Lu Castro: A sororidade e a volta de Daniela Alves

No dia 14 de março de 2015 foi aberto oficialmente o ano do futebol feminino no Museu do Futebol. Arrisco esta afirmação por uma razão bastante concreta: a partir da referida data, o espaço e a agenda do Museu do Futebol estiveram amplamente ocupados pela modalidade. Um acontecimento que estreitou laços, reaproximou atletas, levou ao conhecimento de muitas pessoas aspectos próprios do futebol das mulheres e, fundamentalmente, a história construída por elas até então.

Por Lu Castro*

Formiga e Daniela Alves - Lu Castro

Graças a ações como as do Museu do Futebol e, posteriormente, ao Sesc, que tratou a modalidade com muito carinho quando abordou o tema na exposição “O Futebol Delas – 20 anos de futebol feminino nos Jogos Olímpicos”, foi possível o resgate da história de atletas cujo papel foi essencial nas principais conquistas da seleção brasileira.

Minha afirmação é fundamentada em meu testemunho da volta à ativa de uma das atletas mais importantes do futebol brasileiro: Daniela Alves.

Dani Alves debutou na seleção brasileira nas Olimpíadas de Sidney, o segundo torneio de futebol feminino dentro dos Jogos. Em 2002, disputou o Mundial Sub19 do Canadá ao lado de Marta e Cristiane. Sua primeira Copa do Mundo foi a de 2003, nos Estados Unidos. No ano seguinte, Dani integrou a equipe comandada por René Simões, medalha de prata em Atenas.

Em 2007, na Copa do Mundo da China e com uma campanha impecável, a seleção ficou com o segundo lugar. Em sua última participação olímpica em Pequim, Daniela conquistou mais uma medalha de prata.

Este é um apanhado raso da carreira da volante, que se encerrou em 2009 graças a uma entrada criminosa da atacante norte-americana Abby Wambach. A lesão afastou Dani dos campos por muitos anos, e não só da atividade de atleta como também de seu contato com a modalidade.

Foi no dia 26 de setembro de 2015 que o resgate de Dani começou a acontecer, mais especificamente no 6º Encontro do Ciclo de Debates organizado por mim, Juliana Cabral e René Simões, e que o Museu do Futebol abraçou com todo entusiasmo. Dani foi a convidada para contar um pouco da sua história (assim como fizemos com Daiane Bagé, Emily Lima, Roseli de Belo, Ita Maia e Leda Maria) e a partir de então o contato com Dani se tornou mais efetivo.

Daniela Alves deixou o trabalho no açougue da família e começou a dar aulas de futebol numa escola perto de sua casa. Dani voltou a se envolver com o que mais ama na vida. Dani esteve presente na exposição do Sesc, indo várias vezes para matérias para a TV, com sua turminha da escola e fazendo clínicas.

Nesta última sexta-feira realizei um sonho pessoal. Numa visita à concentração da seleção em Itu, Daniela foi convidada para participar do treino. Vê-la jogando ao lado de Cristiane, Formiga e Bárbara, não me deixou apenas feliz, me fez acreditar mais ainda que pequenos gestos, pequenas gentilezas e demonstrações de respeito e carinho, podem operar milagres nas vidas das pessoas.

Mais que ver o brilho nos olhos da Dani ao fazer o que mais ama na vida, pude confirmar que a sororidade também deve passar dentro dos campos de futebol. O coletivo feminino da bola carece de mais irmandade, carece de mais união na busca da melhoria contínua das condições para as mulheres futebolistas.

Poder fazer parte deste elo é uma das minhas realizações de vida. Poder experimentar um pouco disso fortalece a luta e nos brinda com imagens como esta, que tive o prazer de fotografar, cujo peso histórico está comprovado na trajetória das duas atletas.

Que bom que a temos de volta, Daniela!