Apesar de eleição atípica, PCdoB deve crescer

Apesar de esta ser uma eleição atípica – mais curta, com menos recursos e que ocorre em meio a uma crise política que atinge especialmente a esquerda, golpeada pelo impeachment -, o PCdoB quer sair dela maior do que entrou. 

PCdoB 2016 - Um projeto eleitoral que precisa de vitórias - Divulgação

De acordo com o vice-presidente do partido, Walter Sorrentino, a expectativa é eleger mais prefeitos – incluindo um em capital – e vereadores que em 2012. Ao analisar o cenário, ele apontou um maior equilíbrio entre as forças partidárias da esquerda progressista, mas lamentou a divisão deste campo.

Sorrentino disse que vê com preocupação esta campanha, na qual o debate eleitoral findou prejudicado por uma série de questões. Trata-se do primeiro pleito após a proibição do financiamento empresarial. A restrição – positiva – não foi, contudo, acompanhada da aprovação do financiamento público, o que criou dificuldades às candidaturas.

Além disso, a campanha, que antes durava 90 dias, foi reduzida à metade este ano. E iniciou-se após o desgastante processo do golpe de Estado, com o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, e no decorrer das Olimpíadas.

"Está completamente anômalo o cenário. É uma eleição que é um ponto fora da curva: não é continuidade de 2012, nem sequer projeta uma nova história eleitoral partidária no país, porque não tem como se sustentar essa legislação. E ela ocorreu em meio a fenômenos de mal-estar social, mau humor político, no meio de uma Olimpíada, depois do impeachment, aspectos que conturbam a naturalidade com que se discutem os problemas da cidade e o voto, levando a um certo atraso na conquista do voto popular”, afirmou.

“Inclusive – disse ele – nunca vi tamanha discrepância regional entre o calor das campanhas, maior no Nordeste e bem mais frio no Sul e parte do Sudeste do país. Isso também dificulta projeções”, completou.

Mesmo assim, o PCdoB está na disputa com um projeto eleitoral “modesto e concentrado” nas grandes e médias cidades, mas com boas perspectivas de crescimento, avaliou o dirigente. Algo que ajuda a fortalecer uma reestruturação da esquerda brasileira e a resistência ao golpe.
Em 2012, o partido elegeu 56 prefeitos e 945 vereadores. Embora fale com cautela e ressalte que o cenário ainda está “repleto de interrogações”, Walter Sorrentino estimou que o PCdoB, em 2016, deve garantir cerca de 100 prefeituras e conquistar por volta de 1200 assentos em câmaras municipais.

Em relação às capitais, pesquisas mostram Edvaldo Nogueira (PCdoB) em primeiro lugar na disputa pela prefeitura de Aracaju (SE) e Jandira Feghali (PCdoB) no páreo para chegar ao segundo turno no Rio de Janeiro (RJ). A comunista aparece em segundo lugar na última sondagem divulgada, ainda com uma grande diferença em relação ao primeiro colocado.

O vice-presidente do partido destacou a força e o “prestígio” das candidatas comunistas, em especial das seis parlamentares que concorrem a cargos este ano. Além da boa situação de Jandira, a deputada federal e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, deve se eleger em Olinda, região metropolitana do Recife (PE), assim como a deputada federal Prof Marcivânia, em Santana (AP). “E Alice Portugal, em Salvador, e Ângela Albino, em Florianópolis, demarcam com garra o espaço político do PCdoB”, assinalou.

No Maranhão, estado comandado por Flávio Dino e no qual o PCdoB é hoje o maior partido, os comunistas também esperam colher bons resultados. A ideia é eleger cerca de 40 prefeitos e 400 vereadores.

“Quando se faz as contas aos olhos de hoje – com todos os cuidados que devemos ter, porque às vezes essa expectativa pode se alterar -, mas dentro de uma coerência de avaliação da história política e eleitoral do PCdoB, a flecha está apontando para um projeto progressivo, confirmando cidades como Contagem (MG) e Juazeiro (BA), entre as já governadas pelo PCdoB, e ampliando para novas grandes e médias cidades. Estamos moderadamente otimistas”, disse Sorrentino.

PT diminui seu projeto eleitoral

“A essa altura é difícil fazer um vaticínio sobre o significado político nacional dessas eleições. Mas já ficou mais ou menos estabelecido que o projeto de um aliado nosso muito importante, que é o PT, decaiu muito. Na verdade, quase à metade do que era em 2012, em número de candidatos, número de cidades etc. O que já mostra um tipo de dificuldade”, citou Sorrentino. E, como diversos analistas já registraram, há uma grande fragmentação partidária por todo o país, que não aponta ainda para um único grande vencedor.

Para ele, o “signo” político nacional da disputa se dará muito em função das disputas em São Paulo e Rio de Janeiro. “São caixas de ressonância nacional e onde a situação ficou mais polarizada na luta contra os golpistas, de modo que repercutem mais”, defendeu. “E é bem simbólico que, nas duas metrópoles, liderem candidatos do pequeno PRB”, pondera ele. Quanto à correlação de forças que deve sair das urnas, ele declarou que ainda é cedo para prever.

De qualquer forma, a possibilidade de crescimento do PCdoB se dá em um cenário no qual o PT, aliado histórico e força hegemônica na esquerda, se enfraqueceu. De acordo com reportagem do jornal O Globo, o PT lançou candidatos em 19 capitais. Mas, além das duas em que lidera (Rio Branco e Porto Velho), está em empate técnico em Porto Alegre com o candidato do PMDB, aparece em segundo lugar no Recife e em terceiro em Fortaleza. Nas demais disputas, o PT figura, segundo as pesquisas, com menos de 10% das intenções de voto.

