Robson Conceição, o impávido ouro de Salvador

Robson Conceição bate francês na final do peso leve e fala de seu Estado como potência do boxe: "A Bahia é a Cuba brasileira".

Robson Conceição - Foto: Peter Cziborra/Reuters

Robson Conceição desperdiçou duas olimpíadas antes de chegar ao pódio da Rio 2016 e escrever uma página inédita para o boxe brasileiro. Em Pequim 2008, aos 19 anos, era apenas um garoto iniciando a carreira. Em Londres, quatro anos depois, o baiano de Salvador já era realidade para o boxe brasileiro, mais um representando do ringue de elite instalado em seu Estado. Nas duas ocasiões, no entanto, decepcionou. Foi eliminado logo na primeira luta e deixou a sensação de que saiu das competições muito antes de onde realmente poderia chegar. Foi só no Rio de Janeiro que o resultado final fez jus ao talento do brasileiro. O foco que faltou antes sobrou agora para vencer, com facilidade, o venceu o francês Sofiane Oumahi na final da categoria leve (até 60 kg).

Aos 27 anos, Conceição conquistou nesta terça-feira a inédita medalha de ouro para o Brasil na modalidade. "O que mudou agora é que eu estou com muito mais vontade de ser campeão. Eu era muito novo nas duas primeiras olimpíadas. Agora estou mais experiente, por isso hoje sou campeão olímpico", disse.

A história de Robson com o boxe começou aos 13 anos. As constantes brigas nas ruas de Salvador levaram o jovem para o esporte com a única intenção de melhorar suas habilidades e, assim, nunca mais apanhar. Só que o efeito foi inverso, e o fato de morar na Bahia, o Estado que deu os os boxeadores mais exitosos dos últimos anos, provavelmente teve influência direta nisso. "A Bahia é a Cuba brasileira", comparou ele ontem, em referência à potência caribenha no esporte.

Em vez de arrumar mais confusão nas rua, Robson passou a se interessar pelas lutas nos ringues. Nas mãos de um dos maiores treinadores do boxe brasileiro, Luiz Dórea, o garoto descobriu seu talento. Incentivado pelo sucesso de outros pupilos de Dórea, como Acelino Popó Freitas e Rodrigo Minotauro, Robson passou a levar a sério o esporte. E foi longe. Prata no Pan de 2011 e vice-campeão mundial em 2013, ele finalmente entra para a história do esporte brasileiro com o título no Rio.

A luta decisiva mostrou o tamanho da superioridade do brasileiro nesta Olimpíada. Ele mandou no combate desde o primeiro round e não deu chances ao francês. Venceu por decisão unânime dos juízes para a explosão da torcida no ginásio. "Eu nunca vi nada como isso aqui hoje, a energia dessa torcida. O Robson é um atleta que merece tudo isso. Ele foi nos Jogos de 2008 e 2012, e perdeu na primeira. Ele foi se desenvolvendo passo a passo e o resultado hoje foi esse", disse ao Sportv um dos treinadores do brasileiro, Mateus Alves, ainda emocionado depois da luta.

A final para Robson, porém, parece ter acontecido antes da disputa pelo ouro. Na semifinal, ele bateu o cubano Lázaro Alvarez, tricampeão mundial e velho adversário do brasileiro. Nos dois encontros entre os dois antes dos Jogos, uma vitória para cada lado. Em 2013, Alvarez venceu Robson na final do Mundial do Cazaquistão. Dois anos depois, o brasileiro levou a melhor no Campeonato Continental. A rivalidade entre os dois ficou clara após a luta, quando Robson deixou claro o quanto aquela vitória significava para ele — uma vitória sobre talvez o maior rival que ele teria que enfrentar na Olimpíada.

"Cubano é muito bom, e ganhar em cima dele é muito gratificante", disse o brasileiro após o combate. "Não gosto dele. Ninguém na galáxia gosta dele. É muito marrento. Os outros cubanos são humildes. Independentemente da situação, de vitória ou derrota, sempre falam com a gente, brincam. Ele é totalmente diferente. E hoje, teve o que merecia",  após a semifinal.

Ao final da luta, fez questão de agradecer à Petrobras, que o patrocina, e à Marinha, já que ele é terceiro-sargento. Assim como outros medalhistas brasileiros, Robson prestou continência à bandeira brasileira após ouvir o hino nacional durante sua premiação. Depois do ouro, a única coisa que Robson quer agora é ser recebido com festa em Salvador: "Estou chegando dia 18 e quero todos vocês comigo”.