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Após furto, Veja prega estatização do Masp

A tragédia do furto das telas O Lavrador de Café, de Cândido Portinari, e O Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso  pode ser medida pela súbita conversão da Veja ao estatismo. A versão eletrônica de revista, campeã naci

“Em resposta ao milionário furto ocorrido esta semana no Museu de Arte de São Paulo, especialistas do setor e autoridades públicas passaram a defender que a instituição seja gerenciada pelo estado. “O estado é um ente permanente. Senão, vamos deixar tudo na mão de gangues e tribos”, afirma o secretário adjunto de Cultura do estado de São Paulo, Ronaldo Bianchi, ex-superintendente do Museu de Arte Moderna (MAM). “É federalizado, municipalizado ou estadualizado. E a gente topa gerir o Masp”, concluiu, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.



A visão é acompanhada pelo diretor da Pinacoteca do estado, Marcelo Araújo. “Sem dúvida, existem hoje casos de museus geridos pelo governo e muito bem-sucedidos”, diz. Na opinião dele, o modelo a ser seguido seria o já utilizado na Pinacoteca e no Museu da Língua Portuguesa, ambos na região central de São Paulo, em que há uma parceria entre o estado de associações privadas.



“Os sócios do Masp poderiam ser conselheiros e continuar acompanhando o desenvolvimento da instituição, mas não seriam mais os únicos, isolados”, observa o embaixador Rubens Barbosa, ex-conselheiro da instituição. Ele, porém, se disse contrário a que o estado assuma completamente o controle do Museu.



O ex-conservador-chefe do Masp Luiz Marques, que trabalhou no museu entre 1994 e 1997, disse que o atual modelo de manutenção é inviável. “Ele não tem recursos e não vai ter futuramente. É muito caro e vai se tornar cada vez mais caro e é essa a realidade dos museus no mundo.”



O furto foi notificado na última quarta-feira. Usando um macaco hidráulico, os ladrões abriram um vão em uma das portas de entrada do museu paulista e levaram duas das mais importantes obras do acervo: O Lavrador de Café, de Cândido Portinari, e O Retrato de Suzanne Bloch, do espanhol Pablo Picasso. Segundo a direção do museu, as instalações não possuíam alarme por falta de recursos. As obras também não tinham seguro.”



A versão impressa da revista informa que o quadro de Portinari é avaliado em R$ 10 milhões e o de Picasso em R$ 100 milhões. Comenta que “esses valores fariam do roubo ao Masp o maior do gênero já ocorrido no Brasil”, que “o desleixo com que acervos preciosos são tratados é um convite à gatunagem”, “o Masp vive há tempos uma situação lastimável” e “em 2006, passou pelo vexame de um corte de luz por falta de pagamento”.



A Veja não chama a atenção para uma curiosa coincidência: ambos os autores das telas surrupiadas foram comunistas de carteirinha. Pablo Picasso (1881-1973) filiou-se ao Partido Comunista Francês após a 2ª Guerra, em 1945, e nele permaneceu até a morte. Cândido Portinari (1903-1962) chegou a concorrer a uma cadeira no Senado pelo Partido Comunista do Brasil, em 1947, durante o breve intervalo de legalidade que este obteve com o fim do Estado Novo.



Talvez tenha sido melhor assim. A julgar pela filiação ideológica da revista, o fato poderia ser encarado não como um atestado do prestígio do comunismo entre os mestres da pintura, mas como uma suposta pista sobre a identidade dos criminosos.



Com Veja Online