Maria José Braga afirma que mídia faz oposição a Dilma e Lula

“Os grandes veículos abandonaram o Jornalismo para assumir o papel de partido de oposição ao governo federal de Luiz Inácio Lula da Silva e a Dilma Rousseff”. É o que afirma Maria José Braga, candidata à presidência da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). As eleições para a entidade começam nesta terça-feira (19) e prosseguem até quinta-feira (21) em todo o Brasil. 

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“A democratização dos meios de comunicação é uma das nossas bandeiras históricas”, afirmou Maria José. Na opinião dela, que condenou a formação de monopólios e oligopólios, é necessário criar um marco regulatório para as comunicações. A jornalista exorciza a proposta de extinção da EBC e defende a legalidade da permanência de Ricardo Mello na presidência.
 
“É preciso criarmos o Conselho Nacional de Comunicação, como órgão regulador e fiscalizador. Ressalto que existe órgão semelhante em outros países do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Portugal”, complementou.
Crítica, Maria José Braga diz que impeachment, sem crime de responsabilidade, é golpe. Mais: ela afirma que Michel Temer quer promover o desmonte do Estado. “Até o Ministério Público Federal admite que pedalada fiscal não constitui crime”, ressaltou.
Ela emendou que a expansão da internet e baixa qualidade dos produtos ofertados à sociedade explicariam a queda vertiginosa da tiragem dos grandes jornais impressos no Brasil. “O futuro do Jornalismo é o Jornalismo bem feito, independentemente da plataforma midiática”, assegurou.
 
Leia a íntegra da entrevista:
 
Diário da Manhã – Qual a sua plataforma à presidência da Federação Nacional dos Jornalistas?
 
Maria José Braga – Minha candidatura à presidência da FENAJ tem como objetivo a continuidade do trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos anos pelo grupo político que está à frente da nossa Federação. Este trabalho pode ser dividido em três grandes eixos de luta: defesa do Jornalismo como atividade essencial à democracia; defesa do jornalista como profissional que faz Jornalismo e defesa da democratização dos meios de comunicação e das liberdades de expressão e de imprensa. Cada grande eixo se desdobra em diversas frentes de trabalho. Ao defender o Jornalismo como atividade necessária socialmente, defendemos a regulamentação da atividade jornalística, com a regulamentação da profissão e também a criação do Estatuto do Jornalismo Brasileiro, com obrigações para a categoria profissional, mas também para os empresários que exploram o Jornalismo como negócio. Na defesa do jornalista, temos várias batalhas, que incluem desde a criação do Piso Nacional da categoria até a questão da segurança dos profissionais, que têm sido vítimas frequentes de violência no Brasil e em vários países do mundo. Em relação à democratização dos meios de comunicação, as frentes de luta são muitas, a começar pela regulamentação do Capítulo V da Constituição Federal que, prevê, entre outras coisas, a proibição de monopólios e oligopólios na área das comunicações e a regionalização da produção artística, cultural e jornalística. E, claro, somos nós os jornalistas e não as empresas de comunicação que defendemos de fato as liberdades de expressão e de imprensa.                                  
 
DM – Quando será a eleição, quantas chapas em disputa, onde votar e quem tem direito a voto?
 
Maria José Braga – Primeiramente, eu queria destacar que a FENAJ é a única federação sindical do mundo que faz eleições diretas para a escolha de seus dirigentes. Isso é um grande desafio, mas é a melhor forma de garantir o debate democrático e a participação de toda a categoria no processo eleitoral. Todo jornalista sindicalizado e em dia com sua entidade sindical pode votar. As eleições são organizadas por uma Comissão Eleitoral Nacional, escolhida pelo Conselho de Representantes da FENAJ, e pelas comissões regionais/locais, constituídas pelos 31 Sindicatos de Jornalistas existentes no país. Duas chapas estão na disputa e as eleições vão ocorrer nos dias 19, 20 e 21. Em Goiás, na Bahia, no Ceará, em Pernambuco, no município do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul ocorrem simultaneamente eleições para a renovação das diretorias dos Sindicatos.
 
DM – A democratização da mídia, no Brasil, compõe a sua agenda?
 
Maria José Braga – A democratização dos meios de comunicação é uma das bandeiras históricas da FENAJ e, claro, vai continuar no centro da nossa luta. Já citei a necessidade de regulamentação do Capítulo V da Constituição Federal, mas defendemos o que chamamos de novo Marco Regulatório das Comunicações, que pode ser composto por um conjunto de leis que garantam mais democracia no setor. No Brasil, as empresas de comunicação têm um poder muito grande e a sociedade não tem direito algum, quando se trata de comunicação social. O cidadão e a cidadã brasileira precisam ter mecanismos para enfrentar a atuação muitas vezes abusiva desses meios de comunicação. Por isso, defendemos a criação do Conselho Nacional de Comunicação, como órgão regulador e fiscalizador. E ressalto que existe órgão semelhante em outros países do mundo, como Estados Unidos, Inglaterra, Espanha e Portugal. Portanto, não se trata de censura – como sempre dizem os representantes das empresas de mídia –, mas de uma regulação e fiscalização democrática. 
 
