Thiago Cassis: O Atlanta de Villa Crespo

O Clube Atlético Atlanta, argentino de Buenos Aires, foi fundado em 1904 e começou a disputar os campeonatos de futebol em 1906.

Por Thiago Cassis

Atlanta: A sede do clube de Buenos Aires na rua Humboldt, 540 - Thiago Cassis

Depois de uma longa andança atrás de uma sede fixa, o que valeu ao clube apelido de “bohemios”, por acordar cada dia em um lugar, o Atlanta acabou criando raízes em Villa Crespo. Bairro conhecido por ser o, ou “um dos”, berços do tango, e por abrigar grande parte dos judeus que chegavam à Argentina, provenientes, principalmente, do leste europeu. Por isso também é chamado de “Villa Kreplaj”, em alusão ao prato da culinária asquenaze, que se assemelha ao ravióli italiano.

O Atlanta pelos muros de Vila Crespo (Foto: Thiago Cassis)

No período amador do futebol argentino, que durou até 1930, o Atlanta disputou sempre a primeira divisão, chegando a ficar em quarto lugar em 1920. Já no profissionalismo, a equipe repetiu o quarto lugar em 1958 e 1961, porém não disputa a primeira divisão desde 1984. Em 1969 chegou ao vice-campeonato da Copa Argentina, sendo derrotado pelo Boca Juniors na final.

Após a queda de Perón, o clube passou a ser perseguido pelas autoridades por suas fortes ligações com o justicialismo. Em 1955 o clube teve seu estádio fechado por más condições de manutenção, e segundo dirigentes e torcedores mais antigos do clube, outras equipes com condições semelhantes em suas canchas não sofreram a mesma punição.

O fato do clube estar sediado em um bairro de origem judaica também pode ter sido um dos motivos da perseguição, no mesmo período em que teve seu estádio interditado, eram distribuídos por Buenos Aires panfletos antissemitas por parte de grupos católicos nacionalistas de direita.

Atlanta e seu grande rival Chacarita Jrs. na mesa de pebolim do Café San Bernardo, Av. Corrientes 5436. (Foto: Thiago Cassis)

Depois da reforma, o estádio teve permissão para ser reaberto, mas o fechamento reacendeu um antigo sonho do Atlanta, ter um novo e maior estádio. Então em 1956, animado pelo retorno à Primeira Divisão, depois de quatro anos na segunda, o projeto do estádio é retomado. Em 1960 inauguram seu estádio.

Um dos grandes responsáveis pela construção do novo estádio e da nova sede, León Kolbovsky, presidiu o clube durante os principais anos do Atlanta, no final dos anos 50 e durante a década de 60. O presidente, membro da colônia judaica de Villa Crespo, era também um famoso militante comunista da capital argentina.

Partida entre Atlanta e Barracas Central pelo Campeonato Argentino da B Metropolina (Clausura 2016) no Estádio Don León Kolbowsky. Foto: Thiago Cassis

Partida entre Atlanta e Barracas Central pelo Campeonato Argentino da B Metropolina (Clausura 2016) no Estádio Don León Kolbowsky. Foto: Thiago Cassis

Hoje a equipe está na Primeira B Metropolitana, algo como a Série C no Brasil e o estádio hoje em dia se chama Don León Kolbovsky, em homenagem ao lendário presidente comunista do clube.

 

Andando pelas ruas de “Villa Kreplaj” é perceptível o quanto bairro veste as cores do clube. O que se repete em outros bairros de Buenos Aires, como Boedo com o San Lorenzo ou o Mataderos com o Nueva Chicago. Porque isso não acontece da mesma forma em São Paulo (apenas o Juventus, na Moóca, manteve essa relação com seu bairro de origem) é algo que pensei muito enquanto me deparava com os muros azuis e amarelos de Villa Crespo, mas isso é tema para outro texto.

Para saber mais sobre a história do bairro e do clube, “Los Bohemios de Villa Crespo” é uma ótima dica!