Morre Marc Riboud, o fotógrafo francês da China de Mao

Morreu nesta terça-feira (30) um dos gênios da fotografia contemporânea. March Riboud se destacou graças à cobertura primorosa que fez da revolução chinesa de Mao Tsé-Tung e das independências africanas. O motivo da morte não foi divulgado pela família, o fotógrafo estava com 93 anos.

Marc Riboud - Joel Saget/AFP

Recebeu a sua primeira máquina fotográfica, uma Kodak Vest Pocket, quando tinha 14 anos. Foi um presente do pai, o mesmo que insistiu para que estudasse engenharia, curso que nunca lhe interessou. Marc Riboud, um dos mais históricos fotojornalistas da França, morreu em Paris, aos 93 anos, na sequência de uma longa doença que não foi divulgada pela família.

Mesmo os que não conhecem o seu trabalho, é muito provável que já se tenham cruzado com alguma das suas fotografias da China de Mao, do Vietnã ou do Camboja. Mesmo os que nunca viram as suas reportagens no Extremo Oriente e no continente africano – fotografou intensamente o Japão e os processos independentistas – é natural que já tenham sido confrontados com uma das suas imagens mais celebradas, a de uma jovem americana chamada Jan Rose Kasmir que, segurando apenas uma flor, enfrenta a Guarda Nacional Americana durante uma manifestação no Pentágono em 1967, um protesto que viria a ser fundamental para colocar a opinião pública definitivamente contra a Guerra do Vietnã.

Trabalhando para importantes publicações ao longo de mais de 60 anos de carreira – Life, Geo, National Geographic, Paris-Match, Stern, The Observer,The Times -, chegando mesmo a assinar alguns dos textos que acompanhavam as suas grandes reportagens fotográficas, Riboud deu-nos sempre a sua visão humanista do mundo. É essa abordagem sensível à realidade, sublinhada por críticos e historiadores da fotografia a cada nova exposição sua, a cada novo livro, que os obituários que os jornais e revistas agora lhe dedicam evocam. Isto a par da mestria com que dominava o preto-e-branco e a cor, criando imagens que ficavam impressas na memória, cristalizando momentos da história através de lugares e protagonistas, como o Presidente da Polônia Lech Walesa, o líder comunista vietnamita Ho Chi Minh, o fundador da República Popular da China Mao Tsé-Tung, o histórico revolucionário cubano Fidel Castro ou o oficial nazi Klaus Barbie, o "carniceiro de Lyon", condenado por crimes contra a humanidade na década de 1980.


Revolução na China | Foto: Marc Riboud

 

“Marc foi o homem que mais fotografias históricas fez durante a vida”, disse ao diário francês Le Monde Jean-François Leroy, diretor do festival de fotojornalismo Visa pour l’image, em Perpignan, que nesta edição consagra uma das exposições a Riboud, centrando-se na sua reportagem em Cuba, em 1963. “Muitos fotógrafos se inspiraram nele sem jamais o igualar.” É também o seu talento para se aproximar das pessoas e captar a realidade em momentos-chave que Alain Genestar, director da revista Polka, especializada em fotojornalismo, destaca: “Marc Riboud era um fotógrafo-andarilho […].

Sabia captar tão bem momentos singulares, com grandes figuras mundiais, como cenas de rua.”
Colocado perante momentos que ficariam para a história, Marc Riboud não foge às figuras que são notícia, mas também não se concentra exclusivamente nelas. Das centenas e centenas de fotografias que tirou em países como a China, o Camboja, o Bangladesh, a Índia, o Tibete, o Paquistão, a Turquia ou o Japão, apenas um punhado se centra em pessoas, sobretudo líderes políticos, que viriam a merecer a atenção de historiadores e outros acadêmicos, escreve o New York Times, num texto em que noticia a sua morte e em que lembra, entre outras coisas, que o fotojornalista francês sempre soube encontrar “momentos de graça” nas situações mais duras com que se foi cruzando em todo o mundo, muitas delas em cenários de conflito.

Foto: Marc Riboud

Riboud fotografa os incontornáveis – de Charles de Gaulle ao ayatollahRuollah Khomeini, de Mikhail Gorbachev a Indira Gandhi, passando por Willy Brandt, Winston Churchill, Jawaharlal Nehru e Deng Xiaoping – mas também os pequenos que parecem brincar com os políciais e ladrões nas ruas de Xangai, as mulheres rodeadas de crianças numa fonte de Istambul, as festas de aristocratas na Irlanda do final dos anos 70 ou dois homens que param, à conversa, numa esquina da Argélia, em 1963, um ano depois de declarada a independência da ex-colônia francesa.