Lu Castro: " Pense, você está sendo cafona, papai"

Aí eu acordei na segunda-feira lendo uma notícia para tirar do sério qualquer pessoa minimamente sensata. Antes de contar sobre as linhas que desagradaram, convém voltar uns dias no tempo.

Centro Olímpico Futebol feminino

A Copa Moleque Travesso aconteceu de 3 de abril a 10 de julho no campo social do Juventus e contou excepcionalmente este ano, com a equipe feminina sub13 do Centro Olímpico. A campanha das meninas foi notável especialmente por estarem pela primeira vez na competição direcionada para equipes masculinas.

Terminaram a primeira fase em 3º lugar avançando às semifinais. No jogo da semi, diante do Olímpia, venceu por 3 a 1 e enfrentou o São Paulo na final. Na final, diante de um público formado prioritariamente por familiares, as meninas do Centro Olímpico sob o comando do técnico Lucas Piccinato, venceram por 3 a 0 e ergueram a taça da competição em sua categoria.

Esta é a notícia legal, muito comentada na semana em que aconteceu o jogo, inclusive.

Mas aí chegou a segunda-feira, e, como estamos lamentavelmente nos habituando, mais uma segunda-feira em que se exige fígados saudáveis para lidar com a realidade dos fatos.

Matéria publicada pelo Portal Uol, deu sinais em seu título de que seria difícil tragar o conteúdo. Não pela escrita, óbvio, mas pelo assunto desagradável: “Time feminino conquista título contra garotos. Pais dos meninos não aceitam”. O relato do técnico Lucas pode ser lido neste link.

Diante do relato, lembrei-me de Aretha Franklin no filme Blues Brother, de 1980. A letra diz mais ou menos o seguinte ~pense sobre o que você está tentando fazer comigo…deixe sua mente te levar, deixe-se ser livre…as pessoas andam por aí todos os dias jogando e marcando pontos, tentando que outras pessoas percam a cabeça, bem, tenha cuidado para não perder a sua.

A mensagem na música não poderia ser mais perfeita para o momento:

Pensa…um pouquinho de respeito!

Alô pais dos meninos! Inadmissível não é alguém perder seja lá para quem for. Perder é do jogo. Que raios de educação esportiva vocês estão dando aos seus filhos? Inadmissível é a postura de vocês diante das crianças.

Inadmissível é tratar os meninos como os donos do campo de futebol e às meninas coubesse apenas assistir, como se elas fossem incapazes de desempenhar as mesmas funções dentro deste espaço. É inserir na cabeça jovem das crianças, uma misoginia que pode ter consequências desastrosas no futuro.

Vou além! É quase como incentivar que seu filho, o homem do futuro, restrinja os espaços frequentados pelas mulheres. É quase como incentivar que os futuros maridos, namorados, pais ou qualquer coisa que o valha, desempenhem o papel nojento de homem opressor incapaz de lidar com a livre expressão da mulher. É quase como incentivar a violência contra o gênero feminino.

E pior…Ô papinho cafona, hein?

Em tempo: Cinco meninas foram escolhidas para compor a seleção da categoria sub13 da competição. Quatro delas do Centro Olímpico.