Temer esperava discurso "mais emotivo" da mulher Dilma e fica surpreso

Para o chefe do gabinete provisório, que não conta sequer com uma mulher na equipe ministerial, Dilma só poderia convencer os senadores chorando. O que viram foi uma mulher firme e encarando de frente seus algozes. Aliás, Dilma falou sobre essa questão em seu discurso.

"A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o país. Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014", salientou Dilma.

Ela destacou a luta contra o preconceito que sofre por ser a primeira mulher a governar o país: "Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superados, em muito, pela solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e brasileiros pelo país afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe".

Ela também destacou o apoio que tem recebido das mulheres pelo Brasil: "As mulheres brasileiras têm sido, neste período, um esteio fundamental para minha resistência. Me cobriram de flores e me protegeram com sua solidariedade. Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher presidenta do Brasil".

No momento em que Dilma discursava, segundo a Folha, Temer estava acompanhado do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, seu braço direito, e Geddel Vieira Lima (Secretaria do Governo).

Ainda de acordo com a avaliação feita pelo gabinete dos sem voto, Dilma adotou poucos recursos emocionais, o que segundo eles “poderiam conseguir votos de indecisos”.

A Folha disse que a cúpula peemedebista do golpe se irritou com as afirmações feitas pela presidenta Dilma que o governo interino é um "usurpador", mas, segundo a reportagem, “a ordem no Palácio do Planalto é não rebatê-la publicamente para criar uma polarização política que dê mais espaço ao discurso da presidente”.

Temer vai tentar se recuperar do baque com atividades da agenda presidencial. Vai receber medalhistas olímpicos, no Palácio do Planalto, mas está rezando para não receber nenhum “Fora Temer” em camiseta ou cartaz, já que essa foi a marca política do evento.

A Folha também afirma que Temer quase não dormiu esta noite por conta de conversas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve com senadores do Maranhão que foram assediados por ele com promessas.

Segundo o jornal, Temer conversou diretamente com os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Roberto Rocha (PSB-MA) para garantir que eles não vão mudar de voto de última hora. A situação demonstra que nem tudo está tão certo como eles bravateiam pela grande mídia.