O último poema de Victor Jara: “Quantos seremos no total?”
Esta sexta-feira (16) marca os 43 anos do assassinato do cantor e compositor chileno Victor Jara, vítima da ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990). A morte do artista é um dos episódios mais trágicos de todo o período da ditadura militar, ele foi submetido a torturas inimagináveis em frente aos seus alunos, todos presos em um ginásio na região central de Santiago, capital do país.
Publicado 16/09/2016 12:46
Victor Jara foi levado preso enquanto dava aula na Universidade Técnica do Estado, em Santiago, junto aos alunos da instituição, logo depois de consumado o golpe de Estado contra Salvador Allende. Relatos dão conta de que ele teve as mãos destruídas a coronhadas pelos militares e foi obrigado a “tocar” seu violão para o “público do estádio” antes de ser assassinado com 44 tiros.
No curto governo de Salvador Allende (1970-1973) o cantor desempenhou o papel de embaixador cultural, onde desenvolveu projetos de políticas públicas para a Cultura e inclusão social. Suas canções e sua trajetória de luta até hoje inspiram jovens que sonham com uma América Latina soberana e livre.
Além de músico, Victor Jara foi professor e diretor de teatro. Sua obra é referência mundial para os admiradores das “canções de protesto”. As músicas revolucionárias serviram, à época, como um importante impulso para a juventude chilena e latino-americana. Muitas vezes em tom até lúdico, Jara convocava a população para luta de classes.
É considerado um dos mais emblemáticos artistas do movimento musico-social intitulado “Nova Canção Chilena”. Sua ideologia comunista está impressa em toda sua obra artística.
Na prisão, escreveu seu último poema intitulado “Somos cinco mil”. O Vermelho traz a obra na íntegra:
nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil
quantos seremos no total
nas cidades e em todo o país?
Só aqui
dez mil mãos semeiam
e tocam as fábricas
Quanta humanidade
com fome, frio, pânico, dor
pressão moral, terror e loucura!
Victor Jara