Imigrantes defendem combate ao trabalho escravo e integração regional  

Começou nesta quinta-feira (7) na capital paulista o 7º Fórum Social Mundial da Migração. O painel de abertura debateu o papel dos imigrantes na construção de novas alternativas de vida nos lugares onde escolhem para viver. A mesa contou com a participação de Marita Gonzalez, cientista política e professora da Universidade de Buenos Aires e de Manuel Hidalgo, economista, presidente da Associação de Imigrantes pela Integração Latino-americana e do Caribe (Apila).

Por Mariana Serafini

combate ao trabalho escravo - FSMM

Apesar da dureza do tema, o evento não perdeu em nenhum momento o tom de festa e resistência. Começou com cumbia colombiana e terminou com música africana, em meio à alegria de povos de todo o mundo que lotavam o auditório, aconteceu ainda um sarau de poesias com artistas de países de todos os continentes.

Entre palestrantes, os dirigentes sociais e os artistas que se pronunciaram uma questão foi unânime: o trabalho escravo cresce e se fortalece à medida que os governos não tratam como deveriam a migração. A degradação do trabalho e a retirada de direitos são os problemas que mais afetam imigrantes em todo o mundo. A organização Feito No Brasil por Imigrantes denunciou a contratação de trabalho escravo em larga escala para a indústria da moda e alegou que este é um dos temas mais graves e mais urgentes com relação à migração também no Brasil.

Não à toa, muitas das poesias apresentadas em português, inglês, francês, espanhol e dialetos africanos tratavam desta questão. Afinal, os artistas são jovens que precisaram deixar seus países por motivos diversos e ao chegar ao destino escolhido foram recebidos com exploração e indiferença. Eles levam de um continente ao outro uma bagagem cheia de sonhos que em pouco tempo, sem o suporte necessário, se transforam em frustração.

Marita enfatizou a questão da identidade do imigrante e a crise de identificação que ele sofre ao ser mal-recebido no destino escolhido. Ela defende que a luta por justiça e direitos aos imigrantes deve ser internacionalista, porque trata, essencialmente, da defesa dos trabalhadores, afinal imigrantes são trabalhadores que buscam condições de vida em outros países. “Devemos trabalhar por um universo único para a livre circulação de pessoas, assim como os capitalistas reivindicam a livre circulação do capital”.

Com relação à integração da América Latina, ela destacou o papel do Mercosul e a Carta de Assunção, documento promulgado em sua fundação, que garante a livre circulação da produção no continente. Marita acredita que, seguindo esta lógica, deve-se garantir a livre circulação dos imigrantes porque são os responsáveis pela produção. “Dentro do Mercosul nosso objetivo é manter intacto e ampliar o direito dos trabalhadores”.

Para a professora, o projeto de integração continental deve se preocupar em garantir direitos, acesso a trabalho digno e serviços públicos a todo cidadão latino-americano. Ela admite que o continente passa por um período conturbado, com o golpe em curso no Brasil e outras tentativas de desestabilização, mas isso não pode ser motivo para aliviar a luta por melhores condições de vida aos imigrantes “Estamos passando por tempos difíceis de retrocesso da democracia e governos que restringem a livre circulação de trabalhadores. É um tempo de resistência e sabemos resistir porque já passamos pelos anos 90”.

O economista Manuel Hidalgo destacou a importância de leis e garantias do Estado mas acredita que a qualidade de vida do imigrante depende essencialmente da vida dele em comunidade. Ele defende que os imigrantes não devem se fechar em “guetos” quando chegam em um novo país, mas fazer justamente o oposto, apresentar sua cultura, suas tradições e sua história aos vizinhos, às organizações sociais de bairro, e tentar se integrar à vida em comunidade através da música, da cultura e dos esportes. “Temos que mostrar que trazemos nosso coração”, afirma ele que é peruano, vive há anos no Chile e passou um tempo também na Argentina, um eterno imigrante.

Para Hidalgo, é fundamental que o imigrante consiga se integrar à sociedade porque além das questões citadas pelos outros participantes, como a falta de acesso a serviços públicos e o trabalho escravo, o imigrante também sofre com a solidão e isso pode prejudicar ainda mais sua adaptação.

Ele ressaltou que normalmente quando uma pessoa decide sair de seu país não o faz porque quer, mas por necessidade. “Porque lhe foi tirada as condições mínimas de sobrevivência”. E ao chegar ao destino escolhido, o imigrante já está em condição de vulnerabilidade, há muitos obstáculos a serem enfrentados, como a barreira do idioma, a descoberta de uma nova cultura, de novos hábitos sociais. Por isso, é importante desenvolver um sistema educacional “supracultural”, acredita. Cujo objetivo seria fazer cada pessoa se reconhecer com suas próprias raízes e história e reconhecer umas às outras.

O Fórum Social Mundial das Migrações acontecerá na capital paulista até domingo (10), quando encera com a participação do secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper.