuldades de levar adiante plataforma tão impopular. E, confirmando que sua atuação tem muito mais de política que de técnica, o Banco Central já deixou claro que só deverá reduzir a taxa básica de juros da economia, após a aprovação da PEC 241 – que congela o crescimento das despesas públicas por 20 anos. 

Pressionado por todos os lados, o governo permanece patinando diante da impossibilidade de agradar a todos que cobram a fatura pelo apoio ao golpe. Para o presidente do SindusCon-SP, por exemplo, a gestão precisa se dedicar ao equilíbrio das contas públicas, sem deixar em segundo plano as medidas de reativação do setor, como a manutenção do Programa Minha Casa, Minha Vida, a promessa de retomar 1.600 obras públicas paralisadas e o estudo para elevar o valor dos imóveis financiáveis pelo FGTS, defende.