Lula e Wagner fazem articulações por mudança de votos no Senado

Apesar do burburinho com a presença de Chico Buarque no Senado, durante o início dos trabalhos de hoje (29) assistindo à defesa da Dilma Rousseff, o assunto mais comentado dos bastidores do Congresso, nesta segunda-feira (29), tem sido mesmo a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E a possibilidade de mudanças de votos com as articulações capitaneadas nos últimos dias por Lula e pelo ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner.

Lula, Dilma e Renan no Senado - Jane de Araújo/Agência Senado

Fazem parte da lista dos que podem mudar de posição, ou deixar de aparecer para votar, os senadores Jáder Barbalho (PMDB-PA) e Wellington Fagundes (PR-MT) – ambos por motivo de doença. Mas podem mudar de voto contra ou favorável ao impeachment Fernando Collor (PTB-AL), João Alberto de Souza (PMDB-MA), Edison Lobão (PMDB-MA), Roberto Rocha (PSB-MA) e Telmário Motta (PDT-RR). E há, ainda, a expectativa de que se isente de participar da votação o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

As possíveis mudanças não são exatamente favoráveis nem para os defensores da presidenta afastada Dilma Rousseff nem para a base aliada do governo provisório de Michel Temer. Mas deixam no ar um clima de confronto e de busca de alianças de última hora, que têm em Lula um dos seus principais protagonistas.

No total, as especulações dão conta de que entre 11 e 15 senadores estariam sendo alvo de contatos pelos parlamentares peemedebistas de um lado e parlamentares da base de apoio à presidenta afastada do outro. Não que, necessariamente, estejam indecisos em relação aos seus votos, mas pela possibilidade de, em função de fatores externos ou diferenças políticas observadas em seus estados, mudarem de posição no derradeiro instante.

Além dos nomes citados, são ainda mencionados Benedito de Lira (PP-AL), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Eduardo Braga (PMDB-AM), Hélio José (PMDB-DF), Romário (PSB-RJ), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Wilder Morais (PP-GO).

Casos de doença

Por parte de Jáder Barbalho as informações são de que, doente, tendo sido internado por três vezes nos últimos três meses, o senador, que faltou no sábado e hoje à sessão, pode ter dificuldades para estar em Brasília e votar o processo de impeachment. O filho de Barbalho, Hélder Barbalho, foi ministro dos Portos do governo Dilma, mas o apoio da família ao presidente interino Michel Temer é dado como certo e ponto já superado, conforme disseram esta manhã colegas do mesmo estado, o Pará.

Helder Barbalho é o atual ministro da Integração Nacional do presidente provisório e já tinha sido dada como certa a votação do pai pelo impeachment – que na primeira votação, em maio, também não participou alegando os mesmos motivos de saúde (argumento que terminou sendo questionado, na ocasião, por peemedebistas). “Ele está mesmo, tendo complicações, mas fará tudo para estar aqui amanhã”, afirmou um assessor.

Já no caso de Wellington Fagundes, o acaso pegou o senador e seus aliados num grande susto. Fagundes saiu do Senado seguindo forte dores, no último sábado, e foi direto para o Hospital de Base de Brasília. Foi diagnosticado que tem um quadro de diverticulite, motivo pelo qual ele ficou hospitalizado até hoje. De acordo com boletim médico divulgado por sua assessoria, apesar de estar em tratamento, ele deve ir para casa no início da noite. E amanhã participará da votação, “nem que chegue apenas na hora de votar”, conforme disse um assessor parlamentar.

Incômodo de Collor

Fernando Collor, que se não tivesse renunciado à presidência da República em 1992, teria sido o primeiro presidente brasileiro a sofrer impeachment, até agora se manifestou favorável ao afastamento de Dilma Rousseff. Collor, no entanto, suscitou dúvidas e interpretações diversas pelo fato de ter ido até o Palácio da Alvorada, sexta-feira, para uma longa conversa com a presidente afastada – que durou quase três horas. O parlamentar chegou ao Senado sem comentar sobre o encontro e posando em tom impávido, diante dos olhares de comparação entre o seu caso e o de agora.

Mas não conseguiu esconder o desconforto com os olhares para o seu lado quando Dilma Rousseff, mesmo sem se dirigir diretamente a ele, disse que não é “nem traidora, nem covarde”. E depois, quando ao comentar vários pedidos para renunciar, a presidenta afastada reiterou que jamais cometeria este gesto, culminando com uma frase: “Sou defensora veemente do Estado democrático de direito”.

Conversas divulgadas por senadores de vários partidos ao longo do dia, nos corredores, principalmente no chamado “Túnel do Tempo”, localizado entre o plenário do Senado e os gabinetes, também foram de que, no final de semana, Lula tratou de conversar com representantes de deputados e senadores da bancada do Maranhão.

Segundo pessoas próximas ao ex-presidente, são fortes as possibilidades de três senadores daquele estado – João Alberto de Souza, Edison Lobão e Roberto Rocha – mudarem de voto e passarem a se manifestar contrários ao impeachment. No caso de Souza, seria sua segunda mudança: no início, ele se posicionou contrário ao impeachment. Na segunda votação, fico favorável ao processo.

Tabuleiro ainda incompleto

Também tem sido questionada a possibilidade do senador Telmário Mota se posicionar, mas de forma oposta. Mota sempre foi contrário ao impeachment, mas passou as últimas duas semanas queixoso, reclamando que, enquanto ficava no Senado defendendo Dilma Rousseff, o PT estaria apoiando candidatos adversários aos seus, na eleições municipais em Roraima. Mota chegou a ser chamado para uma conversa com ministros do governo interino de Michel Temer no Palácio do Planalto, na última quarta-feira, mas tem se mantido calado sobre o tema.

Conforme contaram alguns pedetistas, o ruído estaria sendo contornado com a colaboração do grupo contrário ao afastamento da presidenta. Em especial, o senador João Capiberibe (PSB-AP), que além ter conseguido demover o amigo a mudar de posição também estaria tentando ter últimas conversas com integrantes da sua legenda.

“Isso aqui é um tabuleiro que se mexe a cada instante. Não dá para dizer que os acertos estão todos definidos”, afirmou mais uma vez o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Em reservado, os senadores do PT, PCdoB, PDT e Rede dizem que vão conseguir mudar pelo menos quatro votos em favor da presidenta Dilma. Mas peemedebistas e integrantes do PSDB, como Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) contestam. E dizem que, mesmo se não conseguirem os 61 votos que davam como certo até poucos dias atrás, não veem como o impeachment ser revertido.

No caso de Renan Calheiros, o senador tem dito a todos que está adotando uma “postura republicana”. Depois da discussão que teve com a colega Gleisi Hoffmann, Calheiros jantou posteriormente com Lindbergh Farias (PT-RJ) e Tião Viana para amenizar qualquer ambiente hostil. E recebeu hoje Dilma Rousseff no seu gabinete. Mas não deu declarações nem se vai usar ou não a prerrogativa que tem – como presidente do Congresso Nacional – de se abster de votar.