Grito dos Excluídos e a arte em defesa de um mundo mais justo

É impossível pensar no feriado de 7de Setembro, dia que marca a Independência do Brasil, e não lembrar das icônicas manifestações do Grito dos Excluídos, o movimento que luta pelo empoderamento dos mais pobres, dos que vivem à margem, dos excluídos, afinal.

Por Mariana Serafini

Grito dos excluídos

O processo de mobilização para as manifestações realizadas em todo o território nacional durante a “semana da pátria” é longo e conta com diversos mecanismos. Um dos mais destacados certamente são os cartazes de divulgação do movimento. Sempre muito expressivos, cheios de cor e vida, estas obras populares circulam o país para despertar a população para a luta.

Há dez anos é o mesmo artista que assina os cartazes do Grito. Francisco Daniel viu nesta missão uma oportunidade de desenvolver e expandir sua arte engajada com a luta política por um mundo mais justo. E assim foi. Há uma década o material que ilustra as manifestações tem nome e sobrenome do artista mestre em Artes Visuais e Linguagem de Multimídia pela Academia de Belas Artes de Florença, na Itália.

Daniel conta que seu interesse pela arte vem desde criança, e como muitos de sua geração, os primeiros rabiscos vieram inspirados em desenhos animados e histórias em quadrinho. Não imaginava, o adolescente com ganas de mudar o mundo, que seria ele o artista responsável pela arte da mais icônica manifestação que toma o Brasil todo dia 7 de setembro.


Francisco Daniel trabalhando no cartaz deste ano 


A sede de mudança chegou, como em muitos casos, na adolescência e através do contato com grupos de jovens progressistas da Igreja Católica, Daniel se aproximou dos movimentos sociais voltados à luta em defesa dos moradores de rua, indígenas e trabalhadores sem terra. “Isso me inspirou e me inspira até hoje a traduzir em imagens a cara e a força da nossa gente”.

Durante a entrevista, Daniel deixa claro que sua arte, sua vida e sua luta não seriam possíveis sem as fortes relações de amizade. Ele destaca muitas pessoas importantes que passaram pela sua trajetória e contribuíram tanto para o desenvolvimento de seu trabalho junto ao Grito, quanto para suas referências estéticas.

“No começo, minhas maiores referências estéticas foram as obras de amigos e amigas artistas que faziam e fazem até hoje da arte uma bandeira de luta, uma arte de cunho mais político social. E por que não dizer também, espiritual?! Cito com grande alegria a irmã religiosa Scalabriniana Elda Broilo, minha grande maestra que trabalhou por anos com grandes painéis ilustrando com muita propriedade a luta do povo sem terra. Sua arte, me tocou profundamente ao ponto de querer também seguir a mesma estrada, construir uma arte engajada, plena de sentidos que denuncia e ao mesmo tempo nos sensibiliza, nos provoca a ter uma atitude mais transformadora diante de injustiças”.

Outros amigos que passaram pela vida de Daniel e até hoje inspiram sua arte são Anderson Augusto P., Adélia Carvalho Domingos Sávio “ambos conhecido nacionalmente por suas artes dentro dos movimentos populares”, conta.

Para Daniel, o Grito dos Excluídos é uma manifestação que “transcende o patriotismo dos desfiles de escolas militares”. Ele acredita que o movimento social é importante até mesmo para a formação didática das pessoas que assistem. “O Grito de independência hoje é ecoado por vários homens e mulheres excluídos e excluídas que ainda se veem explorados e com os direitos sempre mais ameaçados, é o grito que se faz ouvir em alto e bom som pelas ruas e praças de todo o país”.

No Brasil pós-golpe, que precisa se reinventar e fortalecer as lutas sociais, Daniel defende ser o momento de unir “todo mundo num projeto de país” que contemple “índios, negros, mulheres e crianças”. Para ele, apesar dos avanços obtidos nas últimas décadas com os governos progressistas de Lula e Dilma Rousseff, muito ficou por fazer e a consequência de alguns erros fatais é a conspiração que levou ao golpe de Estado. “Agora estamos colhendo os frutos de algumas reformas que não foram feitas, entre elas a Lei de Meios e a Reforma Política”.

Neste ano as manifestações do Grito dos Excluídos acontecem em todo o país e contarão com apoio de outros movimentos sociais na luta contra o golpe de Estado que destituiu a presidenta eleita Dilma Rousseff.

Veja a galeria com os cartazes dos últimos dez anos:

Grito dos Excluídos