GGN: Lava Jato atingiu ápice nas semanas que antecederam o impeachment

Levantamento do GGN mostra que o núcleo da Lava Jato em Curitiba nunca teve tanto destaque no noticiário como nas semanas que antecederam a votação do impeachment na Câmara. Coerção de Lula, delação de Delcídio e vazamento de áudio da presidenta eleita ajudaram a criar o clima para o afastamento.

Lava Jato reprodução GGN - Reprodução GGN

Uma pesquisa sobre o impacto da Lava Jato no noticiário nacional mostra algumas diferenças no modus operandi junto à imprensa dos núcleos da operação concentrados em Brasília – sob o comando do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – e em Curitiba – com destaque para os despachos do juiz federal Sergio Moro.

Um vôo sobre todas as capas da Folha de S. Paulo no último um ano e meio mostra que o esforço da Lava Jato em Curitiba para emplacar manchetes bombásticas teve como alvo preferencial, num primeiro momento, as maiores empreiteiras do país e seus dirigentes e, num segundo, Dilma Rousseff, Lula, PT e seus aliados. Enquanto isso, o núcleo que cuida dos inquéritos contra políticos tentou mostrar imparcialidade mirando em vários partidos, mas provocou estragos maiores na cúpula do PMDB.

Um primeiro levantamento feito pelo GGN, de 1º de janeiro a 25 de junho de 2016, mostra que nunca a Lava Jato teve tanto destaque no noticiário produzido pela Folha como nas semanas que antecederam a votação do impeachment de Dilma na Câmara.

Vejamos os números:


Análise feita de 1º de janeiro a 25 de junho de 2016. Fonte: Folha de S. Paulo

A tabela acima mostra que em março de 2016 a Lava Jato foi responsável por 10 capas da Folha, todas mirando em Dilma, Lula e PT de alguma maneira. Inquéritos contra Lula em São Paulo, a respeito do sítio em Atibaia e o triplex no Guarujá, renderam outras três capas, totalizando 13 de 31 edições. A título de comparação, o primeiro recorde da Lava Jato no último um ano e meio se deu em novembro de 2015, com 11 capas estritamente ligadas à operação, mas com alvos diversos e sem ônus comparável a março/2016 para Dilma ou Lula.

O ápice da Lava Jato em Curitiba

Do total de 10 capas da Lava Jato em março/2016, a equipe de Curitiba é responsável por 8 delas. Todas muito bem orquestradas para criar o clima necessário ao impeachment. Denúncias sobre suposta obstrução da Justiça (delação de Delcídio), caixa 2 na campanha de reeleição (inquérito contra João Santana) e a investida contra Lula (condução coercitiva, vazamento de conversa com Dilma e impedimento de assumir a Casa Civil) levaram Dilma e Lula para o olho do furacão, e colocou a legitimidade da presidenta eleita em xeque.

O impacto do noticiário anti-PT foi tão grande que foi neste mês que a Folha registrou seu recorde de acessos no site, no mesmo dia em que Lula foi levado para depor no aeroporto de Congonhas.

Abaixo, uma análise das principais manchetes produzidas ao longo de março de 2016 pela Folha.




A hora do show para Janot

Pela primeira tabela, é possível visualizar um momento de destaque para a equipe de Janot no primeiro semestre de 2016.

O espetáculo se deu no começo de maio e aumentou em junho, com o vazamento da delação premiada de Sergio Machado, que atingiu em cheio a cúpula do PMDB.

Os escândalos revelados – incluindo conversa entre Machado e Romero Jucá sobre o plano para tirar Dilma do poder e frear a Lava Jato – tiveram de disputar espaço com a votação do impeachment e seus desdobramentos e, por isso, o volume emplacado em termos de capas na Folha não foi tão grande em maio. Mas das 5 capas do mês, 4 foram de notícias subsidiadas pela delação de Machado à PGR.

Em junho, com Michel Temer já no cargo de presidente interino da República, o número de capas sobre a Lava Jato voltou a crescer: foram 8 (até o dia 25 de junho), sendo que 6 delas são fruto de trabalho do núcleo sob Janot. O próprio interino foi citado nas delações. Três ministros já cairam, e caciques do PSDB também foram atingidos, numa tentativa de Janot de mostrar isenção – um diferencial em relação a Curitiba, que continua mirando no PT com denúncias de caixa 2 nas campanhas presidenciais e favorecimento a Lula.

Comparação

Em última análise, é possível observar que a sanha do grupo de Curitiba para ocupar as páginas de jornais com periodicidade quase diária é tão grande que faz parecer a “colaboração” da força-tarefa em Brasília pontual e relativamente tímida em relação a números.

Em relação ao peso do conteúdo dos vazamentos que ocorrem no andar de cima, contudo, a Lava Jato sob Janot já provou seu potencial com a dança das cadeiras no governo do interino Temer e com o afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara.

O GGN analisa em próxima reportagem a Lava Jato ao longo de 2015, quando a PGR brilhou em dois momentos iniciais: com a lista de Janot e com as contas de Eduardo Cunha na Suíça.