O MST quer derrubar o mito de que os produtos orgânicos são mais caros

Conhecer a origem do que você come vai além do papo saudável sobre comida. É isso (também) que ficou claro quando estive com integrantes do MST, durante a inauguração do Armazém do Campo, uma loja aberta no dia 30 de julho no bairro da Barra Funda, em São Paulo. No espaço mantido pelo movimento é comercializada a produção agrícola excedente dos assentamentos e também é possível encontrar outros produtos industrializados orgânicos – tudo a um preço justo.

Por Carla Castellotti

Armazem do MST - Felipe Larozza/Vice

A ideia da criação do entreposto surgiu depois da 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada no Parque da Água Branca, em São Paulo, em outubro de 2015. A feira, que colocou à venda cerca de 800 variedades de produtos cultivados em assentamentos do MST, deu tão certo que a ideia do Armazém ganhou forma.

Delwek Matheus, assentado da região de Itapeva (SP), e um dos integrantes do MST a explicar a função do espaço aos jornalistas convidados para a coletiva de imprensa, contou que o movimento tem produção em todos os estados do país e que “a abertura do Armazém é uma forma de fazer valer o compromisso político da reforma agrária, seja levando alimentos saudáveis à mesa das pessoas, seja melhorando a renda do agricultor”.

Numa rápida volta pelo Armazém do Campo, localizado no bairro da Barra Funda, você encontra desde os produtos da marca parceira Mãe Terra a arroz, feijão e cachaça orgânicos, produtos da reforma agrária – estes últimos têm um selinho do MST pra você saber diferenciar dos demais. Há também hortifrúti reposto três vezes por semana e mais vidros com conservas, além de uns regalitos culturais como livros e cadernos – e um café orgânico muito bom.

Tudo isso sem você se sentir assaltado por ir checar os preços da seção dos orgânicos. Delwek Matheus, aliás, foi categórico em dizer que é mito essa história que produzir orgânicos é mais caro. Rodrigo Teles, filho de assentados do Paraná e coordenador do espaço, explica como a matemática do preço é possível: “Nós vendemos os produtos aqui a preço justo fazendo com que o agricultor, na ponta da cadeia produtiva, seja bem remunerado, já que não trabalhamos com a figura do intermediário”.

O Armazém, além de dar aquela força para o produtor, também funciona como revendedor dos produtos dos assentamentos – Teles diz que eles fazem preços diferenciados para compras maiores, tipo atacado. Há também entrega de compras na sua casa e pacotes mensais com cestas de produtos da reforma agrária. No sábado, dia 1º de agosto, quando o Armazém do Campo foi aberto ao público, era possível ter uma mostra de como a venda de produtos orgânicos sem atravessadores já começava a dar certo. Às 10h15 da manhã, passados 15 minutos da inauguração, já era difícil circular pelo espaço lotado de gente – e olha que na mesma rua do Armazém há feira aos sábados, além de um hortifrúti a poucos metros dali. Para checar a informação, fiz a lição de casa e comparei os preços dos orgânicos do Armazém do Campo com seus equivalentes vendidos no supermercado Pão de Açúcar e numa rede paulista de orgânicos chamada Quitanda Orgânica. Foram escolhidos 15 itens bastante populares, entre eles feijão, ovos, suco, açúcar, salgadinho (ninguém é de ferro), legumes, alface, banana e frango.

Poucas coisas têm preços similares, os que mais se aproximam nos valores são os produtos industrializados. Na ala das frutas e verduras, porém, os preços do Armazém do Campo são bastante inferiores. Vai vendo: