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As mulheres que mostraram a Guerra Civil Espanhola ao mundo

A Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939) foi uma epopeia da humanidade. Durante quatro anos os espanhóis resistiram contra a implantação de uma ditadura e o mundo voltou os olhos para aquele povo. Jornalistas e fotógrafos de todas as partes desembarcavam diariamente na Espanha para contar a história, entre eles, duas mulheres jovens e cheias de coragem: Gerda Taro e Martha Gellhorn.

Por Mariana Serafini

Gerda Taro e Martha Gellhorn - Divulgação

Elas eram muito jovens e ainda “sem experiência” com o jornalismo, mas carregavam na mochila um senso de justiça indiscutível e uma coragem que não as fez titubear ao encarar os campos de batalha. Gerda com seus recém completos 26 anos era fotógrafa e acompanhou o colega Robert Capa em todas as expedições. Martha, com 28, também não se intimidou com o front e contou as histórias mais inimagináveis da guerra.

Elas tiveram em comum – além da juventude e da coragem – a sensibilidade de mostrar a guerra que nem todos viam. Gellhorn conta sobre o comportamento das pessoas que mesmo com bombas caindo, insistiam em manter a normalidade da vida e se encontravam nos bares para beber em meio aos escombros. Em uma de suas reportagens ela descreve este cenário, literalmente de guerra, e sobre como a autoestima fez com que a resistência aumentasse tanto.


Guerra Civil Espanhola | Foto: Gerda Taro


Gellhor narra episódios em que saía caminhar e conversar com as pessoas. Suas reportagens descrevem com detalhes a maratona diária das mulheres para conseguir levar comida para a família. As aventuras das crianças que precisavam desviar das bombas para ir à escola, e mesmo assim não faltavam às aulas.

Em uma de suas tantas recorridas pelos bairros próximos ao hotel onde ficou hospedada, Gellhorn visitou uma família que vivia numa casa metade escombros, metade pronta para cair nos próximos segundos. Ela detalha o percurso pelas escadarias em pedaços, as janelas, a escassez de alimentos e não deixa escapar a tristeza da mãe por ter perdido sua máquina de costura. Em nenhum momento ela contou ao mundo sobre as cifras da guerra, as estatísticas e os gráficos. Ela contou ao mundo como eram as pessoas.


Guerra Civil Espanhola | Foto: Gerda Taro

As fotografias de Taro são de uma sensibilidade sem limites. Mesmo com as idas frequentes ao front, ela registrou com muita precisão os “os arredores da guerra”. Crianças, mulheres, enfermeiras, soldados em um momento de descanso, nenhum detalhe passou despercebido aos seus olhos.

O trabalho mais importante de Taro foi a cobertura da Guerra Civil Espanhola, e também o último. Ela morreu aos 27 anos atingida por um tanque de guerra do ditador Francisco Franco no meio do campo de batalha. Suas imagens mostraram ao mundo uma Espanha cheia de vida, de mulheres disposta a lutar e crianças de olhos sonhadores.


Guerra Civil Espanhola | Foto: Gerda Taro


Gellhorn foi uma das maiores correspondentes de guerra do século 20. Cobriu praticamente todos os conflitos que aconteceram durante seus mais de 60 anos de carreira. Mas mesmo com um legado tão vasto, constantemente é lembrada com “a esposa de Ernest Hemingway”, com quem foi casada por apenas cinco anos (1940 – 1945). Eles se conheceram durante a cobertura da Guerra Civil Espanhola, se casaram logo depois e viveram numa casa agradável em Cuba em meio a muitas brigas e mojitos. Se separaram porque ele “roubou” um trabalho dela como correspondente de uma revista norte-americana.

Diferente de Taro, Gellhonr viveu muito tempo. Trabalhou até meados dos 80 anos e aos 89, praticamente cega em decorrência de um câncer, cometeu suicídio.


Músicos de rua cegos durante a Guerra Civil Espanhola | Foto: Gerda Taro


As fotos de Taro poderão ser vistas no Brasil a partir do dia 23 de julho. O Centro Cultural Caixa vai exibir as imagens de Taro, Robert Capa e David Seymour da Guerra Civil Espanhola. Veja mais informações aqui. As reportagens de todos os conflitos que Gellhorn cobriu ao longo da vida podem ser lidas no livro A Face da Guerra.