Altair Freitas: Bernie Sanders contra o esquerdismo

A eleição nos EUA tende a se transformar em uma das mais dramáticas da história recente do "grande irmão" do Norte. Será decidida entre os ultra liberais do Partido Republicano, representante mais explícito do reacionarismo e imperialismo ianque e Hillary Clinton, do Partido Democrata, o lado soft do Big Stick hegemonista, pálido herdeiro do legado do presidente Roosevelt, provavelmente o mais importante dirigente daquela nação desde a época da independência e pós Lincoln.

Por Altair Freitas*

Bernie Sanders

Os democratas têm fama de serem mais próximos à massa trabalhadora e adeptos de políticas sociais que beneficiem os mais pobres.

Nas prévias, o senador democrata Bernie Sanders, auto intitulado como "socialista democrático" empolgou multidões com seu discurso duro contra o capital financeiro e propondo reformas que possibilitassem maior controle sobre a livre circulação dos bilhões de dólares ganhos com a especulação financeira e a criação de novos programas voltados para combater a grande pobreza que assola mais de 60 milhões de estadunidenses. Sanders foi roubado nas prévias do PD.

A cúpula partidária manipulou a condução das prévias para favorecer Hillary, conforme vazamentos de 20 mil emails pelo WikiLeaks. Derrotado, Sanders protestou, registrou abertamente sua queixa mas decidiu apoiar Hillary.

Sanders sabe que a vitória de Trump pode representar um enorme retrocesso interno e a acentuação da retomada hegemonista em escala global pela ótica da Força militar com consequências globais possivelmente dantescas.

Sanders dá uma lição sobre tática à esquerdolandia tosca do seu país a partir da sua postura pessoal. Vai ter que convencer seu eleitorado a ir às urnas e sufrágio Hillary, eleitorado magoado, abatido pela derrota nas prévias e que tende a achar que tanto faz quem vença. Eleitorado que talvez prefira ficar em casa no dia da eleição ao invés de "sujar a mão" votando em Hillary.

Esse tipo de comportamento pode ser ótimo para o fígado, para a manutenção da pureza da "alma", como pregam por aqui alguns setores da nossa "esquerda ética e purinha". Mas esse comportamento pode render a Trump uma vitória eleitoral. E advinha quem vai de roldão num eventual governo dele?

Os puros de alma, os radicais de francaria, os que – lá como cá- não conseguem enxergar as fissuras e contradições *óbvias* entre as frações da classe dominante ianque – e brasileira – bradam suas mágoas. Porém, as grandes transformações políticas mundiais e nas nações, *nunca* foram feitas pelos puros de alma. Mas por quem, tendo princípios a defender e não o principismo inócuo, mudanças a implementar, soube fazer alianças e explorar as fissuras no campo inimigo.

Por lá, poderiam reestudar como foram as lutas e guinadas táticas no processo de independência, na guerra civil e fim da escravidão e nas ações dos EUA na Segunda Guerra Mundial. Por aqui também. A lista de exemplos da nossa história sobre os efeitos nefastos do esquerdismo no movimento político mais avançado, ontem e hoje, é bem razoável.