Base que Temer dizia ser “sólida” está indo para o ralo com Cunha

A renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e a corrida pela sucessão à presidência da Câmara dos Deputados demonstra que a base aliada que o governo provisório de Michel Temer (PMDB) disse ser “sólida” está derretendo.

Cunha e Temer - Antonio Cruz/Agência Brasil

Na semana passada, o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), reapareceu na mídia depois de um tempo afastado por conta das delações da Lava Jato, e disse que a legenda apoiaria o candidato de Temer se ele e o PMDB apoiassem o candidato que eles apresentassem para 2017. Vaja que a preocupação dos tucanos não é com a pauta que o país precisa num momento em que enfrentamos uma das mais graves crises políticas.

Mas depois de um jantar com o deputado tucano Antonio Imbassahy e Temer, Aécio já elevou o tom da conversa. No encontro, eles avisaram que têm projeto próprio e dificilmente votarão a favor do candidato escolhido por Temer e Cunha, Rogério Rosso (PSD). Isso porque os tucanos já queimaram o seu filme com Cunha, quando ele ainda não havia aceitado o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma. Agora, que ele está mergulhado até o pescoço em denúncias na Lava Jato e que o Aécio e outros do PSDB está na mira das investigações, ninguém quer ter a sua imagem associada a um aliado de Cunha.

Sentindo que a panela de pressão está apitando, aliados de Rosso ligados ao PSD, PP, PR, PTB e outros marcaram um almoço nesta segunda-feira (11) para armar uma estratégia para tentar convencer os candidatos a apoiarem Rosso ou pelo menos retirar a candidatura. Até agora são sete candidatos registrados oficialmente, mas a expectativa é que esse número chegue a 16.

“Fizemos algumas contas. Está difícil, mas vamos ver”, afirmou Rosso na saída do encontro. Já o deputado Paulinho da Força, do Solidariedade, escancarou o problema: “A ideia é trabalhar pela retirada das candidaturas nas próximas horas. Se acontecer, dá até para ganhar no primeiro turno. Mas está difícil convencer os candidatos porque vai ser oferecido o quê? Não tem nem comissão nem cargos para oferecer agora”.

A declaração dos parlamentares da base aliada de Temer reforça o que disse o líder da bancada do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA). De acordo com o deputado, boa parte das candidaturas lançadas servem para moeda de troca no processo de escolha.

O suposto candidato do PSDB nessa disputa é Rodrigo Maria (DEM), que ainda não oficializou sua candidatura. Antes aliados, Rosso resolveu criticar Maia por tentar postular a cadeira da Casa, já que ele foi o escolhido de Cunha e Temer.

Segundo Rosso, Maia está costurando uma “aliança política de difícil explicação” ao buscar apoio de alguns petistas para vencer a disputa pela presidência da Câmara. “Não topo vale tudo, nunca topei. Não pode um vale tudo onde se fecha os olhos, se deixa de ser inimigo. Não dá para acreditar nisso”, bravateou.

Enquanto isso, Temer tem pedido a líderes da base aliada que evitem conflito, visando garantir a paz após a eleição para viabilizar os seus planos no grupo após a eleição. Mas tudo vai depender também do comportamento dos aliados na análise do processo de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O choro de Cunha, pelo que chamou de “ataque à família”, pode virar vingança. Quem acompanha a trajetória de Cunha sabe muito bem onde isso termina.