Sócrates: “Fidel representa o meu sonho de sociedade”

Pouco antes de morrer, o jogador Sócrates foi entrevistado no programa de entrevistas da jornalista Marília Gabriela e contou o que fez na sua última viagem, quando foi para Cuba. Sócrates, ex-jogador da Seleção Brasileira, de Botafogo (SP), Santos e Corinthians, onde mais se destacou, queria viver em Cuba e conhecer Fidel, de quem teceu elogios e até homenageou, batizando seu filho caçula com o nome do comandante da Revolução Cubana.

Sócrates em sua última viagem, em Havana

Neste trecho do programa De frente com Gabi, exibido pelo SBT, Sócrates fala sobre Cuba, Fidel, o bloqueio econômico e afirma que Cuba tem o sistema político que mais se aproxima do que ele acredita ser o ideal. O ex-médico e jogador também contra-argumenta a dupla moral da mídia burguesa questionando a apresentadora sobre as barbáries do imperialismo perante as quais eles se calam.

“Não existe sociedade perfeita, mas existem algumas que se aproximam daquilo que eu acredito, e Cuba é exatamente isso”, dizia o jogador.

Confira a entrevista:

Em Cuba

Sócrates caminhava com a mulher Kátia pelas ruas de Havana, apenas sete dias antes da primeira da três internações por que passou em 2011, antes de vir a morrer, em 4 de dezembro.

Foi quando viu alguns meninos, sem camisa e descalços, jogando bola em frente a uma das muitas praças com as imagens de Fidel Castro e Che Guevara, e pediu para a mulher registrar o momento. Cena incomum na capital cubana, o futebol puro das crianças o fez refletir sobre o convite recente que recebu para trabalhar na seleção do país comunista.

"Ele me disse que esta imagem dos garotos jogando futebol na rua representa o verdadeiro futebol arte. Sócrates lembrou que foi assim que o Brasil passou a existir para a bola", lembra Kátia Bagnarelli, viúva do "Doutor", que o acompanhou na viagem.

A proposta para Sócrates trabalhar na seleção cubana foi feita com cautela por uma pessoa ligada a Associação de Futebol de Cuba. O ex-jogador da seleção das Copas de 1982 e 1986 sempre foi admirador de Cuba e, principalmente, do seu povo.

"Teve uma pessoa do consulado cubano que veio conversar sobre essa possibilidade dele assumir a seleção. Eles sabiam que para chamá-lo para trabalhar, as pessoas nunca iam direto ao assunto. Ele não queria sair do Brasil, mas era um namoro que existia há um tempo", conta Katia, que viveu três anos ao lado de Sócrates.

Um dos líderes do que foi chamado de "Democracia Corintiana" nos anos 1980, Sócrates sempre defendeu o socialismo cubano. Sempre se mostrava impressionado com a forma com que os cubanos viviam.

"Um banho de cidadania, era assim que Sócrates dizia se sentir em Cuba", lembra Kátia, que vai levar adiante projetos culturais que ele queria desenvolver no Brasil e, segundo ela, nunca teve qualquer apoio.

Durante a última estadia em Cuba, Sócrates também se encontrou com um embaixador da Venezuela. O encontro era para marcar uma reunião com o presidente Hugo Chávez. Após a morte do Doutor, o governo venezuelano disse, em nota, que Sócrates "manteve vivo o sonho de Bolívar", em referência ao revolucionário venezuelano.