Elegibilidade de Dilma agrava crise de Temer com PSDB e DEM

Dezesseis dos 61 senadores que votaram a favor do golpe optaram por manter os direitos políticos da presidenta Dilma Rousseff e outros três se abstiveram. Esse resultado deixou os senadores do PSDB e DEM espumando, provando um racha na já frágil base aliada do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB). O líder tucano na Casa, Cássio Cunha Lima (PB), chegou a dizer: “Estou fora do governo".

Por Dayane Santos

Cunha Lima lider PSDB Senado - Agência Senado

Aécio Neves (MG), presidente da legenda, tentou botar panos quentes. Disse que "a questão essencial foi resolvida" (impeachment), mas salientou que a decisão causa "enormes preocupações".

"Caberia ao PMDB ter uma posição única e sólida em defesa de todo o processo", disse o tucano. "Quero crer que não tenha havido algum tipo de entendimento que não nos tenha sido comunicado com outras forças da política nacional", completou Aécio.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse que as legendas pretendem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão pela qual o Senado que manteve a legibilidade da presidenta legitimamente eleita. Caiado disse que ingressará com um mandado de segurança no Supremo para contestar o fatiamento da votação.

Em entrevista coletiva, Caiado revelou que a sua preocupação é que Dilma volte a ser eleita para um cargo eletivo. "Daqui a pouco Dilma vai virar ministra de Estado. Isso é inadmissível. Vamos recorrer ao Supremo", declarou.

Durante a sessão, o líder do governo ilegítimo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), fez a defesa da cassação dos direitos políticos de Dilma Rousseff por oito anos, após o Senado decidir pela aprovação do golpe.

Seguindo o discurso que fez logo após a derrota nas urnas, em 2014, em que afirmou que queria ver a Dilma “sangrar”, o tucano aproveitou para atacar os movimentos sociais. “Hoje o país está calmo. As únicas desordens nesses dias são de fascistoides na órbita do PT. Agora vem pedir que sejamos condescendentes”, esbravejou.

A mágoa é porque peemedebistas engordaram a lista dos senadores que votaram pela manutenção dos direitos políticos. Entre os quais o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que ao se posicionar deixou até a senadora Simone Tebet surpresa.

Na tentativa de gerar um constrangimento junto aos parlamentares, Cunha Lima usou todos os artifícios. Disse que o PMDB tinha feito um acordo para que fosse aplicado o mesmo entendimento no processo de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

"Esta votação terá repercussões na cassação do Cunha, pelo acordo feito, como poderá ter repercussão nas relações – pelo menos na minha – com o governo. Nós sequer fomos avisados de que havia esse entendimento", acrescentando: "Eu estou fora do governo".

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) avaliou que o fato de alguns peemedebistas terem mudado de posicionamento na segunda votação "vai dar trabalho" para Temer.

Fazendo as contas

Vale destacar que, somando os 16 dos 61 senadores que votaram a favor do afastamento definitivo de Dilma Rousseff mas optaram por manter os direitos políticos da presidenta, com os 20 votos dos senadores que votaram contra o golpe, teríamos nada menos que 36 votos. Hipoteticamente poderiamos dizer que, 16 votos foram daqueles que não concordaram com a tese de crime de responsabilidade?

Veja quais foram os senadores que votaram pelo impeachment, mas mantiveram os direitos políticos de Dilma:

Acir Gurgacz – PDT-RO
Antonio Carlos Valadares – PSB-SE
Cidinho Santos – PR-MT
Cristovam Buarque – PPS-DF
Edison Lobão – PMDB-MA
Eduardo Braga – PMDB-AM
Hélio José – PMDB-DF
Jader Barbalho – PMDB-PA
João Alberto Souza – PMDB-MA
Raimundo Lira – PMDB-PB
Renan Calheiros – PMDB-AL
Roberto Rocha – PSB-MA
Rose de Freitas – PMDB-ES
Telmário Mota – PDT-RR
Vicentinho Alves – PR-TO
Wellington Fagundes – PR-MT

Se abstiveram

Eunício Oliveira – PMDB-CE
Maria do Carmo Alves – DEM-SE
Valdir Raupp – PMDB-RO