PF acusa e prende "suspeitos" que realizariam atos terroristas

O Brasil foi surpreendido na manhã desta quinta-feira (21) com a execução de uma operação policial-midiática que prendeu 10 pessoas, acusadas de participar e organizar uma célula da rede terrorista Estado Islâmico no país. Essa célula teria como missão executar atentados durante os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.

Polícia Federal

A Polícia Federal executou o que chamou de "Operação Hashtag". Segundo as forças policiais, por meio de vigilância nas redes sociais como Facebook e Twitter, os policiais puderam localizar e identificar os suspeitos. A polícia fala ainda de interceptação de comunicações envolvendo os aplicativos Telegram e WhatsApp, sem entrar em mais detalhes.

Em Guarulhos, prenderem um professor de língua árabe, acusado de participar da tal "célula". Vitor Barbosa Magalhães, conhecido das redes como Vitor Abdullah, de 23 anos, trabalha na funilaria de seu pai para sustentar dois filhos e se converteu ao islamismo em 2010. Em 2012, ele foi convidado a ir para o Egito para estudar a língua árabe e a religião. Lá passou seis meses e retornou para a cidade de Guarulhos, onde mora com a esposa e dois filhos.

Larissa Rodrigues, sua esposa, afirma que eles foram acordados na manhã desta quinta por cinco oficiais da Polícia Federal que possuíam mandados de busca e apreensão e de prisão. “Os mandados foram expedidos no endereço dos meus sogros, mas o Vitor disse que não tinha nada a esconder e que os policiais podiam olhar a casa”, afirmou a esposa.

Ela diz ainda que Vitor não tinha instalado o aplicativo Telegram. “Os únicos grupos que ele tinha no WhatsApp sobre o islã, eram os de árabe, porque ele dá aula pelo YouTube e responde as dúvidas por mensagem”, conta Larissa.

Em uma entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira para comunicar a prisão de dez suspeitos, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que eles estavam planejando a compra de armas – pela internet – de grosso calibre para futuros ataques. Segundo a esposa, a única arma que Vitor tinha em casa era um arco-e-flecha, porque ele pratica o esporte.

No início da semana, Vitor foi avisado por alguns amigos que sua foto estava na matéria da revista Veja. O panfleto da Editora Abril aproveitou o atentado de Nice para levantar a questão da segurança dos Jogos do Rio de Janeiro, insistindo na tese de que o país não está preparado para ações contra o terrorismo e que o Estado Islâmico teria interesse em realizar algum atentado durante os jogos Rio-2016.

Na foto que ilustra a reportagem, Vitor segura o “estandarte negro”. Atualmente, a bandeira que possui os dizeres “não há deus a não ser Deus e Maomé é o profeta de Deus”, está vinculada ao Estado Islâmico e outros grupos fundamentalistas religiosos.

Veja diz que 32 brasileiros já juraram lealdade ao Estado Islâmico, dentre eles o aprendiz de mecânico. Não se sabe de onde tirou esta informação, mas ela furou a própria investigação da Polícia Federal. Certamente Vitor teria desaparecido depois da matéria se tivesse realmente algum plano secreto de explodir o que quer que fosse durante os Jogos Olímpicos.

Segundo Larissa, a foto foi tirada durante a viagem de Vitor ao Egito e nem mesmo o jovem teria a imagem. “Assim que surgiram as primeiras relações da bandeira com o Estado Islâmico, ele apagou as fotos, inclusive do computador, mas deve ter ficado alguma no Facebook de algum companheiro de viagem dele”.

A esposa fala ainda que, no primeiro momento, Vitor nem deu valor à publicação, mas depois, por orientação de amigos, decidiu procurar um advogado. “O advogado falou que não adiantaria processar, mas disse também pra ele fazer um boletim de ocorrência. Ele ia fazer o boletim essa semana, mas não deu tempo”, lamenta.

Vitor teve a prisão temporária decretada com base na lei Antiterrorismo, sancionada em maio pela presidenta Dilma.

Foi a primeira vez que a lei foi aplicada. Ela prevê como crime “promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista; realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito”.

Segundo a polícia, eles trocaram mensagens nas redes sociais e foram recrutados pela internet. Com autorização judicial, a PF investigou as correspondências nas redes sociais e descobriu relatos de compra de armamento e plano de realizar um atentado durante os Jogos Olímpicos. A investigação também identificou nas mensagens que os detidos chegaram a comemorar o atentado terrorista em uma boate LGBT em Orlando, EUA, que deixou 50 mortos e 53 feridos.

Na ação desta quinta foram apreendidos computadores e celulares dos suspeitos e a PF avisou que eles ficarão aprisionados por 60 dias, mesmo sem qualquer evidência concreta de que estavam planejando um ato terrorista.

Confira o que foi divulgado sobre o caso:

1) Quem eram os suspeitos?

São 12 pessoas com prisão decretada, sendo que 10 já foram detidas. Todos os suspeitos são brasileiros, há jovens e pessoas de meia idade.

De acordo com a Justiça Federal, os investigados preconizam a intolerância racial, de gênero e religiosa, além do uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus objetivos.

Eles foram detidos em dez Estados: Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Dois deles já foram condenados e cumpriram prisão por homicídio.

2) Como eles se comunicavam?

Os envolvidos participavam de um grupo virtual chamado Defensores da Charia – a lei islâmica. A investigação contou com quebra de sigilo telefônico e de dados dos suspeitos, que trocavam mensagens usando redes sociais.

Eles também se comunicavam via aplicativos de mensagens instantâneas como WhatsApp e Telegram. Questionado pela BBC Brasil, o ministro disse, no entanto, que não poderia esclarecer se houve monitoramento desses aplicativos.

Nesta semana, o WhatsApp foi tirado do ar por algumas horas, após decisão judicial, justamente por sua resistência em quebrar a privacidade dos usuários para permitir monitoramento de supostos criminosos – a empresa diz que, como as conversas agora são criptografadas de ponta a ponta, ela não tem acesso às conversas.

3) Qual era o contato com o Estado Islâmico?

Segundo as investigações, não houve contato direto com os extremistas. Mas alguns dos suspeitos fizeram juramento ao grupo pela internet – de acordo com Moraes, isso foi realizado por meio de uma ferramenta online padrão. Ele não soube precisar o número.

4) O que permitiu que eles fossem presos?

O grupo detido nesta quinta-feira está sendo investigado com base em dois artigos da recém aprovada lei 13.260, a Lei Antiterrorismo.

Segundo o juiz Silva, um deles é o artigo 3º, que caracteriza como crime "promover, constituir, integrar ou prestar auxílio" a organização que realiza ataques terroristas. A punição varia de cinco a oito anos de prisão e multa.

O outro é o artigo 5º, que descreve a ação criminosa de "realizar atos preparatórios de terrorismo". A pena para esse crime depende do ato que vinha sendo realizado pelo suspeito. Um deles seria o envio de um e-mail para uma loja de armas para comprar um fuzil AK-47.

5) Que tipo de ataque pretendiam executar?

Um ataque por tiros, já que discutiram sobre treinamento em armas e um deles tentou comprar um AK-47, segundo o ministro Moraes.

6) Qual o nível de periculosidade do grupo?

Moraes classificou o grupo de "célula absolutamente amadora" e "desorganizada". Os suspeitos vivam em Estados diferentes e nunca tinham se encontrado pessoalmente.

7) Qual o grau de risco para a Olimpíada?

Nem o governo golpista nem as agências internacionais alteraram a classificação de risco de ataque no Brasil após essas prisões.