Com o PT apoiando mais candidaturas do PCdoB que em anos anteriores, há um quadro de maior equilíbrio na relação entre as legendas tradicionalmente aliadas. Nas capitais, desta vez, os petistas apoiam cinco postulantes do PCdoB. Este, por sua vez, reforça as campanhas de nove filiados do PT.

Sorrentino destacou ainda que o PCdoB adota uma política de amplas alianças, que leva em conta a questão programática. “O partido não traçou uma régua, as alianças se dão em função de sustentar o programa de governo nas cidades. Então são muito variadas e nós achamos isso justo. No quadro partidário brasileiro, é ilusório você achar que há uniformidade das legendas no país. Cada partido tem feições e caráter particular em cada município e, se você não levar isso em conta, vai traçar uma reta onde não é possível. As alianças são variadas, mas o eixo continua em torno de alianças entre PT e PCdoB”.

Divisão na esquerda

Na sua avaliação sobre a atual situação da cena eleitoral, o comunista acrescentou a divisão da esquerda, que embora tenha, de maneira geral, se unido no combate ao impeachment, divergiu já sobre as estratégias de enfrentamento ao golpe.

“Pegando o microcosmo de São Paulo e Rio [onde o PT e o PCdoB encabeçam as chapas, respectivamente, com o apoio um do outro], a esquerda está dividida”, disse, colocando que há chances de chegar ao segundo turno nas duas capitais, diante do quadro de indefinição que impera em uma campanha tão atrasada como a atual.

O dirigente destacou que, no Rio, as pesquisas indicam Jandira em segundo lugar, mas à frente do atual prefeito Eduardo Paes (PMDB). “É digno dos tempos que Jandira esteja na frente do candidato da máquina, Eduardo Paes, que promoveu Olímpiada, recebeu uma fortuna em verbas federais para fazer bonito pelo Brasil. Quer dizer, as dificuldades não são só nossas”.

Sorrentino sublinhou que, por mais que as forças contrárias ao impeachment tenham sido derrotadas com o afastamento de Dilma, pesquisas sinalizam que algo entre 25% e 30% da sociedade apoia a luta contra o golpe. Caso a esquerda tivesse conseguido se unir, poderia canalizar os votos dessa parcela da população.

“Há o ‘primeiramente, Fora, Temer’. Mesmo nos lugares onde é mais difícil, no Sul do país… Mas na maior parte dos lugares, dá 35%, 38% [de contrários ao golpe]… Então, quando eu digo que a esquerda está dividida, isso tem uma importância particular. Porque se você tivesse uma candidatura representativa desse campo para levar ao segundo turno, nós venceríamos na maior parte das vezes”, ponderou.

O dirigente ressaltou ainda que, diante de todas as peculiaridades desta disputa, o resultado geral do pleito permanece cercado de indefinições, a dez dias das eleições. “Há uma interrogação enorme. Como é que o povo vai à urna no fim das contas? Pode ser uma grande surpresa, mas não só para nós, para todo mundo”, colocou.

Demandas

De acordo com Sorrentino, a questão política nacional tem estado em pauta nessas eleições, de forma subjacente. “É natural que a linha que predomine seja o debate com a população sobre seus problemas, seu cotidiano, sobre maior equidade social, maior solidariedade na vida da cidade, porque eleição municipal é isso e também porque há um mau humor com a política. Agora, subjacente, não há dúvida de que há dois campos: a turma contra o golpe e a turma a favor”, disse.

Embora o tema nacional não seja o principal, o comunista ressaltou a importância de ele estar presente, “para criar uma identidade” de campos políticos. “Até porque o embate que todos nós travamos pela esquerda é o que reconhece no campo adversário a extensão do campo golpista ou de partidos que apoiaram o golpe”, justificou.

“Não se pode imaginar haver uma despolitização do eleitorado, ao contrário, ele computa os campos políticos nacionais, a trajetória dos candidatos e candidatas, optando pelo voto em função de sua leitura dos problemas da cidade e do perfil dos que disputam”, completou.

Na primeira eleição municipal pós-manifestações de 2013, voltam à tona muitas das demandas que estamparam cartazes naquele momento. Para Sorrentino, o movimento de então não teve um desdobramento construtivo e as demandas terminaram se perdendo pelo caminho.

“Ficou claro que 2013 tinha como núcleo de mobilização uma pequena demanda social, que defendia passe livre por exemplo, mas que recebeu adesão de um conjunto e forças rebeldes e irracionalistas e foi absolutamente capturado pela pauta reacionária, golpista. Tanto que os pródromos do golpe na democracia surgiram das manipulações das elites em torno daquelas manifestações. As forças mais sãs de 2013, no fim, se afastaram, e sobrou a manipulação das bandeiras contra a política e o sistema político, que considero uma coisa bem reacionária e antidemocrática”, opinou.

“As reivindicações [de 2013] mesmo se perderam, porque era ‘não quero copa, quero saúde’. (…) Agora retornam. As demandas estão presentes em todo país: é saúde, educação, segurança, mobilidade urbana. Isso é um programa nacional, não é só de uma cidade, mas é na eleição municipal onde isso é mais discutido. Então 2013 deixou só um rastro de terreno favorável ao golpe. O resíduo bom se manifestou nas ruas sob outra configuração, unido por forças estruturadas da política, partidos, movimentos sociais, que se rearrumaram com uma perspectiva política”, encerrou.