Um milhão de chilenos na rua contra sistema privado de pensões

Governo de Michelle Bachelet está sob pressão para rever modelo de pensões estabelecido durante a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973 – 1990). Trabalhadores contribuem com 10% dos seus salários, mas em vez do retorno de 70% prometido recebem de volta em média 35% – e em 90% dos casos, as reformas são metade do salário mínimo.

Manifestação no Chile - Rodrigo Garrido/Reuters

Por conta disso, uma jornada nacional de protestos mobilizou mais de um milhão de pessoas em 50 cidades do Chile, mais da metade na capital Santiago.

Os manifestantes exigem que o Governo acabe com este sistema, que obriga ao depósito das contribuições dos trabalhadores em contas individuais semelhantes a poupanças reforma, geridas por entidades privadas designadas como Administradoras de Fundos de Pensão (AFP). Segundo denunciaram, este é um modelo que “perpetua as desigualdades” e que não garante a dignidade na velhice aos trabalhadores reformados.

“Não descansaremos enquanto não conseguirmos que as nossas contribuições para o pagamento de reformas deixem de estar ao serviço dos grupos econômicos e passem a estar ao serviço dos seus verdadeiros proprietários: os trabalhadores”, declarou o coordenador do movimento cidadão “No+AFP”, Luis Mesina.

O sistema de pensões privado foi criado em 1981 pelo Governo de Pinochet – abrangendo toda a sociedade exceto as Forças Armadas, a polícia e outras agências de segurança, que mantiveram o seu esquema mais generoso. O sistema é constituído por seis fundos de pensões, que em conjunto geram ativos de 143,5 mil milhões de euros.

Quando introduziu o sistema privado, Pinochet garantiu que os pagamentos das pensões equivaleriam a um mínimo de 70% do último salário antes da reforma. Os trabalhadores passaram a contribuir com 10% dos seus vencimentos para os fundos, mas quando alcançaram a reforma não receberam a pensão prometida – e desde então estão a receber em média 35% dos salários.

Segundo a Fundación Sol, 90% dos reformados chilenos cujos descontos foram depositados em contas geridas pelas AFP recebem pensões mensais inferiores a 154 mil pesos (equivalente a R$740), que são cerca de metade do salário mínimo estabelecido no Chile.

Sob pressão, a presidenta Michelle Bachelet já tinha apresentado há duas semanas várias propostas de revisão do sistema ao Congresso: a introdução de pagamentos das empresas para o sistema, através da cobrança de uma contribuição de 5% por cada trabalhador; o corte nas comissões dos gestores do sistema e o estabelecimento de uma pensão mínima universal. No entanto, estas pequenas mudanças foram consideradas insuficientes pelo movimento “No+AFP”, que não desarma da luta: sem alterações mais significativas, os manifestantes prometem convocar uma greve geral em novembro.