Pochmann prevê fase de baixa na economia com ataque a direitos

Afastamento de Dilma Rousseff e início do governo Temer retoma conceitos neoliberais dos anos 1990, diz o economista Marcio Pochmann: 'O que vem agora serão tentativas de retrocesso'.

Márcio Pochmann

Essa vitória do impeachment e a ascensão do governo de Michel Temer se reconecta com as forças neoliberais dos anos 1990 e anuncia uma fase de retrocesso nos direitos sociais e trabalhistas que foram estabelecidos pela Constituição de 1988”, disse o economista e candidato à prefeitura de Campinas Marcio Pochmann (PT) hoje (31), ao comentar o resultado da votação do impeachment no Senado que aprovou a cassação do mandato de Dilma Rousseff. Para o economista, governo e Congresso Nacional agora partem para os ataques a esses direitos.

A depender, no entanto, das medidas de contenção fiscal pretendidas pelo governo, a economia continuará patinando sem resultados concretos que apontem para a retomada do crescimento e geração de emprego e renda. “Não vejo medidas que possam tirar o país do quadro recessivo em que se encontra e esse momento de recessão vai ser utilizado agora pelas forças que ficaram entre 2003 e 2015 no poder, em que os governos liderados pelo PT praticamente suspenderam os ataques aos direitos sociais e trabalhistas que predominaram durante os governos neoliberais nos anos 1990”, afirmou Pochmann. “Todas as tentativas de reduzir direitos e prejudicar o trabalhador foram de certa maneira suspensas nos governos entre 2003 e 2015”, enfatizou.

Segundo o economista, o quadro econômico do país é difícil “porque as tentativas de recuperação estarão basicamente em cima da redução das conquistas que foram obtidas pelo PT. Nós podemos até recuperar a ocupação da capacidade ociosa, provocada pela recessão, mas dificilmente teremos a capacidade de ampliar os investimentos. Anuncia-se uma fase, dois anos aí, de baixa na economia, sem a possibilidade de sustentar os direitos sociais e trabalhistas”.

Indagado sobre a influência da decisão do Senado nas eleições municipais deste ano, Pochmann afirma que o fim do processo torna mais clara a posição dos eleitores e dos candidatos. “Na situação na qual estávamos vivendo pairava uma certa dúvida de qual seria o desfecho do governo da presidenta Dilma. Agora isso está consolidado, a não ser que tenha ainda uma disputa jurídica, mas de toda maneira essa fase fica bem mais clara para candidatos e eleitores na perspectiva política, embora a campanha seja focada nos problemas locais, da população, das cidades.”

Para Pochmann, o impeachment significa o desfecho do terceiro turno das eleições de 2014. “Diferentemente das eleições anteriores, a de 2014 fez com que o grupo perdedor não aceitasse o resultado, e não permitisse que um governo eleito pudesse realizar o seu mandato. Tentaram interromper o mandato da presidenta Dilma Rousseff primeiro não aceitando a contagem dos votos, pediram a recontagem, e posteriormente mantendo a máquina eleitoral bastante ativa, sendo que as forças que ganharam se desfizeram do processo eleitoral, buscando manter efetivo seu governo”. O economista destaca que as forças que foram derrotadas em 2014 “hoje comemoram uma vitória imposta de forma antidemocrática”.