"Tempos sombrios para o Brasil", preveem estudiosos

"O cenário que se desenha pós-impeachment é sombrio!". É o que diz o professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Daniel Aarão Reis Filho. O escritor afirma que a democracia está enfraquecida. Quem presidirá a República é um homem sem voto. O impeachment, esta instituição elitista, antipopular e antidemocrática, mais uma vez prevaleceu. O pesquisador anuncia a vinda de reformas antipopulares e antidemocráticas.

Por Renato Dias*, especial para o Vermelho

Ditadura militar anos 60-70 - Foto: Reprodução

"As reformas descarregarão o custo da superação da crise nas costas dos trabalhadores". O doutor em História avalia que as classes populares, pressionadas pela crise econômica [desemprego alto] e trabalhadas por um processo extremamente ‘despolitizante’, característica dos governos petistas, enfrentarão momentos difíceis para reagir à ofensiva dos que têm o poder e os dinheiros. Teremos pela frente uma travessia de deserto, prevê. "Momento que as pessoas de caráter são postas à prova!"

Doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Humberto Clímaco (foto ao lado) espera que Michel Temer e o que Dilma Rousseff chamou de ‘Consórcio golpista’ se empenhem com todas suas forças para pagar a fatura dos financiadores e apoiadores do golpe. Fiesp, Shell, os especuladores, ataca. Mas haverá forte resistência da população, diz. Muito do que vai ocorrer dependerá da posição que adotarão os partidos de esquerda, em particular o PT, frisa.

Doutora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, a professora Diane Valdez afirma que o impeachment, sem crime de responsabilidade, é a ‘pá de cal’ que faltava para terminar de enterrar os direitos conquistados, a duras penas, pela classe trabalhadora no Brasil. Já classe média, que ajudou os golpistas a baterem panelas, sentirá o preço de não poder colocar comida na panela batida, provoca, em tom de indignação.

Doutor do Departamento de História da UFG, David Maciel é taxativo. A consumação do golpe de Estado contra Dilma Rousseff representa uma vitória histórica das forças políticas conservadoras aglutinadas em torno de Michel Temer e a derrota definitiva, também histórica, da politica de conciliação de classes exercida pelos governos petistas desde 2003, avalia. A partir de agora devemos esperar um acirramento do processo da luta de classes, aponta. "Com a intensificação dos conflitos sociais e políticos." 

De um lado estarão as forças conservadoras e seu governo, com o apoio orgânico do imperialismo, do grande capital [financeiro, industrial, comercial e agrário], da grande mídia e de setores das classes médias, tentando radicalizar a aplicação do programa neoliberal no Brasil, atacando ainda mais os direitos sociais e trabalhistas, aumentando a jornada de trabalho, destruindo a CLT e reduzindo os benefícios previdenciários, insiste o historiador. "Restringindo e precarizando ainda mais os serviços públicos e o próprio funcionalismo, congelando por vinte anos os gastos do Estado com serviços sociais e infraestrutura, além de contingenciar despesas para pagar a dívida púbica e garantir os lucros do capital financeiro, assim como irá privatizar as empresas estatais que ainda restam e os bens e recursos naturais de propriedade da sociedade brasileira".

David Maciel (foto ao lado) crê que de outro lado, estarão os trabalhadores urbanos e rurais, empregados, subempregados e desempregados, incluídos os pequenos proprietários que também trabalham, os movimentos sociais e partidos socialistas, todos libertos da chantagem do ‘mal menor’ imposta pelos governos petistas [se está ruim conosco, pior será com os tucanos!] e combatendo e a plataforma politica conversadora do governo Michel Temer e aliados. 

"Neste processo de acirramento dos conflitos sociais e políticos, a repressão politica por parte do capital, dos governos e do poder judiciário deve se intensificar, enfraquecendo ainda mais a já abalada democracia brasileira."

