Lula: “A lógica não é mais o processo, mas criar manchetes”

“Indignado”. Assim resumiu o ex-presidente Lula em coletiva de imprensa na qual se pronunciou sobre a denúncia do Ministério Público Federal, apresentada nesta quarta-feira (14) contra ele. Lula rebateu as acusações e reforçou que a sua trajetória de conquistas e compromisso com o país lhe deram o direito de “andar de cabeça erguida” e desafiou: “Provem uma corrupção minha que irei a pé me entregar à polícia”.

Por Dayane Santos

Lula em coletiva 15 de setembro Roberto_Parizotti CUT - Foto: Roberto Parizotti/CUT

O ex-presidente afirmou que foi construída uma mentira “e tornaram essa mentira uma verdade aos olhos da opinião pública e agora tentam concluir a novela”.

“Eles construíram uma mentira, uma inverdade, como se fosse um enredo de uma novela. E está chegando ao fim o prazo, afinal de contas já cassaram o Cunha, já elegeram o Temer pela via indireta, pelo golpe, já cassaram a Dilma, agora precisam concluir a novela: acabar com a vida política do Lula. Porque não existe outra explicação para o espetáculo de pirotecnia”, disse o ex-presidente.

“Todas essas denúncias, tenho a consciência tranquila, e mantenho o bom humor, porque me conheço, sei de onde vim, sei para onde vou, sei quem me ajudou a chegar onde estou, sei quem quer que eu saia, sei quem quer que eu volte”, ressaltou Lula, reforçando que seu governo e da presidenta Dilma Rousseff atuaram para o fortalecimento do Ministério Público e da Polícia Federal e pediu respeito à instituição e à sua família.

“Não é que somos mais honestos que ninguém, mas tiramos da sala o tapete que escondia a corrupção do país… Sou daqueles que acreditam que só com instituições fortes há democracia… Eu respeitaria mais a família deles do que eles respeitaram a minha. Vocês pensam que foi fácil suportar a invasão da minha casa? Invadiram as casas dos meus filhos… Até os meus discursos eles levaram do instituto, certamente para plagiar”, ironizou.

Lula disse que a coletiva dos procuradores do MPF do Paraná foi para garantir as manchetes dos jornais. “A lógica não é mais o processo. A lógica é criar as manchetes. Quem é que nós vamos criminalizar pelas manchetes? Quem vamos demonizar? Isso acontece desde 2005. O PT é tido como partido que tem que ser extirpado da política brasileira… Tentaram fazer comigo o que fizeram com a Dilma em 2005. O objetivo era tirar o Lula já em 2005”, declarou.

Lula, no entanto, destaca que o sucesso dos seus dois mandatos e da presidenta Dilma Rousseff são as causas de tanto ódio. “O fracasso não teria despertado tanto ódio contra o PT. O que despertou a ira foi o sucesso desse governo. A maior política de inclusão social desse país. O ódio deles é porque durante 500 anos eles não acreditam que era preciso investir na educação, porque podiam estudar no exterior. Quem tinha que estudar aqui era o pobre que terminava o ensino fundamental e tinha que trabalhar para sobreviver. Quando cheguei no governo eu disse: Aqui não vai se falar mais em gasto para a educação. Educação é investimento. Não seremos só exportador de soja, mas exportador de conhecimento. Isso foi acumulando um ódio”.

Ao falar sobre a tese dos procuradores de que não tem provas, mas têm a “convicção” de ele é culpado, Lula rebateu: “Não sei porque fazer uma coletiva para apresentar a prova de um crime, e não tem crime, tem convicção. Ninguém respeita a lei desse país mais do que eu”.

Sem citar nomes, ele ironizou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) lembrando do caso em que “tinham provas de um helicóptero com 400kg de cocaína, mas não tinham convicção, então liberaram”.

Lula afirmou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, os procuradores, os ministros do STF e os delegados da Polícia Federal devem estar pensativos. “O que aconteceu? À custa do que esse espetáculo? Por que vender um produto que não tem como entregar? Não adianta matar e esquartejar, como fizeram com Tiradentes… Vocês vão ter problema com o golpe que vocês deram”, alertou.

E advertiu: “Vocês não podem permitir que meia dúzia de pessoas estrague a reputação de uma instituição como o Ministério Público. Eu conheço gente que vive por cinco minutos de fama na televisão, essa pessoa vive pouca. A única coisa que eu peço, por favor, é que respeitem a minha família”, pediu.

Lula destacou que, apesar da situação imposta à sua família, ele não perdeu o ânimo de luta por esse país. “Eu não tenho tempo de parar, o país que eu sonho ainda está muito distante de ser construído. Nada, só Deus, pode me fazer parar de lutar”, afirmou. “Esta meninada que tá vindo pra rua lutar é um Lula multiplicado por 50 milhões de Lulas pelo país!”, completou.

“Tem gente que passou em concurso público que é analfabeto político, não sabe o que é governo de coalizão”, disse Lula, rebatendo a tese de “propinocracia” apresentada por Dallagnol para explicar o governo de coalizão e fundamentar a sua tese de crime.

“Quando eu transgredir a lei, me punam para servir de exemplo. Mas quando eu não transgredir, procurem outro para criar problema”, reafirmou.

“Estou com 70 anos e com vontade de viver mais 20, a história mal começou”, concluiu.