Lula: "Investir nos pobres para melhorar esse país, acabou o problema"

Em um bate papo com o jornalista Geraldo Freira, da Rádio Jornal, de Recife (PE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou de vários temas, entre eles, da saída para a crise econômica que o país atravessa, que segundo ele, é política. O ex-presidente criticou as medidas econômicas adotadas pelo governo Temer e pelo ministro Henrique Meirelles, disse que se fosse governo investiria nos pobres, no aumento do salário mínimo e em infraestrutura e não cortava gastos, como estão fazendo.

Lula entrevista

Lula disse que respeita, mas acha que Sérgio Moro tem uma teoria equivocada de justiça. O ex-presidente tratou ainda sobre sua relação com a rede Globo. Sobre a prisão "arbitrária" do ex-ministro Guido Mantega e da delação do empresário Eike Batista, Lula disse que teve pouco relação com o empresário durante todo o seu mandado. O ex-presidente contou a primeira vez que ficou sabendo quem era o empresário foi em um evento que participou que contaram para ele que Eike queria ser um dos mais ricos de toda América Latina.

Sobre a denúncia revelada nesta quinta-feira (22) pela imprensa Lula comentou: "Nem sei se ele disse isso mesmo, mas se ele fez, ele cometeu um crime, não sei se é verdade o que ele falou, até agora só soube a versão dele, não falei com o Guido [Mantega], mas é tanto disse que me disse", criticou.

Ao ser questionado pelo jornalista sobre a informação que se Lula fosse preso pediria asilo na Itália, o ex-presidente disse que não passa de mais um boato. "O único país no mundo que eu pediria asilo é Garanhuns", disse, brincando, sobre sua cidade natal em Pernambuco. "Isso é uma bobagem imensa (…), não há possibilidade nenhuma, não sei onde essa gente quer chegar", respondeu Lula.

Entretanto, alfinetou sobre a Lava Jato, "você pode fazer uma investigação sem quebrar as empresas, sem deixar milhares de pessoas desempregadas, é muito difícil trazer investimentos para o Brasil, com essa insegurança toda".

"O Brasil não pode ficar neste clima de insegurança política, insegurança institucionalizada. O ex-presidente explicou que deve haver uma previsibilidade da economia, "do que vai fazer", "como o país vai seguir em frente, para dar confiança", afirmou.

Intolerância na internet

"A internet é uma revolução na capacidade de receber e dar informação, mas ao mesmo tempo ela liberou os demônios que têm nas pessoas, esse é um problema que algum momento tem que regulamentado para as pessoas pararem de inventar mentiras, é preciso criar uma lei, (sem criar um milímetro de censura), um instrumento para criar responsabilidade, o cidadão que falar bobagem, que fazer ofensas, que falar preconceito, precisa ser responsável pelo que fala", comentou.

Retrocesso civilizatório

"As pessoas estão intolerantes, é preciso que as pessoas aprendem que a convivência é bonita, inclusive se ela for a convivência democrática na diversidade". Lula exemplificou que há países que tem apenas dois partidos, como é o caso da Alemanhã, da França, dos EUA, "mas as pessoas não se matam na rua", disse.

"Tem gente que me odeia, tem gente de me ama, tem gente que torce pro Náltico, tem gente que torce para o Santa Cruz"

O ex-presidente dissse que até hoje não recebeu nenhuma ameaça, mas se preocupa com o retrocesso civilizatório. "Eu tenho 70 anos de idade, em outubro vou fazer 71 anos, faço política desde os 19 anos, já fiz todas as greves que se pode imaginar (…) obviamente sei que tem gente que não gosta de mim, a sociedade é assim, o mundo é assim, tem gente que torce para o Santa Cruz, tem gente que torce para o Náltico, não pode o torcedor se encontrar na churrascaria e sair no tapa, não é preciso, eu acho que está havendo um retrocesso civilizatório, esclare.

Credibilidade e previsibilidade

Para o ex-presidente, existem duas palavras-chaves para o governo dar certo: "credibilidade e previsibilidade", explicou.  Segundo Lula, a sociedade precisa "confiar que aquilo que o governo falar vai acontecer", e "previsibilidade", as pessoas sabem o que vai acontecer a cada dia, o que você decide hoje nao vai mudar de noite, respondeu.

"Se você tiver credibilidade nos governantes, credibilidade na política, se tiver segurança jurídica"…

"Quando eu queria ser presidente, a primeira vez, eu tinha certeza absoluta que se eu ouvisse só os economistas eu não seria candidato, porque para eles "o país não tinha jeito, estava quebrado, que não ia dar certo…E eu o que que eu fiz na verdade? Eu criei uma nova classe de consumidores, eu resolvi apostar minhas fichas em melhorar a vida dos pobres deste país, em melhorar o salário-mínimo, em criar o bolsa família, e quando fizemos isso, colocamos 40, 50 milhões de pessoas que estavam marginalizadas na sociedade de consumo, esse é um dado concreto, quando as pessoas começam a consumir, o comércio começa a vender, a indústria começa a produzir, começa a gerar mais emprego, mais renda, mais salário, mais consumo…

Lula esclareceu que durante todo o seu governo deu aumentos reais para o salário-mínimo e que o governo Dilma continuou com essas medidas. 

Nordeste

O ex-presidente falou ainda dos investimentos que fez na região mais carente do país. "Eu queria que o Nordeste tivesse a mesma oportunidade" que São Paulo. E tratou dos investimentos que fez construíndo universidades, escolas técnicas, formando "pesquisadores, doutores, mestres" nordestinos. 

"Eu provei que isso era possível, eu inclui os pobres brasileiros no orçamento, no financiamento, com crédito e com emprego. Quer resolver essa crise agora? Vamos outra vez, incluir os pobres.", disse Lula.

2018

Lula foi questionado sobre apoiar Ciro Gomes à presidencia nas próximas eleições , mas segundo o repórter, o ex-governador do Ceará já fez muitas críticas ao governo Lula, dizendo que o governo dele foi "frouxo" . Sobre o assunto, o ex-presidente disse que acredita "cegamente na liberdade de expressão, cada um fala o que quiser, mas cada um se responsabiliza com o que falou", esclareceu. 

"É preciso investir nos mais pobres"

"Eu tenho consciência do que precisa fazer para melhorar esse país. É investir nos pobres, acabou o problema", ressaltou. "O problema no Brasil não é econômico, o problema é político, meu caro, o problema é saber ou essa sociedade volta a consumir para as empresas voltarem a produzir, ou vamos ficar assim, todo ano faz corte no orçamento, destacou.

"Eu, se fosse governo, teria aumentado o endividamento brasileiro para aplicar somente em infra-estrutura…Para desenvolver a economia, para fazer investimento, se está ruim e você vai cortando, não cresce o PIB, proferiu Lula ao criticar a PEC 241, "não é possível falar que vai melhorar cortando gastos por 20 anos", apontou.

"Toda quinta-feira tem um manchete anunciada"

O ex-presidente falou ainda sobre o juíz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato e sua relação com a Globo. "Ele está cumprindo o trabalho dele, eu posso concordar ou não", disse, "mas eu não sou um ser humano que faz política com o fígado, eu acho que ele tem uma teoria equivocada" que construiu junto com a imprensa brasileira, junto com a Globo, a ideia de que não e possível condenar ninguém sem tiver manchetes. Para Lula, é questionável tantos vazamentos para os jornalistas, antes mesmo que os advogados tenham conhecimento. "Tem jornalista que trabalha quase que num consórcio com a Polícia Federal e com Ministério Público", afirmou Lula.

Assista a íntegra da entrevista: