Luta é no plenário: Sem crime, comissão aprova relatório golpista

Sem prova que fundamente o crime de responsabilidade, a Comissão Especial do Impeachment aprovou em sessão nesta quinta-feira (4), por 14 a 5, o relatório do senador tucano Antonio Anastasia (PSDB-MG) que defendeu o golpe contra o mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff.

Senadores contra o golpe - Agência Senado

A acusação contra Dilma foi baseada no inconformismo dos derrotados nas urnas e levada a cabo pela vingança do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por não ter recebido os três votos do PT contra a abertura do seu processo de cassação. Juridicamente o processo é nulo no mérito, pois nenhum dos pontos da acusação foi fundamentado no processo. Pelo contrário, ao longo da ação provas como as gravações feitas entre parlamentares da cúpula do PMDB com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, as perícias de técnicos do próprio Senado e as testemunhas reforçaram os argumentos da presidenta Dilma de que o processo era um golpe.

“Foram 5 votos a favor da democracia. É um momento muito triste para o nosso país, mas vamos seguir, pois a luta continua no plenário”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).

Ao manifestar seu voto contrário ao relatório de Anastasia, que classificou como “fraudulento”, a senadora comunista disse que o debate na comissão não foi técnico, mas apenas político.

“O caráter político é que explica a inutilidade, para o senador e o seu calhamaço, das perícias técnicas e pareceres jurídicos inclusive do Ministério Público, que desmentem as acusações usadas pelo impeachment. E é essa a verdade. Neste momento em que o Brasil assiste, estarrecido, às denúncias de corrupção e que o nome da presidente não foi incluído em nenhuma delas, estamos nós aqui, o Senado Federal, a dizer que ela tem que ser cassada por conta de três decretos, decretos que iguaizinhos foram assinados não só por presidentes anteriores, mas pelo vice usurpador, Michel Temer.”

Ela também rebateu os argumentos dos parlamentares que apoiam o impeachment que dizem que a crise política deixou o governo Dilma sem governabilidade. Segundo ela, “se Dilma perdeu a condição de governar, Temer não tem legitimidade para continuar no poder, principalmente para fazer o que quer fazer, entregar a riqueza brasileira para os estrangeiros”.

A senadora disse também que o relatório é contra as conquistas sociais dos últimos 13 anos, durante os governos Lula e Dilma. ”O que está sendo votado aqui, o que eles estão querendo acabar é com essas conquistas, e vêm falar de conjunto da obra, de irresponsabilidade fiscal. Quando li as conclusões, achei até que estava lendo a avaliação que ele fazia sobre os dois meses e meio do governo Temer, porque aquilo sim, isso sim que estamos vivendo é gastança; isso sim é desrespeito à política de estabilidade fiscal do país, à Lei de Responsabilidade Fiscal”, frisou.

E acrescentou: “A maioria do povo brasileiro sabe que isso é um golpe, sabe que isso é uma afronta grave à Constituição da República, que muita gente morreu para que tivéssemos a tal Constituição cidadã, muita gente perdeu a vida, mães perderam filhos, esposas perderam maridos, e maridos perderam esposas na luta em defesa da democracia que, hoje, essa maioria circunstancial, que transformou o parlamento brasileiro num colégio eleitoral de exceção, está enterrando, está colocando na lata do lixo”.

O senador Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, reforçou que o argumento das chamadas “pedaladas fiscais” e a edição de decretos sem autorização do Congresso foram praticados por outros governos sem que se considerasse crime.

“Isso aqui [o processo] é mero formalismo, o que estamos fazendo é dando ‘pedalada’ constitucional, passando por cima da Constituição para atender a um projeto político. Querem vencer no parlamento porque não conseguem vencer nas urnas”, afirmou.

A ex-ministra da Agricultura de Dilma, Kátia Abreu (PMDB-TO), afirmou que o processo de impeachment é fruto de “uma chantagem de Eduardo Cunha”.

Ao declarar voto contrário ao relatório, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) expressou sentimento de indignação com os rumos tomados no processo.

“Meu voto é não contra esse golpe. Hoje temos um dia de grande farsa no Senado”, afirmou Lindbergh, reforçando que a presidenta Dilma é vítima de um conluio das elites empresariais, contrárias aos interesses dos trabalhadores.

O senador finalizou o seu voto afirmando ter a certeza de que Dilma será absolvida perante a história e que o governo interino de Michel Temer não terá como se sustentar.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que, apesar de um resultado desfavorável para Dilma, os aliados da presidenta afastada cumpriram seu papel. Ela criticou a comissão por ter dado mais importância ao rito que ao conteúdo e avaliou que há um golpe em curso, “não contra Dilma, Lula ou o PT, mas contra os 54 milhões de eleitores”.

Rito do processo

O relatório deverá ser votado pelos 81 senadores no plenário da Casa na próxima terça-feira (9). A sessão será presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Para o relatório ser aprovado em plenário, são necessários votos da maioria simples dos parlamentares, ou seja, metade mais um dos presentes à sessão. Caso os senadores decidam pela continuidade do processo, Dilma será julgada no fim do mês, em data ainda a ser definida.

No julgamento final, os senadores terão de decidir se Dilma será afastada definitivamente do cargo e ficará inelegível por oito anos. Para aprovação, são necessários, no mínimo, 54 votos, em votação no plenário do Senado.