Frei Tito de Alencar é homenageado com título de cidadão de São Paulo

A cidade de São Paulo concedeu nesta quinta-feira (11) o Título Honorário de Cidadão Paulistano Post-Mortem ao Frei Tito de Alencar Lima, numa solenidade que reuniu vereadores, amigos do homenageado, religiosos, educadores, militantes políticos e sociais e artistas. Em nome da família, Lúcia Rodrigues de Alencar Lima, militante de direitos humanos, recebeu a homenagem.

Lucia Alencar - sobrinha Frei Tito - Foto: Andressa Vilela

A homenagem ao Frei Tito Alencar, símbolo de resistência aos 21 anos de regime militar no Brasil, foi proposta através de um projeto de decreto legislativo do vereador Toninho Vespoli (PSOL) e realizada em parceria com o Coletivo Frei Tito Vive. A mesa foi composta pela vereadora Juliana Cardoso (PT); o frei dominicano João Xerri; Vera Freitas, do Movimento Mães de Maio e um representante estudantil. A banda As Despejadas se apresentou ao longo da solenidade.

No início foi veiculado um vídeo em que Frei Betto, dominicano e companheiro de lutas do novo cidadão paulistano, reafirmou a importância daquela homenagem, pontuando que ”o sangue daqueles que foram mortos e torturados pela ditadura militar é semente de paz, esperança e renovação”. Frei Tito foi um dos dominicanos brasileiros presos e torturados pelo delegado Sérgio Fleury, do Departamento de Ordem e Política Social (DOPS) e da Operação Bandeirantes (Oban) durante os anos de chumbo no Brasil. Faleceu em 10 de agosto de 1974, durante seu exílio na França, porque não conseguiu viver com as lembranças das torturas que sofreu.

O encontro também foi um espaço para debater formas de ditadura e de resistência. Relembrando os crimes de maio, Vera Freitas, afirmou que a união de tantas mães que perderam seus filhos para a Polícia Militar continua forte e em busca de uma justiça que hoje, dez anos depois, ainda não chegou. “A gente sente a impunidade. Mataram e condenaram os filhos da gente”.

O estudante Erick Borges reafirmou a necessidade de se fazer política nas ruas para combater o capitalismo e o sucateamento da educação. A banda As Despejadas, por sua vez, pontuou que “despejado é todo aquele que luta por uma causa”, reafirmando que a música é a maneira que encontraram para resistir.

Em seguida, Frei João Xerri relembrou a trajetória de Frei Tito, declarando que “Tito vive porque vocês vivem, especialmente os jovens”. Ao que a vereadora Juliana acrescentou: “é preciso relembrar que Tito sempre lutou e resistiu, portanto, no atual momento político do Brasil, é preciso fazer o mesmo”.

Por fim, Lúcia Alencar relembrou que as mulheres, os negros e negras e tantos outros grupos marginalizados continuam sofrendo torturas no país. Por isso, a militante ressaltou a necessidade de continuar lutando, como Frei Tito sempre fez.

Para encerrar a solenidade, o vereador Toninho Vespoli fez uma fala saudando a trajetória de Frei Tito, alguém que não se calou e combateu a ditadura com a força das ideias de justiça social a partir de um Evangelho libertador. “Tito era o profeta. Porque é aquele que assume suas dores e suas alegrias, sente suas limitações e seus sonhos, respeita as diferenças, comunga com seus sofrimentos, suas indignações e seus anseios de libertação, justiça e dignidade. Profeta porque é aquele que vive a misericórdia, uma atitude que nada mais é do que a pura humanidade”, pontuou o vereador. Toninho também ressaltou a que violações de direitos ainda acontecem diariamente no Brasil através da violência policial, golpes políticos, preconceitos e uma tortura praticada em larga escala dentro do sistema carcerário. Por isso, afirmou o vereador, “não podemos temer tempos sombrios. Frei Tito Vive!”

O encontro contou ainda com as contribuições de Domingos Zamanha, André Carvalho e Inácio Carvalho, editor do Portal Vermelho, que relembraram a história militante de Tito e também pontuaram a necessidade de momentos como aquele, de resistência e organização política.