DM – O que a senhora pensa sobre a proposta de extinção da EBC?
 
Maria José Braga – A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) está ameaçada pelo governo golpista. Em todo mundo, os sistemas públicos de comunicação contribuem para a democratização da comunicação e para a criação de paradigmas na produção artística, cultural e jornalística. A BBC é o maior e mais conhecido exemplo de empresa pública de comunicação. A PBS nos Estados Unidos tem um grande papel na divulgação da cultura daquele país. No Brasil, infelizmente, temos uma grande preponderância do sistema privado e isso precisa mudar. A EBC foi criada pelo ex-presidente Lula e já mostrou sua importância em pouquíssimo tempo de vida. Justamente por seu papel público, estão ameaçando-a. A ameaça é real. Michel Temer pode modificar a lei que a criou a EBC como uma empresa pública, para reduzi-la a uma empresa governamental.
 
DM – O mandato de Ricardo Mello é legal e deve ou não ser defendido?
 
Maria José Braga – O mandato do presidente da EBC é legal e deve ser defendido. A FENAJ foi a primeira entidade a denunciar que o governo golpista estava desrespeitando a lei ao destituí-lo e fomos ao Ministério Público Federal pedindo uma ação em defesa do respeito à lei que criou a EBC. Esta lei prevê mandato de 4 anos para o presidente, que somente pode ser destituído por decisão do Conselho Curador da empresa. Michel Temer chegou ao Planalto e imediatamente destituiu o presidente. Felizmente a Justiça fez prevalecer a lei e o presidente Ricardo Melo voltou ao seu posto. 
 
DM – Os grandes conglomerados de comunicação, no Brasil, imprimiram uma cobertura ética sobre a crise que afastou Dilma Rousseff?
 
Maria José Braga – Definitivamente, não. A FENAJ, desde 2015, vem denunciando a atuação partidarizada dos grandes veículos de comunicação. Os grandes veículos abandonaram o Jornalismo para assumir o papel de partido de oposição ao governo federal. Isso foi inclusive assumido publicamente pela ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) Judith Brito, executiva do jornal Folha de S. Paulo. Ainda no governo Lula, ela afirmou em entrevista que a imprensa tinha assumido o papel de oposição ao governo, porque os partidos de oposição estavam muito fracos.
 
DM – Impeachment, sem crime de responsabilidade, pode ser classificado como golpe?
 
Maria José Braga – Não temos dúvidas de que estamos vivendo um golpe no Brasil. O impeachment é uma farsa montada para dar um ar de legalidade ao golpe. Até o Ministério Público Federal já reconheceu que as chamadas pedaladas fiscais não constituem crime de responsabilidade. Então, o único argumento contra a presidenta Dilma caiu por terra. A mídia ficou em silêncio, porque faz parte do golpe em andamento, assim como ignora as inúmeras manifestações populares contra o golpe que têm ocorrido em todo o país. 
 
DM – O que esperar das reformas – Previdenciária e Trabalhista – anunciadas por Michel Temer?
 
Maria José Braga – O pior. O governo golpista e interino tem a missão de desmantelar o Estado brasileiro, entregar nossas riquezas – principalmente o pré-sal – e retirar os direitos conquistados pela classe trabalhadora. Há alguns anos, a direita brasileira (que é constituída pela elite econômica do país), tenta eliminar os direitos trabalhistas garantidos pela CLT. Os trabalhadores têm resistido e impedido o retrocesso. Mas o governo golpista, apoiado por esse Congresso Nacional conservador, tem pressa em promover o desmonte da CLT, assim como tem pressa em fazer a reforma previdenciária, que nada mais é do que retirar direitos dos trabalhadores. Temos de resistir.
 
DM – Como explicar a queda vertiginosa na tiragem dos grandes veículos de comunicação do suporte impresso?
 
Maria José Braga – Essa não é uma análise fácil e, acredito, tem vários fatores associados. O principal deles, sem dúvida, é a expansão da internet. É muito mais barato fazer um jornal ou uma revista na plataforma virtual. Papel custa caro, impressão custa caro e a logística de distribuição também é cara e lenta. Por isso, muitos jornais e revistas deixaram de existir em papel e estão somente na internet. Mas existem outros fatores, como a baixa qualidade dos produtos ofertados à sociedade.
 
DM – O futuro do jornalismo é a internet?
 
Maria José Braga – Costumo dizer que o futuro do Jornalismo é o Jornalismo bem feito, independentemente da plataforma midiática. A televisão, o rádio, a internet e mesmo o impresso podem e devem ser plataformas bem utilizadas para a difusão da informação jornalística.