Doutor em Ciências Sociais da UFG, o marxista Flávio Sofiati diz que o Brasil deve esperar pelo pior. Os três meses de governo Michel Temer já podem ser considerados os mais horrorosos da história do país, do ponto de vista da classe trabalhadora, frisa. Aceleramento da retirada de direitos e promessas de uma política econômica austera para os pobres com manutenção dos privilégios dos ricos, frisa.“É preciso organizar a resistência e continuar a luta”. "Fora, Temer!"

O doutor em Geografia da UFG, historiador Romualdo Pessoa Campos Filho (foto ao lado), cita Karl Marx e vê ‘tragédia e farsa’. Tem se repetido ao longo da nossa história esses artifícios golpistas, que mudam de forma de acordo com cada época, a fim de conter politicas que estejam sendo implantadas para beneficiar as camadas mais pobres, explica. Como com Getúlio Vargas, com João Goulart e agora, em agosto de 2016, com Dilma Rousseff, observa.

"Mas a sociedade se move pela luta de classes, e a cada investida da classe dominante, gananciosa e usurpadora de direitos do povo, mais tende a se fortalecer as lutas populares".

Tivemos nesse período de conquistas sociais, avanços inegáveis, mas, ao mesmo tempo houve uma certa desmobilização dos segmentos organizados dos movimentos sociais, como se estivéssemos no estágio final de nossas conquistas, afirma. Ledo engano, desabafa. A desmobilização e a burocratização de quadros importantes dessas lutas ficaram imersos nas estruturas do Estado, critica. Cabe agora uma reavaliação de erros cometidos, propõe.

"O caminho é a retomada da organização sindical e popular para recuperar o poder usurpado ilegitimamente, à revelia da soberania popular."

Teremos um tempo de ressaca, naturalmente, de revolta e de estupor, lamenta Romualdo Pessoa Campos Filho. Sentimos o golpe, admite. Ele tem que ser superado rapidamente, recomenda. É preciso levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, insiste. É preciso lutar não somente contra a ilegitimidade de Michel Temer, mas também contra a crise sistêmica mundial, que tem acelerado as desigualdades sociais em todo o mundo, frisa.

Diretor editorial do Opera Mundi, Breno Altman (foto ao lado) acredita que a consolidação do golpe levará à radicalização do programa ultraliberal defendido pelo governo usurpador, com ataques a direitos e conquistas dos trabalhadores, além de privatizações e mudança da política externa praticada desde 2003. "Provavelmente também assistiremos a tentativas de mudar o regime político, com a adoção de alguma forma de parlamentarismo. 

Que bloqueie, estruturalmente, as chances de acesso da esquerda ao comando do Estado. Outro elemento importante será o aumento da repressão contra movimentos sociais, além da crescente perseguição judicial às lideranças petistas e progressistas, especialmente Lula. Mas igualmente tende a se aprofundar a resistência democrática ao novo governo, ao mesmo tempo em que serão mais agudos os conflitos internos do bloco conservador."
 
Especialista em Geopolítica, o jornalista Frederico Vitor de Oliveira afirma que Michel Temer teria chegado ao poder abençoado pela plutocracia brasileira. O peemedebista será obrigado a cortar investimentos em educação, saúde e programas sociais, explica. Com verdadeiros ataques a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), observa. Ele deve demolir a obrigatoriedade do pagamento ao trabalhador do 13ª salário e das férias remuneradas, crê.

"Assim como promover a redução do intervalo do almoço, além do achatamento dos salários e a precarização das relações do trabalho."

Os financiamentos para aquisição da casa própria como os do Programa Minha Casa, Minha Vida serão congelados, registra. O projeto que financia o curso superior em instituições privadas a alunos oriundos da rede pública de ensino certamente ficará comprometido pelos cortes orçamentários que Michel Temer sinalizou consumar, aponta. Em contrapartida, o Brasil continuará a pagar uma das mais altas taxa de juros do mundo, denuncia. "Contribuindo para o crescimento abissal do lucro das instituições financeiras, em meio a uma das mais graves crises econômica e social da história do país."