Atleta militar ou militar atleta? É só um programa de governo

A edição dos Jogos Olímpicos no Brasil reacendeu uma discussão já antiga nas redes sociais entre brasileiros. Os atletas, quando chegam ao pódio, batem continência, indicando que pertencem aos quadros das forças armadas. Uns acreditam que isso mostra excelência por parte delas na formação de atletas. Outros afirmam que o governo federal (leia-se Lula e Dilma) não investiu no esporte como deveria e, por isso, as Forças Armadas resolveram dar "uma forcinha". Não é bem isto.

Presidenta Dilma com atletas militares que participaram dos Jogos Militares de Seul - Lula Marques/ Agência PT

Cerca de um terço da delegação brasileira nos jogos é composta por sargentos. Entre eles, estão os três medalhistas de ouro: Rafaela Silva, sargento da Marinha; Thiago Braz, da Aeronáutica; e Robson Conceição, também da Marinha. Todos os medalhistas, fora Diego Hipólito, na verdade são terceiros-sargentos das Forças Armadas.

Na verdade eles são parte de um programa criado no Governo Lula, em 2008, e que se chama "Programa Atletas de Alto Rendimento": as Forças Armadas pegam o atleta pronto, dão automaticamente uma patente de terceiro-sargento e um salário de R$ 3.200. Em troca, a única exigência é que eles batam continência num eventual pódio.

Ninguém ali presta serviço militar, ou sequer começou nas Forças Armadas uma carreira militar. Eles só treinam. Se eles quiserem, podem usar as instalações dos quartéis para praticar seus esportes. a maioria, porém, utiliza as instalações de seus clubes.

O programa não foi iniciativa de ninguém da direita, como alguns erradamente consideram, atribuindo o programa ao deputado Jair Bolsonaro. Que estimulou a parceria foi o Ministério do Esporte, no ano já distante de 2008, com o Ministério da Defesa.

A ideia ali é aproveitar a presença das Forças Armadas em todo o Brasil. Em qualquer parte há um quartel das armas. Logo, atletas do Brasil todo passam a ter instalações para treinar – coisa que boa parte deles não tinha. Os salários equivalem a uma carta de alforria para a maior parte deles, já que sem esses R$ 3.200 os atletas sem patrocínio teriam de trabalhar, o que simplesmente os retiraria dos Jogos Olímpicos.

Esses salários custam R$ 18 milhões por ano ao governo. O que é um valor infinitamente pequeno. É o que Petrobras gasta em 20 dias com o aluguel de uma única sonda de petróleo. E a empresa opera 45 sondas. O ganho para o país a cada medalha supera fácil um gasto desses.

Entretanto, o apoio das Forças Armadas é puramente midiático – ele faz diferença para os atletas e eleva a participação esportiva do Brasil, trazendo inclusive mais apaixonados pelos esportes a participar de alguma maneira disso, ou praticando, ou assistindo. O custo disso é baixíssimo, aproveitando a estrutura que Exército, Marinha e Aeronáutica já têm.