Delenda est direitos sociais

Foram 3 as Guerras Púnicas entre Roma e Cartago. O projeto de poder romano passava pelo controle do comércio marítimo da região do mediterrâneo e Cartago era um obstáculo ao domínio completo. O poder do exército romano se fez evidente e, após a 3ª Guerra Púnica, Roma, vitoriosa, impôs a Cartago, derrotada, inúmeras restrições, todas com o claro objetivo de varrer qualquer possibilidade de que os cartagineses voltassem a ameaçar o projeto romano.

Por Bia Figueiredo e Flávio Tonelli Vaz*

movimentos sociais ilustração

A Guerra, no entanto, não foi o único artifício para retirar Cartago do caminho romano. Tão pouco, foi suficiente impor derrotas sucessivas aos cartagineses. Roma precisava ir além e destruir Cartago por completo. Sua existência representava um risco constante que Roma não poderia aceitar.

Eis o que se deu. Após a 3ª Guerra Púnica, uma comissão romana visitava Cartago para conferir se estavam se submetendo às regras impostas e se o risco estava sob controle. Para surpresa de Roma, Cartago se reerguia rapidamente, voltando à prosperidade de seu comércio e agricultura.

Após uma dessas visitas, o Senador Catão, o Antigo, volta à Roma obcecado pela ideia de que só a destruição completa eliminaria de vez a possibilidade de Cartago novamente dominar o comércio marítimo.

Em sucessivos discursos no Senado finaliza sempre com a frase “Delenda est Carthago” – “Cartago deve ser destruída”. A tese ganhou apoio e um verdadeiro golpe foi engendrado para tirar Cartago do mapa. A cidade foi destruída após 3 anos de brava resistência dos cartagineses. Como consequência, o aumento do poder político e econômico de Roma e o impulso para a formação do que viria a ser o Império Romano.

Um projeto de poder. Um obstáculo à frente. 3 Guerras. Um golpe. Mobilização de um povo. Nobres apedrejados. O fim de uma cidade próspera.

Hoje, revivemos este episódio no Brasil sob o nome “Delenda est Direitos Sociais”. O golpe em curso está sustentando em um projeto de poder que não encontraria amparo nas urnas. Um projeto que, para se consolidar, precisa salgar tudo o que foi construído em 13 anos de um governo voltado para o combate às desigualdades.

O velho dilema entre direitos sociais e privilégios a um setor financeiro que, além da hegemonia, almeja a exclusividade do acesso aos créditos públicos. Mas não nos enganemos. Para os generais do golpe, assim como para Roma, não basta usurpar o poder desrespeitando o voto popular e a Constituição. Não terão descanso enquanto não destruírem tudo o que foi construído. Não deixarão pedra sobre pedra para que não reste qualquer resquício de um Estado indutor do desenvolvimento, soberano e democrático. Assim como Cartago sucumbiu, sucumbiremos todos se consolidado o golpe.

Consolidado estará se não tomarmos as ruas e exigirmos “Diretas Já”. Se não somarmos nossas vozes pelo “Fora Temer”, contra a volta de um projeto excludente e entreguista. Vamos às ruas!